SÜDDEUTSCHE
ZEITUNG, MUNIQUE – Presseurop – imagem Kazanevsky
“A política de
austeridade atingiu o seu limite”, afirmou José Manuel Durão Barroso,
presidente da Comissão Europeia. Foi a primeira vez que Bruxelas pôs essa
política em causa. Está na hora de perceber que uma via única para países tão
diferentes não resulta, comenta o “Süddeutsche Zeitung”.
Políticos
responsáveis gabam-se regularmente da diversidade europeia. Referem-se, nesses
casos, às tradições culturais – a maioria das quais considerada interessante e
enriquecedora – desenvolvidas fora das suas fronteiras nacionais. Louvam essas
diferenças e insistem em que sejam preservadas. Contudo, é interessante
constatar que qualquer tipo de entusiasmo e de tolerância desaparece dos seus
espíritos quando se trata de diversidade económica.
Em matéria de
política fiscal, os dirigentes europeus são pela unidade monolítica. Todos os
Estados-membros, incluindo os da zona euro têm de cumprir exatamente as mesmas
condições. O desempenho económico de cada país é aferido pelos mesmos critérios
e pouco importa que as tradições económicas europeias sejam muito diferentes de
uns países para os outros.
Dívidas nacionais
aumentam
No contexto da
crise atual, a ideia de que todos temos de trabalhar segundo o mesmo modelo
atingiu o seu limite. Portugal,
Espanha, Grécia e Irlanda adotaram vastos programas de reforma económica, destinados
a sanar as suas finanças e cumprir as normas europeias que lhes foram impostas
por igual. Mas não
são capazes de atingir essas metas. E as dívidas nacionais aumentam.
De um ponto de
vista puramente económico, faz todo o sentido querer primeiro reduzir o
endividamento e lançar reformas para retomar um crescimento sólido. O problema
é que, na prática, essa estratégia não funciona. O presidente da Comissão
Europeia, José Manuel Durão Barroso, não está errado ao admitir que uma linha
política não pode apenas ser válida, tendo também de ser aceite pelos cidadãos,
caso contrário não terá aplicabilidade.
Os sociais-democratas
europeus reagiram imediatamente, felicitando Barroso por,
finalmente, sair de um coma de cinco anos. Parece demagógico, mas não deixa de
ser verdade.
Ruturas no
fornecimento de medicamentos
Há muito que já se
sabia que os países mais envolvidos na crise não estão a verificar melhorias na
sua situação: reduzem os gastos e votam reformas, enquanto as falências das
empresas se multiplicam e o
desemprego dispara. O aparelho de Estado está paralisado, as decisões dos
tribunais deixam de ser postas em prática porque as impressoras não funcionam,
os funcionários têm de levar o seu próprio material de escritório e rolos de
papel higiénico para o local de trabalho, os hospitais têm ruturas no
fornecimento de medicamentos.
Em Espanha, um em
cada oito cidadãos vive hoje em condições de pobreza. Trata-se de situações que
pessoas de outros países mal conseguem imaginar.
Daqui, podemos
extrair duas conclusões. É evidente que os países da zona euro não podem abolir
os programas económicos e as reformas de um dia para o outro. Isso minaria a
confiança na moeda europeia. No entanto, são necessários alguns ajustes: a
Comissão Europeia tem de abrandar as regras do Pacto de Estabilidade e
Crescimento, para dar muito mais tempo aos países em crise para atingirem os
seus objetivos. A prazo, há também que pôr em questão a pertinência desse pacto
(outrora elevado aos píncaros) e das suas regras rígidas e indiferenciadas. A
crise evidencia-o bem: apesar da moeda única, é a diversidade económica que
domina a Europa.
VISTO DE ESPANHA
Uma equação difícil
O clima económico
continua “sombrio” em Espanha, declara o diário económico Cinco
Días com preocupação. Segundo o ministro da Economia, Luis de Guindos,
o PIB do reino espanhol deverá baixar 1,5% em 2013, em vez dos 0,5% que estavam
planeados. Em 26 de abril, o primeiro-ministro, Mariano Rajoy, deve apresentar
novas reformas para redução do défice. Mas o diário económico vislumbra uma
esperança na declaração do
presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso:
De Bruxelas começam
a chegar vozes que, sem questionarem a obrigação de se avançar com o ajuste
fiscal, começam a defender também a aplicação de incentivos ao crescimento
económico [...], há sinais crescentes que apontam no mesmo sentido.
A economia alemã, a
maior da União Europeia, também está a começar a sofrer os efeitos da crise,
constata o Cinco Días. O índice de negócios PMI para o setor fabril e os
serviços contraiu-se em abril, pela primeira vez em cinco meses. Segundo o Cinco
Días:
Isso não só sugere
que a doença que tem assolado as economias periféricas começa a aproximar-se do
centro da Europa, como pode criar uma quebra no dogmatismo de Berlim em matéria
de austeridade. [...] O repto para Bruxelas e para os governos europeus está em
saber conjugar, com artes de equilibrista, as políticas de redução do défice e
da dívida pública com a introdução de medidas que abram caminho ao crescimento
económico. Uma equação difícil de resolver e que Mariano Rajoy terá
oportunidade de esclarecer na sexta-feira, altura em que apresentará a nova
bateria de reformas económicas que deverão tirar a Espanha da difícil e obscura
conjuntura em que está imersa.
Sem comentários:
Enviar um comentário