Pragmatismo Político - foto Raquel Morais
Mãe diz que menina
de 12 anos foi agredida por ser negra. Quatro meninas, duas delas encapuzadas,
são apontadas por agressão. GDF lançou nesta quarta número de telefone para
denúncias de racismo
A empregada
doméstica Márcia Pereira do Nascimento afirmou que nunca foi tão difícil sair
de casa para trabalhar quanto nesta quarta-feira (20). A filha dela de 12 anos
foi espancada perto de uma parada de ônibus da avenida Potiguar, no Recanto das
Emas, no Distrito Federal, há dois dias. Quatro desconhecidas socaram,
arranharam e chutaram a garota por ela ser negra, diz a mãe.
As agressões
ocorreram pela manhã, no trajeto para a escola. Acostumada a ir sozinha, a
adolescente contou ter se confundido e pegado o coletivo errado. Ela desceu na
terceira parada da via para trocar de ônibus, mas antes foi abordada pelas
garotas, duas delas encapuzadas.
“As meninas
disseram que não aceitavam negras no beco delas. Minha filha falou que tudo
bem, que já estava indo embora, mas elas responderam que, como ela estava lá,
ela teria que pagar pelo que fez”, afirma Márcia.
Enquanto as duas
jovens encapuzadas a imobilizavam, as outras ofenderam a garota e a atingiram
nos braços, pernas e barriga. A adolescente disse não ter ideia do tempo que
passou sendo agredida e que escolheu não reagir por medo de que elas fossem
ainda mais violentas. Tudo o que a menina queria era sair dali.
O caso foi
registrado na delegacia da região na noite de segunda. A Polícia Civil informou
que não vai se pronunciar a respeito até que as agressoras sejam identificadas.
Na terça, a garota passou por exames no Instituto Médico Legal (IML) para
confirmar as lesões. Depois, ainda mancando e reclamando de fortes dores, foi
levada à Unidade de Pronto Atendimento (UPA).
“É muito ruim
mesmo, uma dor que nem tem como descrever, você ver um filho passando por isso.
Ela só chora”, diz. “Ela veio me perguntar se eu a amo de verdade, do jeito que
ela é. E eu a amo e a amaria sempre, mesmo se não tivesse as duas pernas.”
Márcia afirmou que
toda a família ficou horrorizada com o que aconteceu. Ela foi dispensada do
trabalho na segunda e na terça para cuidar da filha, que também não foi à aula
nesses dias. A adolescente voltou ao colégio nesta quarta para fazer uma prova
de matemática.
Ganhando um salário
mínimo por mês para sustentar os três filhos e um neto, Márcia disse que teme
pelo equilíbrio emocional da garota. “Não tenho condição de pagar um psicólogo,
porque tem dias que a gente não tem nem o que comer. Ela ficou muito abalada e
ainda mais reservada. Ela nunca vai se recuperar.”
Nesta quarta, o
governo do Distrito Federal lançou o disque racismo. Por meio do 156, a
população vai poder denunciar agressões a negros, indígenas, ciganos e
quilombolas.
Futuro
Muito assustada com
o que aconteceu, a adolescente pediu à mãe para morar com a avó, em Samambaia.
A garota disse que quer continuar estudando, mas que sente medo de frequentar o
colégio atual.
“Queremos
transferi-la para a escola que é perto da casa da minha mãe, que aí ela vai se sentir
mais segura e eu vou ficar mais tranquila. Mas depois disso que aconteceu,
quero é sair com todo mundo daqui”, diz Márcia.
Fã de língua
portuguesa, a menina disse que quer terminar os estudos e se tornar policial. O
sonho dela, afirmou, é proteger as pessoas de agressões.
Outro caso
A mãe de um menino
de 8 anos registrou boletim de ocorrência no final de fevereiro alegando que o
filho sofreu preconceito racial dentro da escola, no Núcleo Bandeirante. Uma
colega de turma teria dito ao garoto que ele nunca arrumaria namorada por ser
“preto, sujo, feio e fedido”.
A coordenação do
colégio afirmou ter conhecimento sobre o caso e disse não tolerar nenhum tipo
de preconceito. O caso foi encaminhado para o Conselho Tutelar. Dados da
Secretaria de Segurança Pública apontaram 31 registros de injúria racial em
2012 no DF.
Raquel Morais, G1-DF
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1 comentário:
que vergonha que sinto de ser brasileiro ao ler essa notícia
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