LA
TRIBUNE, PARIS – Presseurop – imagem Hajo
Uma semana após o
lançamento das operações contra os islamitas que controlam o Norte do Mali, as
tropas francesas continuam a ser as únicas forças ocidentais no terreno. Mas os
Vinte e Sete, que renunciaram a uma capacidade militar comum, estão presentes
mais discretamente, noutras frentes.
A União está
praticamente no banco dos réus, por estar ausente, sem reação perante a crise,
inútil mais uma vez e sempre, e a França estaria sozinha! A análise objetiva da
situação contradiz tais afirmações, nos campos político, financeiro e
humanitário, embora, entretanto, seja de assinalar um verdadeiro fracasso: o da
Política Europeia de Segurança e Defesa.
O que se passou
desde que se soube da operação Serval? A União organizou reuniões de crise,
para ajustar o calendário e as ações do processo europeu para o Mali, decidido
pelos 27, em especial a missão EUTM Mali. A reunião dos
ministros dos Negócios Estrangeiros, que se realizou em Bruxelas, em 17 de
janeiro, foi o seguimento e a demonstração desse compromisso da União Europeia,
solidária com a França quanto ao Mali. Pelo menos política e simbolicamente.
No concreto, a
União dará o seu apoio financeiro, designadamente à MISMA – a Missão
Internacional de Apoio ao Mali, composta essencialmente por forças africanas,
posicionada no Mali – da CEDEAO [Comunidade Económica dos Estados da África
Ocidental], para financiar os salários dos soldados africanos.
Consenso hesitante
mas europeu
No entanto, o Mali
vem confirmar a dificuldade de aplicação da Política Externa e de Segurança
Comum. Instituída pelo Tratado de Maastricht, em 1993, a PESC poderia
"conduzir, no momento oportuno, a uma defesa comum". Em 1999, a
cimeira de Helsínquia precisou que a União Europeia devia, até 2003, estar em
condições de posicionar até 60 mil homens, no prazo de 60 dias, graças a meios
aéreos e navais.
Desde então, a
União tem tido dificuldade em reunir forças operacionais dessa dimensão. Em
2004, a Conferência de Empenhamento de Capacidades no Domínio Militar
apresentou o conceito de agrupamentos táticos de 1500 homens, que permitiriam à
Europa responder mais rapidamente às
situações de crise. Uma das principais ambições militares da UE era dispor
de capacidade de reagir depressa e eficazmente, nas zonas de conflito situadas
fora da União.
Portanto, é verdade
que, no caso do Mali, uma força europeia teria podido intervir no terreno,
estabelecendo a marca diplomática e militar da União. Estamos perante uma
crise, fora do território dos Vinte e Sete, uma crise em curso num país situado
a menos de seis mil quilómetros de Bruxelas, uma crise que, à partida e para a
maioria da comunidade internacional, com um consenso hesitante mas europeu
real, torna necessária uma intervenção rápida, antes de esta ser confiada a
outra força de tipo africano e regional.
Sem rostos e sem
voz própria
Não foi nada disso
que aconteceu. E, como é hábito, o mundo mediático e político e os próprios
cidadãos apontam o dedo acusador a Bruxelas. A França está sozinha. Não existe
uma Europa da defesa, uma Europa do terreno, não há unidade diplomática real. Contudo,
não é em Bruxelas que devemos procurar a razão desta divisão de tarefas: é no
centro da jurisdição dos países que detinham a responsabilidade pelo
agrupamento tático. Ou seja, não por ordem especial, a França, a Alemanha e a
Polónia. A França decidiu agir sozinha e, segundo parece, não pediu nada a
ninguém. Por outro lado, para Berlim, e mais ainda para Varsóvia, o Mali é
visto como um assunto muito francês e o investimento não promete grande
retorno.
O desafio é de
peso. Tem a ver com força diplomática real da União e é visível que Catherine
Ashton tem dificuldade em firmar o seu lugar. A Europa diplomática e militar
enfrenta sérios problemas. No entanto, repita-se, a União Europeia empenha-se
na crise, como já fez nos casos da Somália e da Palestina. A França não está
sozinha no Mali. Demasiado discreta, com uma arquitetura institucional complexa
e incompreensível, sem rostos e sem voz própria, a União encoraja os argumentos
fáceis vindos dos Estados-membros.
Trabalha no
terreno, financia, envolve-se, mas perde a batalha na frente mediática e não é
capaz de ultrapassar as suas divisões na aplicação de uma política de segurança
e de defesa comum estratégica e operacional. Uma diplomacia suave, económica,
cultural, educativa, mediática, desportiva... não pode viver sem uma relação
forte, totalmente integrada numa diplomacia dura, militar e financeira e na sua
irmã mais nova do século XXI, a ciberdiplomacia, hoje plenamente dominada pelos
EUA. A Europa unida será mais europeia também na defesa e na segurança.
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