O jornalista
chileno Patricio Mery alertou às autoridades equatorianas, nesta sexta-feira,
para um plano da Agência
Central de Inteligência norte-americana (CIA, na sigla em inglês) para
assassinar o presidente do Equador, Rafael Correa. A medida seria em retaliação
ao fechamento de uma base dos EUA naquele país, que existiu até 2009, e por dar
asilo ao jornalista australiano Julian Assange, diretor do sítio WikiLeaks, na
internet.
O repórter
apresentou suas pesquisas ao ministro das Relações Exteriores do Equador,
Ricardo Patiño, e promoveu uma conferência com jornalistas nesta capital. À
agência latino-americana de notícias Andes, Mery revelou detalhes do trabalho
de apuração realizado ao longo dos últimos cinco anos.
Sua pesquisa abre
várias frentes de investigação e detalha as relações de autoridades chilenas
com a CIA.Ele
organizou um roteiro que se repete em vários países da região. A
agência norte-americana, com o apoio de autoridades do governo chileno, promove
a entrada de drogas produzidas no Equador, cerca de 200 quilos de cocaína por
mês, a fim de gerar dinheiro sujo: chega no Chile segue para a Europa e os
Estados Unidos. Do dinheiro gerado, uma parte permanece no Chile “e me disseram
as fontes que este dinheiro é destinado a desestabilizar o governo do
presidente Correa”, afirma o jornalista.
Mery comprova as
informações passadas ao governo equatoriano com uma denúncia, feita no Chile,
pelo inspetor Fernando Ulloa, após reunião com ministro do Interior da época,
Rodrigo Hinzpeter, ao qual apresentou um dossiê com todos os fatos e nomes dos
líderes do PDIs (Polícia de Investigações, na sigla em espanhol) envolvidos com
o tráfico de drogas, incluindo Luis Carreno, “que aponto como um agente da CIA
e que agora trabalha como inspetor área de Arica e integra o alto comando do
PDI. Após a denúncia, a única medida tomada foi afastar o denunciante, Fernando
Ulloa, de suas funções.
A apuração do
jornalista começou quando ele suspeitou da corrupção nos meadros policiais de
seu país e um agente da Agência Nacional de Inteligência (ANI) confirmou-lhe
que a droga serviria para abastecer financeiramente um plano de
desestabilização do presidente Correa, por dois motivos: o líder equatoriano
havia fechado a base de Manta e concedido asilo a Julian Assange, que pode ser
condenado a morte se for extraditado de Londres, onde se encontra, para os EUA,
por vazar informações de segurança nacional sobre os norte-americanos. A partir
dessa perspectiva Correa tornou-se também um alvo da CIA. A agência, com base
em Langley, no Estado da Virgínia, atua em paralelo ao governo dos EUA e aplica
suas próprias regras nas ações daquele país em território estrangeiro.
No relatório
entregue ao governo equatoriano, Mery afirma que algumas fontes lhe permitiram
revelar seus nomes:
– Minhas fontes
são: Hector Guzman, Fernando Ulloa, um terceiro membro da Polícia de
Investigações que prefiro não revelar ainda seu nome porque sua vida está em
perigo no Chile e há uma quarta fonte, que é o agente da ANI. Reúno também
documentos histórico e fatos devidamente checados, como a reunião com o ministro
Rodrigo Hinzpeter, que atualmente é o ministro da Defesa no meu país – relatou.
O ministro
Hinzpeter esteve envolvido em quatro “armações” no Chile: no primeiro caso, que
o liga diretamente com a CIA, um paquistanês chamado Saif Khan é chamado à
embaixada dos EUA e dizem que vão lhe arranjar um emprego. Eles o deixaram
trancado em um quarto e, ato seguinte, entra Grupo de Operações Especiais da
Polícia (OGPE, na sigla chilena) e o levam preso.
– O homem não sabia
de nada, é paquistanês e espero que saiba falar Inglês. Ele é acusado de ter
traços de TNT (explosivos), ou seja, como se tivesse entrado com uma bomba na
embaixada. A operação foi coordenada por um agente da CIA chamado Stanley Stoy,
que ordena à polícia de investigações para que faça uma incursão na casa de
Saif Khan, o que é irônico, porque a Polícia Nacional não pode receber ordens
de um policial estrangeiro. Em seguida, descobriu-se que o jovem Saif Khan não
tinha nada a ver com o que o estavam acusando, mas a parafernália serviu para
mostrar como o país auxilia os EUA na luta contra o terrorismo no mundo. No
Chile, temos um quadro onde podemos ver que as autoridades mais altas estão
ligadas à CIA e à extrema-direita norte-americana – disse.
Um outro escândalo
denunciado a Portiño mostra que Rubén Ballesteros, presidente do Supremo
Tribunal Federal (STF), foi o juiz que participou dos conselhos de guerra da
ditadura de Augusto Pinochet e ordenou o fuzilamento de prisioneiros.
– Ele é acusado de
violação dos Direitos Humanos e mantém ligações estreitas com a direita dos EUA
– acusa o jornalista.
Ainda segundo o
relatório de Mary, Sabas Chahuán, procurador-geral da República (PGR), quem
deve investigar os crimes no país, “tem uma relação estreita com o FBI através
de um acordo firmado com os EUA, depois da prisão de Saif Khan”. De acordo com
documentos apresentandos pelo jornalista, com base na prisão arbitrária foi
criado um programa chamado LEO, o qual permite que os norte-americanos obtenham
qualquer informação acerca dos cidadãos chilenos.
– E tudo o que o
FBI sabe, a CIA sabe também – presume.
Chahuán teria
recebido ordens da Embaixada dos EUA no Chile para criar essas “armações”,
denuncia Mary.
– Com tudo o que eu
disse, mais o que disseram as fontes e provam os documentos e fatos, há uma
estrutura que nos permite dizer que a CIA coordena as políticas daquele país
com o exterior – garantiu.
Drogas contra o
socialismo
As ligações entre a
CIA e o governo chileno, segundo as denúncias, permitem que a agência
norte-americana monitore a situação política no pais vizinho. No Equador, o
presidente é socialista e tem um dos mais altos índices de aprovação popular.
– Nossas fontes
afirmam que a droga traficada para fora do Chile destina-se a desestabilizar ou
até matar o presidente Correa. Por quê? Porque quando um presidente passa em um
mês de 60% de aprovação pública para 80%, de acordo com pesquisas divulgadas
nesta quinta-feira, e reúne todas as condições para vencer as eleição no
Equador, a única maneira de tirá-lo do caminho é por meio de um assassinato –
afirmou.
Embora não acuse
diretamente o governo do presidente Barack Obama de participar do plano para
matar um colega sul-americano, “parece uma atitude muito suspeita da CIA e
temos as provas que definem as relações entre a CIA e o governo do meu país. O
presidente Sebastián Piñera é filho de José Piñera, que foi embaixador do Chile
nos Estados Unidos. Ele também é irmão de José Piñera, que foi ministro do
(ditador Augusto) Pinochet”.
Em 1980, lembrou,
“o presidente Piñera faliu o Banco de Talca. Ele era gerente e promoveu um
imenso desfalque. Devia estar preso. Nada foi investigado sobre a participação
da CIA neste episódio, mas a informação que temos é que o presidente Piñera foi
retirado do país por quase um ano, para que não precisasse enfrentar a Justiça.
O pai do presidente sempre teve laços estreitos com os EUA e com a CIA”.
– Temos agora todos
os elementos que mostram pelo menos 90% de possibilidade da existência de um
processo de desestabilização permanente contra o presidente Correa, por ele fechar
a base de Manta e dar asilo a Julian Assange. Mas isso, na realidade, não é uma
questão política, e sim, comercial, porque a CIA tráfica de drogas, e faz isso
através do PDI chileno, e você diz um nome, Luis Carreno, quando se chega ao
bolso de um empresário, um empreendedor, mesmo ilegal, ele fica chateado e
busca vingança – esclarece.
Mery acredita que
haja um esquema em que CIA desestabiliza os governos, uma semana antes de
tomarem posse.
– Foi o caso do
presidente Salvador Allende. Eles mataram o comandante-em-chefe, René
Schneider. Este crime foi perpetrado pela CIA, segundo telegramas revelados,
nos quais há uma conversa entre Richard Nixon e Henry Kissinger, que assume
total responsabilidade pela morte de Schneider – disse Mery à agência de notícias.
Mídia corrompida
No relatório do
jornalista consta também a entrega de US$ 3 milhões ao jornal El Mercurio, do
empresário Agustín Edwards Eastman, como pagamento pela cobertura favorável às
“armações” realizadas pela agência de inteligência norte-americana.
– Durante a ditadura,
o jornal disse que não havia desaparecidos, negou que os direitos humanos
tenham sido violados e agora, todos os dias publica notas e matérias contra os
presidentes Correa e Hugo Chávez, da Venezuela – constata.
Mery também aponta
o fato de o ex-chefe do PDI, Arturo Herrera estar ligado a um caso de
pedofilia, como um cliente de uma rede de exploração sexual infantil.
– Posteriormente,
ele foi nomeado vice-chefe da Interpol. Como uma pessoa acaba de ser acusado de
pedofilia e assume como vice-diretor da Interpol? – questiona.
Herrera, segundo o
dossiê entregue ao governo equatoriano, “foi contratado para desestabilizar o
governo de Hugo Chávez. Como fez isso? Armando uma série de histórias para
vincular Chávez às FARC. Em seguida, ligam Correa às Farc para, finalmente,
envolver o Partido Comunista do Chile, especialmente Guillermo Teillier e
Lautaro Carmona, os deputados chilenos que disseram ter ligações com membros
das FARC. Esse é o mesmo roteiro utilizado na Venezuela, Equador e Chile”.
Mery convidado pelo
ministro Ricardo Patiño, em uma visita oficial, para a entrega do relatório.
– O que ele vai
fazer com essa informação é uma atribuição do governo equatoriano. Eu confio no
julgamento do chanceler. Depois de nos conhecermos, ele lançou uma nota no
Twitter para dar maior peso ao que lhe havia dito. Então, eu entendo que é uma
questão sensível e levada a sério – concluiu.
Fonte e Foto: Correio
do Brasil
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