Filipe Luís e Sara
Rodrigues (texto publicado na VISÃO 1039, de 31 de janeiro) Sábado, 2 de
Fevereiro de 2013
António Costa ainda
tem condições para avançar para a liderança do PS. E até já terá o aval dos
homens fortes da Finança... O PS parece, por estes dias, um jogo de Tetris. Mas, ao contrário do objetivo
deste jogo, só algumas peças vão encaixando.
E o ecrã está longe
de ficar limpo. Falta aquele pequeno quadrado solitário que se enfileira em
qualquer lado, limpando linhas e pondo ordem na "casa". Esse quadrado
parece ser António Costa, atual presidente da Câmara Municipal de Lisboa, que já
teria confidenciado a um pequeno círculo de socialistas, na semana passada, que
sim, ia disputar a liderança do PS. Segundo apurou a VISÃO, o presidente da
Câmara de Lisboa terá sido recentemente visitado, em sua casa, por alguns dos
principais banqueiros portugueses, que lhe deram uma espécie de
"aval". Na reunião, os homens fortes da Finança terão mostrado
preocupação com o atual rumo da oposição e, sabendo que o Governo pode estar
por um fio, num cenário de crise política, temem a falta de "alternativa
credível", por, alegadamente, "faltar experiência" à atual
liderança do PS.
Subitamente, o
calendário socialista acelerou. Na terça-feira, a Comissão de Política Nacional
reuniu-se (à hora do fecho desta edição ainda decorria a reunião), no Largo do
Rato, para aclarar posições e, no próximo dia 10 de fevereiro, em Coimbra, é a
vez de a Comissão Nacional órgão máximo entre congressos discutir a situação
política e marcar a data do Congresso do partido, que será precedido de
eleições diretas para o cargo de secretário-geral. Mas há ainda uma outra data
a ter em conta: 5 de fevereiro. Nessa terça-feira, a Concelhia de Lisboa do PS
quer anunciar o nome do candidato às eleições autárquicas na capital. Nos
próximos dias, as peças vão começar a encaixar-se.
A dúvida reside em
saber o que faria António Costa em relação a Lisboa, ao formalizar a sua
candidatura a secretário-geral do partido, o que fará "caso o lider não
consiga unir o PS", até à reunião do Conselho Nacional, agendada para o
próximo dia 10. Avançando para a capital corre o risco de o pretendente do PSD,
Fernando Seara, que muitos consideram uma "máquina" em campanha
eleitoral capitalizar essa opção, colocando, perante o eleitorado, o adversário
como um putativo edil a prazo, dada a sua intenção de correr para
primeiro-ministro.
No PS, os
"ânimos estão exaltados", mas para o "lado da entourage de
Seguro ", refere um deputado, para quem a mudança de opinião do atual
secretário-geral quanto à urgência de marcar a data do Congresso "não bate
certo". Afinal, "havia mesmo pressa", diz outro parlamentar.
E um outro
socialista "desmonta " as intenções de António José Seguro: "Foi
tudo uma encenação. Seguro já tinha decidido marcar o Congresso para antes das
autárquicas, mas como o Pedro Silva Pereira falou [disse: "Se é necessário
acelerar os calendários, conviria, também, que o Congresso pudesse realizar-se
tão rápido quanto possível."] lançou os peões para o criticar." Ao
perguntar "qual é a pressa?" e, dois dias depois, marcar as reuniões
da Comissão Política e da Comissão Nacional, Seguro pôs a bola do lado de
António Costa.
Força-o a tomar uma
decisão. "Se, com este cenário, Seguro pensa que Costa não se candidata à
liderança do PS vai sair-lhe o tiro pela culatra", refere um deputado que
responsabiliza a direção do partido pela eventual perda da Câmara de Lisboa.
Seguro com as bases
Mas António Costa
não tem a vida facilitada nas bases socialistas, muito bem "oleadas "
pelo atual secretário-geral. Em caso de, a curto prazo, se realizarem as
eleições diretas para líder do partido e, posteriormente, o Congresso, o
challenger de António José Seguro não terá muito tempo para ampliar e
consolidar os apoios não tem tropas e está apenas à espera de uma vaga de
fundo. Aparentemente, Costa considera que essa vaga começou a movimentar-se. E
o empurrão de Carlos César, que o elogiou como "homem de Estado" e,
enigmaticamente, mostrou esperanças de voltar a trabalhar com ele (no
Governo?), foi muito importante. Costa abriu o Congresso açoriano, Seguro
encerrou-o e tiveram idêntico protagonismo, num episódio que pode ter
assinalado o arranque da pré-campanha interna. Foi, aliás, visível a frieza
entre César e Seguro que, à despedida, apenas fez um aceno ao ex-líder
regional, e lhe gritou, de relativamente longe: "Carlos, um
abraço"...
Em todo o caso, o
aparelho continua com António José Seguro. Vários elementos da direção do PS
percorrem o País, ao fim de semana, em contacto com as bases, numa política de
proximidade de que Costa é incapaz. Note-se o facto de não ter havido, até ao
momento, qualquer conflito na escolha dos candidatos às autarquias.
Os candidatos andam
contentes com Seguro e as bases não o enfrentarão, apoiando Costa ou não
entrariam nas listas para as autarquias... Um jogo de pequenos interesses de
que os partidos são feitos mas que Costa não domina.
Na próxima semana,
Seguro vai ter um palco importante, dias antes da reunião da Comissão Nacional,
ao ser anfitrião de uma reunião da Internacional Socialista, de que é
vice-presidente. Será mais uma demonstração de força, desta vez, jogando no
prestígio internacional.
Há quem,
facilmente, veja o outro lado da moeda: "Se aparecerem sondagens nacionais
que deem António Costa à frente de António José Seguro, como escolha
preferencial para primeiro-ministro, as bases podem mudar o sentido de
voto." Por outro lado, acalmar as hostes e retardar a velocidade do jogo
para ter mais tempo para decidir como encaixar as peças também pode ser uma boa
estratégia. "Não há datas boas ou más, há é vantagens e desvantagens. A
realização do Congresso antes das autárquicas é desvantajosa para António Costa,
mas não há drama nenhum nisso", resume um parlamentar.
Zanga com 30 anos
António Costa e
Seguro só convergem no nome próprio e na filiação partidária.
Tudo o resto os
separa desde que, em 1984, tiveram uma zanga, na JS. António Costa tinha
apoiado o ex-Secretariado, um grupo de dirigentes que se opunha ao então líder
Mário Soares. Nessa altura, o velho fundador do PS lançou-lhe uma fatwa:
"Trocaste uma carreira política por uma assinatura." E vetou a sua
ascensão à liderança da JS, para substituir Margarida Marques. O soarista
António Campos, o homem do aparelho, rapidamente "inventou " um então
obscuro líder de uma associação de estudantes, José Apolinário, para a
"jota". Inesperadamente, Seguro virou as costas... a Costa. E alinhou
com o poder interno, vindo, logo a seguir, a assumir o apetecido cargo de
presidente do CNJ (Conselho Nacional da juventude).
António Costa nunca
lhe perdoou.
O ajuste de contas
pode estar por meses.
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