quarta-feira, 24 de abril de 2013

JULGAMENTO PODE CALAR PRINCIPAL VOZ DE OPOSIÇÃO AO KREMLIN




Deutsche Welle

Blogueiro Alexei Navalny quer ser presidente, mas antes tem de se livrar dos vários processos que enfrenta. Um deles está sendo retomado e pode lhe custar dez anos de prisão. Ele se diz perseguido politicamente.

Ironia é sua marca registrada, e ele não a perde, mesmo nos momentos mais difíceis. "Acordei no trem e descobri que estou sendo alvo de uma nova investigação criminal", escreveu Alexei Navalny no Twitter, na última quinta-feira. Isso significa que a viagem valeu a pena. O mais famoso blogueiro e líder oposicionista da Rússia estava voltando de Kirov, a cerca de 900 quilômetros de Moscou, onde começara a ser julgado na véspera. Nesta quarta-feira (24/04), o processo será retomado.

Em Kirov, Navalny é acusado de ter desviado 400 mil euros de uma companhia madeireira estatal e, se condenado, pode pegar até dez anos de prisão. O blogueiro de 36 anos nega todas as acusações e alega ser vítima de um processo politicamente motivado. "É um processo meramente político", confirma Jens Siegert, diretor do escritório da Fundação Heinrich Böll em Moscou.

Vários processos

O processo em Kirov é um entre pelo menos seis, enfrentados por Navalny na Rússia. O advogado e blogueiro é considerado hoje o principal crítico do Kremlin. Foi ele quem primeiro chamou a legenda Rússia Unida, do hoje presidente Vladimir Putin, de "Partido dos Vigaristas e Ladrões". Navalny esteve também por trás dos protestos contra supostas fraudes nas eleições presidenciais de 2011, reprimidos com mão de ferro por Moscou.

"Hoje, ele é o único político na Rússia com potencial", diz a jornalista russo-americana Julia Ioffe, correspondente das revistas New Yorker e Foreign Policy em Moscou. "Ele vem da classe média e entende as preocupações dela."

Navalny não é um político profissional, no sentido clássico, e não está ligado a nenhum partido. Estudou Direito e Finanças em Moscou, depois, passou um tempo na prestigiada Universidade de Yale, nos Estados Unidos. Entre 2000 e 2007, envolveu-se com o partido liberal Yabloko, mas acabou expulso, devido a suas opiniões controversas.

Na época, o blogueiro se descrevia como um "nacionalista sensato". Chegou a participar das chamadas "marchas russas", manifestações organizadas por extremistas de direita para protestar contra imigrantes. Mais tarde, distanciou-se de tais ideias, embora ressalvando que, num Estado multinacional como a Rússia, o tema "não deveria ser tabu".

Para Julia Ioffe, tal convicção é compartilhada não só pelos russos mais humildes, mas também pela classe média. A participação de Navalny nas marchas, afirma, foi uma "manobra cínica" dos organizadores para conseguir um maior apoio popular. "Acho que Navalny brincou com o fogo", diz, por sua vez, Jens Siegert.

Força na internet

Grande parte da popularidade de Navalny foi conseguida na internet. Seu blog em russo, oLivreJournal, é lido por centenas de milhares de internautas. Ele possui ainda outras páginas na rede, onde denuncia corrupção e intrigas em companhias estatais russas. Devido às revelações que já fez, alguns deputados do partido governista Rússia Unida viram-se forçados a renunciar.

Mas foi no início de 2012, durante os protestos por mais democracia em várias cidades russas, que Navalny se consolidou como principal nome da oposição ao Kremlin. Ele organizou as manifestações e foi detido pela polícia várias vezes. Meses depois, foi o mais votado nas eleições para o chamado Conselho de Coordenação da Oposição.

Antes do início do processo em Kirov, Navalny deixou claro ter grandes ambições como político. "Quero ser presidente e mudar a vida no país", disse. A declaração, no entanto, é vista por alguns como apenas uma forma de chamar mais atenção para o processo. "Uma candidatura a presidente é algo diferente de um simples oposicionismo", opina Siegert, da Fundação Heinrich Böll.

As eleições presidenciais são apenas em 2018, e ainda não está claro quais seriam as chances reais de Navalny. Atualmente, segundo pesquisas, apenas entre 13% e 19% dos russos estariam dispostos a votar no blogueiro. E, caso ele seja sentenciado em qualquer um dos processos que enfrenta, não poderá mais, na condição de ex-condenado, candidatar-se a qualquer cargo político.

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