Depois de anos de
deliberação e lobby dos bancos internacionais, o Comitê de Supervisão Bancária
de Basileia (BCBS, no original inglês), encabeçado pelo diretor do Bank of
England, Mervyn King, anunciou as regras para garantir que a quebra bancária
como vivenciamos entre 2007 e 2009 não se repita. A solução proposta foi um
"índice de cobertura de liquidez" que, se supõe, assegurará que os
bancos tenham dinheiro e ativos líquidos suficientes para coibir qualquer colapso.
O artigo é de Michael Roberts.
Michael Roberts (*) - Carta Maior
O sistema bancário
global está de volta aos negócios como sempre. Depois de anos de deliberação e
lobby dos bancos internacionais, o Comitê de Supervisão Bancária de Basileia
(BCBS, no original inglês), encabeçado pelo diretor do Bank of England, Mervyn King,
anunciou as regras para garantir que a quebra bancária como vivenciamos entre
2007 e 2009 não se repita.
E o que sugeriu o Comitê da Basileia (representando 27 centros financeiros ao
redor do mundo) como solução? Um então chamado índice de cobertura de liquidez
(LCR, liquidity coverage ratio, no inglês) que, se supõe, proverá um limite de
alavancagem (benchmark) para assegurar que os bancos tenham dinheiro e ativos
líquidos suficientes para coibir qualquer colapso no valor dos ativos ou
empréstimos que os mesmos bancos tenham em seus cadastros.
O índice é um suplemento para aumentar os índices de capital mínimo que os
bancos devem ter (mais investimentos em capital em relação aos empréstimos e
investimentos de risco). Mas a proposta final do Comitê simplesmente dá aos
bancos tudo que querem. Aparentemente bancos podem continuar comprando ativos
podres como se fossem títulos hipotecários e ações e chamá-los de investimentos
seguros; além do montante de ativos líquidos, como o dinheiro que os bancos
devem manter em seus caixas, ter sido drasticamente reduzido em relação com as
propostas originais. E o LCR não precisa ser aceito totalmente até 2019! Quem
sabe o estado em que a economia mundial e sistema bancário vão estar por lá.
Como um analista bancário assim colocou: "Isto é muito mais favorável para
a Indústria que eu e o mercado estávamos esperando. As mudanças para a
definição dos ativos e cálculos de fluxo de saída em particular parecem uma
enorme suavização de abordagem". As condições foram suavizadas de tal
maneira que a maioria dos bancos internacional ja atingiram a LCR e a taxa de
capital prevista. O Comitê da Basiléia apenas endossou a condição atual dos
bancos, e ainda deu aos bancos que ainda não cumpriram as metas outros sete
anos para fazê-lo. Assim, o risco de colapso financeiro, portanto, não foi
realmente reduzido. Na verdade, os bancos estão voltando aos seus maus habitos,
em 2011 aumentaram seus investimentos em ações e titúlos com péssima cotação em
74%, enquanto seguram os empréstimos para companhias de recursos necessários
para investimentos e familias que necessitam de hipotecas.
Matt Taibbi, recentemente, em um excelente
artigo na Rolling Stone, resumiu a forma como os bancos foram socorridos
pelos contribuintes ao redor do mundo, levando os indices de endividamento dos governos
à níveis do período pós guerra. Como Taibbi diz, os politicos e os banqueiros,
só para começar, conspiram para mentir sobre o tamanho da crise; depois
mentiram sobre o tamanho do resgate necessário, de como os resgates iriam
restaurar o crédito bancário para as famílias e empresas, como os bancos
estavam saudáveis, além de mentirem sobre a redução do bônus para o alto
escalão dos bancos e, finalmente, mentiram dizendo que quaisquer resgates
seriam temporários.
Os Estados capitalistas comprometeram seus eleitores a garantir permanentemente
que os bancos serão resgatados e receberam apoio em qualquer circunstâncias - e
os bancos permaneceram em mãos privadas. "Tudo isso - a vontade de chamar
os bancos quase falidos de saudavéis, os testes de estresse falsos, a
incapacidade de fazer cumprir as regras de bônus, a aparente indiferença à
divulgação pública, para não mencionar a falta chocante de investigações
criminais de fraude, cometidas antes da crise, pelos beneficiários dos resgates
- compreendeu um resgate maior e custoso a todos "(Taibbi). Posso, ainda,
adicionar o subsequente escândalo da fixação da taxa Libor; a lavagem de
dinheiro do cartel mexicano de drogas, a quebra das sanções contra o Irã, e as
perdas nas pensões pessoais e seguros (veja esses outros texto de Michael
Robertshttp://thenextrecession.wordpress.com/2012/11/19/marx-banking-firewalls-and-firefighters,http://thenextrecession.wordpress.com/2010/09/15/banking-as-a-public-service/).
E agora nós temos o Comite da Basiléia basicamente concordando em permitir os
bancos efetivarem o seu antigo modo de negocios (Business as usual) em troca de
fazerem mudanças mínimas em seus padrões de probidade até 2019. Não é de se
admirar que Taibbi resume o socorro aos banqueiros como a construção de um
"sistema bancário que discrimina os bancos regionais, fazendo com que
bancos 'grandes demais para quebrar' fiquem ainda maiores e fortes, sistema que
aumenta riscos, desencoraja empréstimos relevantes e dirimindo poupanças por
fazer ainda mais fáceis e lucrativos a busca investimentos de alto-rendimento
ao invés de competir por pequenos poupadores".
Isto é, nada mudou lá, afinal.
Tradução: Mailliw Serafim e Caio Sarack
(*) Publicado originalmente no blog do autor.
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