quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Documento do FMI “é o prolongamento e o exagero de tudo o que foi feito até agora”




Ana Tomás – Jornal i

António Barreto considera que começar a discussão sobre a reforma do Estado social com base no relatório elaborado pelo FMI é “muito negativo” e “um prolongamento e exagero” do que já foi feito.

Em entrevista à RTP, o sociólogo afirmou que “começar uma discussão nestes termos é muito negativo” e que a lógica do documento do FMI “é o prolongamento e o exagero de tudo o que foi feito até agora”.

Para António Barreto estão correr-se vários riscos, até porque, diz, muitas das medidas contidas no documento são inconstitucionais. “O FMI tem responsabilidades internacionais, não se pode permitir propor num estudo medidas puramente inconstitucionais. É uma discussão que já está minada”, sublinhou.

Outra das críticas que aponta ao relatório é o facto de este não referir qual o objectivo das propostas, que tipo de Estado pretende criar. “A reforma deve ser um conjunto de meios para alcançar um fim, um objectivo. Esse objectivo não está definido”, argumenta, apesar de ressalvar que é necessário reformar o Estado e que essa discussão devia ter sido feita há mais tempo.

“Acho que já devíamos ter começado a reformar o Estado há 10 anos. Discutir qual é o Estado que se pretende”, defendeu, esclarecendo que concorda com muitas das medidas impostas no memorando e que houve resultados positivos na governação do executivo liderado por Passos Coelho, como a descida dos juros da dívida.

Apesar disso, António Barreto assume que “2013 vai ser um ano mau” para os portugueses e que o país vai “ viver mal durante alguns anos, mesmo sem a troika. Esta crise vai deixar sequelas mais fundas durante alguns anos”, alertou sociólogo.

Em matéria de inconstitucionalidade, o sociólogo disse que considera algumas medidas do Orçamento do Estado para 2013 inconstitucionais, como o corte das pensões e a diferença entre privados e públicos. “Nós vivemos em ‘regabofe’ constitucional há muitos anos”, afirmou. Porém, ressalvou que a Constituição está desactualizada e que PSD e PS deviam convergir na sua revisão.

Ainda assim, António Barreto admitiu não entender que o Presidente da República tenha promulgado um documento que continha medidas que suscitavam dúvidas sobre a sua constitucionalidade e não tivesse pedido a fiscalização preventiva.

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