EL
PERIÓDICO DE CATALUNYA, BARCELONA - Presseurop - imagem AFP
Neste momento, há
mais de seis milhões de desempregados em Espanha. Um desastre económico e
social que se agrava, apesar da terapia de choque aplicada pelo Governo e ao
nível europeu. Até onde será preciso mergulhar mais na crise, antes de se
tentar outra política?, pergunta “El Periódico”.
Os terríveis números
do desemprego em Espanha são o indicador mais claro da profundidade da
crise e das suas consequências. E, ao mesmo tempo, são a prova dramática de
que, com todos os sacrifícios que impõem, as medidas que estão a ser aplicadas,
tanto em Bruxelas como aqui, não dão resultados. Pelo contrário: estamos cada
vez pior. Oinquérito às forças do trabalho
(EPA) revelou ontem o pior dado da história: pela primeira vez, mais
de seis milhões de pessoas não têm emprego. Destas, quase dois milhões
encontram-se nessa situação há mais de dois anos, o que significa que dispõem
apenas, quando muito, dos €400 do rendimento mínimo de inserção. Um panorama
desolador.
Até agora, as
diretrizes pelas quais a União Europeia norteia o seu combate contra a crise
têm tido como referência os grandes rácios das contas públicas, uma disciplina
que tem em vista não distorcer os equilíbrios financeiros, para os mercados
poderem funcionar sem interferências. E pouco mais. O presidente do Banco
Central Europeu (BCE) acaba de exigir uma ação firme perante os incumprimentos
do défice, mas não diz uma palavra sobre qual deve ser o objetivo da economia e
da política económica, nem sobre o bem-estar dos cidadãos, cuja primeira e
indispensável manifestação é o emprego. Em especial, quando a falta de emprego
se torna crónica, como acontece em Espanha, e começa a ser sinónimo de exclusão
social. No conjunto das grandes instituições internacionais, só o FMI se
referiu, pela voz da sua diretora executiva, à calamitosa situação do
desemprego em Espanha, para sugerir uma alteração,
se não nas medidas, pelo menos no ritmo da sua aplicação.
Um beco do qual
será difícil sair
A reação aos
números divulgados ontem por parte do Governo, que começou por invocar a
herança recebida e, depois, comparou a perda de postos de trabalho do primeiro
trimestre deste ano com a do ano passado, sem ter em contra que, este ano, a
Semana Santa foi em março, torna bem clara a inexistência de um discurso
coerente. Sublinhar que, entre janeiro e março de 2013, se perderam menos
empregos do que no mesmo período de 2012 é uma forma de reivindicar – sem o
dizer – a reforma laboral que o próprio Governo pôs em marcha há um ano. Mas os
dados persistem: os cortes de pessoal continuam, só que com menores custos para
as empresas. O EPA revela que, como era de recear, à destruição do emprego
temporário se seguiu a dos contratos sem termo, cuja resolução se tornou mais
barata com a nova lei. O discurso oficial, que já não diz que, quando a retoma
chegar, a reforma permitirá que a criação de emprego dispare, e se limita a
confiar em que a saída do túnel melhore as perspetivas, deixa transparecer a
convicção de que a nova legislação não produziu os resultados pretendidos.
O EPA do primeiro
trimestre é o principal argumento que o próprio Governo deve utilizar para
justificar uma mudança na política económica. A persistência da crise está a
transformar milhões de pessoas em desempregados crónicos, que não poderão regressar
por si mesmos ao mercado laboral. Numa situação como esta, qualquer reforma
estrutural da economia ou quaisquer alterações ao sistema de pensões serão
inúteis. O país não poderá suportá-las. Até um homem tão ortodoxo e ponderado
como Andreu Mas-Colell, conselheiro de Economia da Generalitat [governo
autónomo], pedia ontem um “ponto de viragem” nas políticas europeias, ou mesmo
uma mudança. Em seu entender, a União Europeia está excessivamente obcecada
com a austeridade. Os resultados dessa política não a sustentam: o PIB
europeu cai, o desemprego aumenta e, no caso espanhol, conduz-nos a um beco do
qual será difícil sair.
Tendo em conta a
experiência dos últimos anos, é de esperar que Bruxelas mantenha a doutrina
oficial, embora alargando os prazos para o cumprimento dos objetivos do défice,
e que só proceda a uma mudança real se os problemas do desemprego e da pobreza
no Sul da União afetarem as economias do Norte, como levam a crer alguns
indícios. Mas é muito provável que, quando isso acontecer, seja demasiado tarde
para nós.
UNIÃO EUROPEIA
Valores
subestimados
Segundo as estatísticas publicadas pelo
Eurostat, 26,3
milhões de europeus estavam desempregados no final do mês de
fevereiro, 19 dos quais no seio da zona euro, ou seja, uma taxa de desemprego
que varia entre os 10,9% e 12%.
Mas para Le Soir, este valor
“subestima amplamente a dimensão do subemprego”, um dado calculado pelo Inquérito às forças de trabalho, cujos
resultados de 2012 acabam de ser publicados pelo Eurostat. Se juntarmos aos
desempregados, os “trabalhadores desmotivados”, “a força de trabalho potencial
adicional” (as pessoas que gostariam de trabalhar, mas que não estão
imediatamente disponíveis) e os “part-time”, realça o diário belga, 45,4 milhões de
europeus são na verdade afetados pela falta de trabalho, ou seja, 19% da
população ativa! Quase o dobro da taxa de desemprego oficial. Não é de admirar
que esta “taxa de subemprego” não seja publicada.
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