Raquel Almeida Correia, Luís Villalobos e Pedro Crisóstomo - Público, com imagem
Negócio irá criar
nova empresa controlada em partes iguais pela empresária angolana e pelo maior
grupo privado português. A operação depende apenas dos restantes accionistas da
Zon.
O noivado foi
longo, mas parece que é desta que a Optimus e a Zon vão partir para uma fusão
sobre a qual se especula desde 2007. Se o negócio se concretizar, com a
necessária aprovação dos accionistas da empresa liderada por Rodrigo Costa,
nascerá um novo operador com mais de cinco milhões de clientes e uma facturação
superior a 1,4 mil milhões de euros.
O anúncio foi feito
na sexta-feira, ao final do dia, pela Sonaecom (dona da Optimus e do PÚBLICO) e
por Isabel dos Santos, filha do presidente de Angola, que controla 28,8% da Zon
(através da Kento e da Jadeium). O projecto será agora analisado pelos
conselhos de administração das duas empresas e levado a assembleia geral, onde
a empresária deverá garantir luz verde à operação.
Se assim for,
Sonaecom e Isabel dos Santos vão criar um veículo financeiro, detido em partes
iguais, que passará a controlar a empresa nascida da fusão entre a Optimus e a
Zon. Neste veículo entrará a totalidade da participação que a empresária detém
nesta última operadora e uma "parcela substancial" dos 100% que a
Sonaecom tem na Optimus. O equilíbrio de forças entre as duas partes foi o
culminar de vários meses de negociações e um factor decisivo para um
entendimento que irá ter reflexos ao nível da gestão da empresa que vier a
surgir.
O negócio que será
apresentado aos restantes accionistas da operadora liderada por Rodrigo Costa
pressupõe "uma relação de troca baseada numa valorização da Zon
correspondente a 150% da Optimus". Os impulsionadores da fusão mostram, no
entanto, disponibilidade para considerarem uma alteração destes termos, de modo
a concretizar a operação.
Se tudo correr como
previsto - e embora assumam uma posição de controlo na nova empresa que vier a
surgir -, a Sonaecom e Isabel dos Santos irão pedir ao regulador do mercado de
capitais para serem dispensados do lançamento de uma oferta pública de
aquisição (OPA) sobre o restante capital. Isto por se tratar de uma fusão entre
duas entidades.
A união da Optimus
e da Zon criará um novo operador em Portugal, com uma facturação conjunta
superior a 1,4 mil milhões de euros, tendo em conta os resultados das duas
empresas em 2011. Nesse ano, a operadora do grupo Sonae alcançou receitas de
574,7 milhões, enquanto a Zon gerou 854,8 milhões. Já os lucros somados das
duas atingiram 162,7 milhões de euros em 2011. E, nos primeiros nove meses
deste ano, acumulavam mais de cinco milhões de clientes.
Mais concorrência
A junção de forças criará sinergias que vários analistas têm calculado em cerca de 300 milhões de euros. A Optimus está mais focada no serviço de telecomunicações e ganhou este ano uma licença para a quarta geração móvel. Já a Zon opera nas áreas de televisão por subscrição e banda larga fixa. Uma complementaridade que permitirá ao novo operador competir de forma mais musculada com a PT.
De acordo com o
comunicado ontem divulgado, a Sonaecom e Isabel dos Santos acreditam que haverá
um "maior potencial para intensificar os níveis de concorrência entre
operadores". A nova entidade irá, da mesma forma, ver reforçada a sua
capacidade de investimento para novos produtos ou mercados, com especial
atenção para os países emergentes.
Neste momento, a
empresária já detém a maioria do capital da Zap, empresa de TV paga que opera
em Angola, em parceria com a Zon. Isabel dos Santos também lidera uma joint-venture
com a Sonae, que irá levar os hipermercados Continente para aquele país.
Os rumores sobre
este "casamento" começaram em 2007, depois de ter falhado a OPA da
Sonae sobre a PT. Apesar do fracasso da operação, a empresa liderada por Zeinal
Bava teve de avançar para um processo de cisão que deu origem à empresa que
viria a chamar-se Zon.
Em Setembro deste
ano, a especulação voltou a ganhar fôlego, quando o presidente executivo da
Optimus, Miguel Almeida, veio dizer que o negócio "fazia sentido",
acrescentando que "um novo conjunto de condições está reunido e poderá
ajudar a que a fusão aconteça". O gestor referia-se ao reforço de poderes
de Isabel dos Santos na Zon. Desde o início deste ano, a empresária foi-se
sucessivamente posicionando como maior accionista da operadora presidida por
Rodrigo Costa. O primeiro reforço aconteceu em Maio, depois de os accionistas
da empresa terem aprovado o fim das restrições de votos, que estavam limitados
a 10% (independentemente do seu peso). Isabel dos Santos começou por comprar a
posição da Telefónica (cerca de 5%).
Nos meses
seguintes, acordou a aquisição das acções da Cinveste (2,82%) e depois as da
Caixa Geral de Depósitos (10,96%). E, com isto, passou a deter 28,8% da Zon.
Apesar desta investida, o capital da empresa continua muito disperso, o que
significa que Isabel dos Santos terá de contar com o apoio de outros
accionistas para concretizar o acordo com a Sonaecom.
Uma questão que, à
partida, não será um problema, visto que parece haver uma predisposição para a
fusão. A Visabeira, que detém 2,15% da Zon, é favorável à união com a Optimus.
O presidente executivo do grupo de Viseu afirmou ao PÚBLICO que "tudo o que
seja criar valor para o accionista é útil e positivo", acrescentando que a
operação "será vantajosa, nomeadamente para a Zon".
Joe Berardo, que
detém 5,63% do capital da empresa, disse ontem ao Dinheiro Vivo que o acordo de
fusão anunciado "é uma boa notícia para o final do ano", desde que
"seja ao justo valor para todos e não haja conflitos de interesses entre
os accionistas". Não foi possível obter um comentário do BES, nem do BPI,
dois accionistas de peso da Zon que estarão interessados em ver o negócio avançar.
Isabel dos Santos
é, aliás, a segunda maior accionista do BPI, com 19%, após ter elevado a sua
posição este ano, ao comprar parte das acções que os espanhóis do La Caixa adquiriram ao Itaú. Em
Portugal, a empresária acompanhou ainda, ao lado da Sonangol e de Américo
Amorim, o reforço da posição na Galp, detendo hoje, indirectamente, 7,75% da
petrolífera portuguesa.
Também o BIC, onde
detém 25% do capital, deu em 2012 um salto no sector financeiro, com a compra
do BPN ao Estado português. Se em Portugal o principal concorrente da Zon é a
PT, em Angola Isabel
dos Santos é parceira da empresa liderada por Zeinal Bava, através da operadora
Unitel.
Sem comentários:
Enviar um comentário