Fernando Santos –
Jornal de Notícias, opinião
Portugal é uma das
peças de um dominó europeu cada vez mais desconjuntado. A postura ao tipo
"orgulhosamente sós" não faz nenhum sentido e, por isso, não obstante
a economia e as finanças nacionais estarem de pantanas e redundarem em mais e
mais empobrecimento e flagelo social dos portugueses, manda o bom senso
proceder a uma análise interdependente.
Bem acentuada nos
números ontem divulgados pelo INE e de acordo com os quais o PIB retrocedeu
3,6%, qualquer coisa como 5 mil milhões de euros, valor superior aos cortes
estruturais a marinar, a desgraça portuguesa é preocupante - mas não é única.
Sob o jugo de uns eurocratas bem mandados pela capataz alemã, toda a Europa do
Sul regride e ao reforço do contingente de mais pobres e mais desempregados só
a teimosia e a ignorância não são capazes de perceber: como uma metástase, a
crise e a convulsão social tende a espalhar-se e a afetar a (ir)racionalidade
dos chamados países ricos.
Tão correto como
considerar que pior do que um cego é aquele que não quer ver é também admitir
mudanças seguindo o prisma segundo o qual só os burros não mudam de ideias....
Os perigos de
implosão da atual Europa avolumam-se - e não se ficam, sequer, pelas sucessivas
derrotas dos tecnocratas impostos à Democracia e dos quais o afamado Mario
Monti é o mais recente espécimen.
Por se tratar de um
especialista em flic-flac, será imprudente valorizar demasiado a carta enviada
pelo presidente da Comissão Europeia aos líderes europeus em vésperas de mais
uma cimeira. Registe-se, porém, a sua tese de solicitação de mais
"reformas estruturais", pedindo atenção às "consequências
sociais" da atual crise. Os níveis recordes de desemprego em vários países
levam Durão Barroso a enfatizar, entre outras políticas, a necessidade de reforço
de decisões que levem à competitividade da economia para que se combata
sobretudo a falta de trabalho para os jovens (23,6% na UE, 38,6% em Portugal).
Assim como assim,
dispondo os jovens de mais sangue na guelra, terá sido por medo deles que
Jean-Claude Junker, em entrevista à revista alemã "Der Spiegel, deixou um
alerta para uma eventual guerra no velho continente? Para o ex-líder do
Eurogrupo "quem acredita que a eterna questão da guerra e paz na Europa
não pode voltar a ocorrer está completamente errado. Os demónios não
desapareceram, estão apenas adormecidos".
É avisada a posição
de Juncker. Se os líderes europeus persistirem em tratar as pessoas como meros
números os tais demónios podem acordar. Será uma chatice. Mas Juncker, uma
nódoa de influência nos eurocratas, bem pode juntar-se a outras personalidades,
como Cavaco Silva, e clamar por entre uns tiritos: "Eu bem avisei".
Já ninguém os ouvirá mas, enfim...
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