A notícia do
taxista moçambicano que foi torturado pela polícia sul-africana e acabou por
morrer provocou uma onda de choque e condenação entre os moçambicanos. Em
Moçambique, pede-se agora justiça.
O taxista
moçambicano, identificado pelo nome de Mido Macia, foi algemado por agentes da
polícia sul-africana na parte traseira de uma viatura policial. Depois, foi
arrastado no asfalto durante cerca de 400 metros.
Toda a cena ficou
registada num vídeo amador e foi, mais tarde, divulgada pela imprensa. Tudo
terá acontecido depois do taxista se ter envolvido numa discussão com a polícia
por ter estacionado inadequadamente o seu carro, segundo os meios de
comunicação social sul-africanos.
Em consequência dos
maus-tratos da polícia, a vítima viria a perder a vida.
"Absolutamente
inaceitável"
O Governo
moçambicano reagiu em Maputo através do ministro dos Negócios Estrangeiros,
Oldemiro Baloi.
"Este
assassinato deste nosso compatriota é chocante, revoltante e absolutamente
inaceitável", disse. "Espero que o Governo sul-africano tome medidas
apropriadas, não só para punir os infratores como também para desencorajar
atitudes dessa natureza."
O Presidente da
África do Sul, Jacob Zuma, condenou esta sexta-feira (01.03.2013) as agressões
infligidas ao taxista moçambicano em Joanesburgo. Zuma disse ter ficado
horrorizado com as imagens: "São horríveis, perturbadoras e inaceitáveis.
Nenhum ser humano devia ser tratado daquela maneira."
Entretanto, oito
polícias foram presos. Os agentes são suspeitos de estarem envolvidos no
homicídio do moçambicano de 27 anos.
Choque
"Vi as imagens
e aquele homem a ser arrastado ali com a polícia, aquilo para mim foi
horrível", dizia esta sexta-feira um habitante. A notícia virou a manchete
do dia nos média moçambicanos e foi o principal tema de conversa em vários
locais.
"Só por causa
do estacionamento, é ridículo", comentava ainda outro habitante. Um
taxista afirmava: "A morte de um colega em circunstâncias estranhas é de
lamentar. O Governo tem de ver o que pode fazer."
Outros casos de
violência
O chefe da
diplomacia moçambicana diz que o Governo está preocupado com a forma como os
seus compatriotas são tratados na África do Sul. Oldemiro Baloi reconhece que
este incidente foi um caso excecional, mas refere também que esta não foi a
primeira vez que as autoridades de segurança utilizaram violência extrema.
"Também temos
tido conhecimento de que os caçadores furtivos normalmente são mortos",
afirmou. "Não podem ser desarmados, não podem ser presos e julgados...
Começamos a ter alguma preocupação em relação à maneira como eles são
penalizados – com a morte sem qualquer tipo de julgamento."
Cameron Jacobs,
diretor da organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch na África
do Sul, diz estar preocupado com uma possível relação entre o que aconteceu ao
taxista e o facto do jovem ter nacionalidade moçambicana.
"A
investigação em curso irá determinar se há ou não uma ligação entre ambas as
coisas. Até pode ser uma coincidência, mas não me surpreenderia se isso se
verificasse tendo em conta algumas coisas que já experienciámos no país",
referiu. "Por exemplo, a violência xenófoba que irrompeu em maio de 2008 e
as presentes tensões relacionadas com cidadãos estrangeiros."
"Más
perceções"
O analista político
Gil Laurenciano, que viveu muitos anos na África do Sul, afirmou que este ato
da polícia contra o taxista moçambicano demonstra que aquele país ainda tem
dificuldades em promover a convivência.
"Eles passaram
por um regime tão violento como o apartheid e há muitos preconceitos e más
perceções sobre as causas da situação em que eles se encontram e a presença dos
estrangeiros", disse. "É uma tendência muito comum na África do Sul pensar-se
que os estrangeiros é que vão para lá buscar a riqueza deles."
Este não é o
primeiro caso de tratamento brutal de que são vítimas moçambicanos residentes
na África do Sul. No passado foram igualmente reportados casos de moçambicanos
usados pela polícia sul-africana para treinar cães, cujas imagens foram
fortemente condenadas pela comunidade internacional.
A África do Sul
acolhe a maior comunidade de moçambicanos no exterior. Muitos atravessaram a
fronteira e instalaram-se no país vizinho à procura de emprego e de melhores
condições de vida.
Autor: Leonel
Matias (Maputo) / Guilherme Correia da Silva - Edição: Helena Ferro de Gouveia
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