sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Portugal: FMI tem razão contra Cavaco, Bagão e demais reformados dourados




Henrique Raposo – Expresso, opinião

O relatório do FMI diz uma coisa que qualquer trintão ou quarentão português sente na pele: tal como está, o sistema de segurança social é uma injustiça geracional, é um massacre para os mais novos, só beneficia quem já tem reforma . A segurança social exige uma percentagem cada vez maior do nosso rendimento, e essa percentagem vai alimentar um sistema que não garantirá uma reforma decente quando chegar a nossa vez. São duas injustiças juntas:somos carregados com altíssimas contribuições e, ainda por cima, essas contribuições não assegurarão a nossa pensão em 2030 ou 2040. Estamos apenas a suportar as pessoas que já se reformaram. Tivemos azar: nascemos mais tarde.

As pensões, diz o FMI, representam 14% do PIB e 80% das transferências sociais. Se não ocorrerem reformas, este peso aumentará, tornando o sistema incomportável. Porquê? Porque este tipo de sistema (pay-as-you-go; os trabalhadores sustentam os reformados) só funciona se existir uma pirâmide demográfica. Para nosso azar, nós já não temos uma pirâmide e vamos a caminho da pirâmide invertida; o rácio trabalhadores/reformados já é pequeno e será ainda mais pequeno no futuro, pois convém reparar noutro pormenor: a minha geração tem cada vez menos filhos, e uma das alavancas deste inferno demográfico é precisamente a carga fiscal (segurança social incluída) a que estamos submetidos. Um exemplo: a minha contribuição mensal da segurança social é quase igual à mensalidade da creche da minha filha. O dinheiro que o sistema retira da minha carteira impede-me de ter mais filhos com segurança; com esta carga fiscal nas costas, ter mais do que um filho passa a ser uma aventura à Indiana Jones. E há milhares e milhares de casais a viver este dilema. 

Sem reformas de fundo, este sistema aumentará a depressão demográfica e acabará por ruir devido à falta de meios. Que tipo de reformas? Em primeiro lugar, as reformas douradas acima de x têm de sofrer um corte permanente. Em segundo lugar, os mais novos, aqueles que ainda nem sequer começaram a trabalhar, devem ter a possibilidade de começar a descontar para um sistema novo, um sistema que garanta uma conta individual devidamente capitalizada e não esta roleta russa colectiva do pay-as-you-go. Por outras palavras, nós devemos continuar a suportar o velho sistema, mas os nossos filhos merecem começar do zero.

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