O Congresso norte-americano
e o Presidente Obama ainda têm duas batalhas pela frente até
final de fevereiro. Agências de notação Moody's e Fitch aguardam
pelo final do processo para decidir sobre a notação dos EUA.
Jorge Nascimento
Rodrigues - Expresso
"O precipício orçamental (fiscal cliff) não foi evitado, no sentido
estrito do termo, mas reduzido na sua magnitude. O precipício na sua totalidade
teria custado 3% do PIB norte-americano. O acordo realizado no final do ano
cortou-o provavelmente para metade", diz Marc Chandler, analista da Brown
Brother Harriman e responsável pelo blogue 'Marc to Market'. Mas não espera que
haja qualquer double-dip (recaída na recessão) em 2013 por parte da
economia americana. As previsões atuais do Fundo Monetário Internacional para
2013 relativas aos EUA são para um ligeiro abrandamento do crescimento do PIB
de 2,17% para 2,11% e para um desagravamento, também, ligeiro do défice externo
de 3,1% do PIB para 3%. O défice orçamental estrutural deverá reduzir-se de
5,9% do PIB para 4,4%, mais de um ponto e meio percentual.
Este professor da
Universidade de Nova Iorque, bem como Peter Cohan, consultor independente de
Boston, e William Witherell, economista-chefe da Cumberland Advisors, da
Florida, e ex-consultor da OCDE, realizaram para o Expresso o balanço do
impacto para 2013 do acordo de última hora no final do ano passado alcançado
entre a Casa Branca e o Senado e depois aprovado por 257 contra 167 votos na
Câmara dos Representantes já no final do dia 1 de janeiro. O acordo fraturou o
Partido Republicano (157 deputados votaram contra e 85 a favor), a ponto de
alguns analistas falarem de "guerra civil" interna, e, em muito menor
grau, o Partido Democrata (16 deputados votaram contra e 172 a favor) na Câmara
de Representantes. No Senado o acordo passou por 89 votos a favor, 8 contra (5
republicanos e 3 democratas) e 3 abstenções (2 republicanos e um democrata).
"O acordo
fechou apenas o tema do aumento automático de impostos e de cortes da despesa
indesejáveis", afirma, por seu lado, Bill Witherell, que conclui a
propósito dos impostos: "Creio que a estrutura de impostos está definida
para os próximos anos. Uma eventual reforma fiscal levará anos". As duas
medidas acordadas mais referidas disseram respeito ao IRS e ao imposto sobre
dividendos e rendimentos de capitais. Só a partir de rendimentos individuais
anuais superiores a 400 mil dólares (300 mil euros) ou de agregados familiares
acima de 450 mil dólares (345 mil euros), a taxa de imposto subirá dos 35%
atuais para 39,6% (do tempo da Presidência Clinton). A partir destes escalões
de rendimentos, o imposto sobre dividendos e rendimentos de capitais subirá de
15% para 20%.
Leis e salsichas
Até final de
fevereiro terão de ser debatidos dois assuntos cruciais: o primeiro envolvendo
109 mil milhões de dólares (cerca de 84 mil milhões de euros) de cortes na
despesa pública, um "sequestro" que ficou adiado, e o do teto de
endividamento federal autorizado que foi ultrapassado no final do ano segundo o
secretário do Tesouro cessante, Tim Geithner. "Vão ser dois debates muito
intensos e ambos os lados, Republicanos e Democratas, vão lançar mão de táticas
audaciosas. O chanceler alemão Bismark disse que, em democracia, não deveríamos
ver a forma como as leis ou as salsichas são feitas. A democracia parlamentar é
uma confusão e a fealdade está à mostra para todo o mundo. Mas, claro, não
conheço outro sistema melhor", ironiza Chandler. "Os Democratas
exigirão um aumento do teto da dívida sem condições. Os Republicanos tentarão prender,
uma vez mais, um acordo sobre o teto ao corte na despesa pública", refere
Peter Cohan. "Creio que chegarão a mais um acordo de última hora, depois
de uma batalha política amarga", refere Witherell.
Com a convergência
dos dois debates politicamente quentes - o que resta do "precipício
orçamental" e a nova discussão do aumento do teto da dívida - no primeiro
trimestre do ano, muitos analistas temem uma repetição, para pior, do que
ocorreu em agosto de 2011, quando a Standard & Poor's (S&P) decidiu
excluir a dívida federal norte-americana do "clube" da notação máxima
de triplo A. Bill Witherell admite que possa ocorrer uma "versão
suave" desse episódio. Mas Peter Cohan acha que não: "A política
mudou em relação a agosto de 2011. Obama já não tem de se preocupar com
reeleição. Agora que foi reeleito e aprendeu com a forma como pode usar os seus
poderes presidenciais, vai ser, certamente, um negociador mais duro".
Moody s e Fitch
cortam triplo A aos EUA?
Mantém-se, no
entanto, a expetativa sobre se as duas outras agências de notação Moody's e
Ficth vão seguir, no primeiro trimestre de 2013, a decisão da S&P no verão
de 2011.
"A Moody's
disse que esperaria pelos cortes na despesa para tomar uma decisão. A Ficth tem
estado calada recentemente. Não me admiraria que as duas cortassem a notação
dos EUA. Mas, para além do embaraço, não vejo qualquer impacto real de uma
decisão como essa", afirma Marc Chandler.
Peter Cohan, por
seu lado, duvida que esse passo seja dado: "Há ainda oportunidade para
aumentar mais alguns impostos e para cortes na despesa - nomeadamente na área
da Defesa e do Medicare e da Segurança Social", o que poderá deixar as
agências de notação satisfeitas. Bill Witherell acha, também, que as agências
não mexerão no rating dos EUA.
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