terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Portugal: “Um país que não tem dinheiro para o pão como vai ter para a diversão?”




ROMANA BORJA-SANTOS - Público - foto Enric Vives-Rubio

Dezenas de feirantes com buzinas ensurdecedoras, carrosséis, carrinhos de choque e matraquilhos estão concentrados frente ao Ministério das Finanças contra o aumento do IVA do sector para 23%.

Buzinas ensurdecedoras. Carrosséis. Carrinhos de choque. Matraquilhos. A panóplia de divertimentos e as dezenas de empresários do ramo da diversão frente ao Ministério das Finanças, em Lisboa, transformaram o local numa verdadeira feira de diversões. A causa do protesto organizado pela Associação Portuguesa de Empresas de Diversão (APED) é o aumento do IVA de 6% para 23% para um sector asseguram estar a morrer.

A associação que representa o sector começou na segunda-feira uma série de acções de protesto que se prolongam até ao final do mês. Para esta terça-feira estava prevista a concentração frente ao Ministério das Finanças e da parte da tarde o ponto de encontro é o Ministério da Economia. Às 12h00 os responsáveis da APED foram informados de que iriam ser recebidos em breve pelo ministro das Finanças.

Para o presidente da APED, Luís Paulo Fernandes, não faz qualquer sentido “considerar esta actividade como de lazer”. “Lazer é para os ricos. Isto faz parte da nossa cultura e das nossas romarias e está a ser insustentável, está a morrer”, acrescenta. O responsável defende que os carrosséis e restantes actividades dos feirantes deveriam ser considerados culturais, o que permitiria que o IVA ficasse nos 13%.

“Um país que não tem dinheiro para o pão como vai ter para a diversão?”, questiona Luís Paulo Fernandes, repetindo uma das muitas frases que se lêem dos cartazes de protesto espalhados em camiões, divertimentos e nos pinos que impedem o estacionamento. A dificuldade em emitir facturas ao abrigo da nova legislação que entrou em vigor no dia 1 e a forma como os pagamentos dos terrenos são contabilizados, muitas vezes como donativos, são outros dos problemas apontados.

No Terreiro do Paço é possível ouvir as buzinas que conduzem até ao centro do protesto. As roulottes e camiões transformam o cenário habitual do coração lisboeta. Maria de Lurdes Pascoal tem 60 anos e há 37 que é feirante. Sai da sua roulotte ainda a pestiscar qualquer coisa para enganar a fome e voltar para ao pé dos companheiros. Está aqui por causa do aumento do IVA que lhe levou 17% “do pouco que fazia” com um divertimento de adultos. “A menina imagine, pagamos o terreno, a luz, as deslocações, a manutenção e há cada vez menos gente. Se as pessoas não têm dinheiro como é que vão ter vontade de se divertir”, lamenta.

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