Deutsche Welle
Blogueiro Alexei
Navalny quer ser presidente, mas antes tem de se livrar dos vários processos
que enfrenta. Um deles está sendo retomado e pode lhe custar dez anos de
prisão. Ele se diz perseguido politicamente.
Ironia é sua marca
registrada, e ele não a perde, mesmo nos momentos mais difíceis. "Acordei
no trem e descobri que estou sendo alvo de uma nova investigação
criminal", escreveu Alexei Navalny no Twitter, na última quinta-feira.
Isso significa que a viagem valeu a pena. O mais famoso blogueiro e líder
oposicionista da Rússia estava voltando de Kirov, a cerca de 900 quilômetros de
Moscou, onde começara a ser julgado na véspera. Nesta quarta-feira (24/04), o
processo será retomado.
Em Kirov, Navalny é
acusado de ter desviado 400 mil euros de uma companhia madeireira estatal e, se
condenado, pode pegar até dez anos de prisão. O blogueiro de 36 anos nega todas
as acusações e alega ser vítima de um processo politicamente motivado. "É
um processo meramente político", confirma Jens Siegert, diretor do
escritório da Fundação Heinrich Böll em Moscou.
Vários processos
O processo em Kirov
é um entre pelo menos seis, enfrentados por Navalny na Rússia. O advogado e
blogueiro é considerado hoje o principal crítico do Kremlin. Foi ele quem
primeiro chamou a legenda Rússia Unida, do hoje presidente Vladimir Putin, de
"Partido dos Vigaristas e Ladrões". Navalny esteve também por trás
dos protestos contra supostas fraudes nas eleições presidenciais de 2011,
reprimidos com mão de ferro por Moscou.
"Hoje, ele é o
único político na Rússia com potencial", diz a jornalista russo-americana
Julia Ioffe, correspondente das revistas New Yorker e Foreign
Policy em Moscou. "Ele vem da classe média e entende as preocupações
dela."
Navalny não é um
político profissional, no sentido clássico, e não está ligado a nenhum partido.
Estudou Direito e Finanças em Moscou, depois, passou um tempo na prestigiada
Universidade de Yale, nos Estados Unidos. Entre 2000 e 2007, envolveu-se com o
partido liberal Yabloko, mas acabou expulso, devido a suas opiniões
controversas.
Na época, o
blogueiro se descrevia como um "nacionalista sensato". Chegou a
participar das chamadas "marchas russas", manifestações organizadas
por extremistas de direita para protestar contra imigrantes. Mais tarde,
distanciou-se de tais ideias, embora ressalvando que, num Estado multinacional
como a Rússia, o tema "não deveria ser tabu".
Para Julia Ioffe,
tal convicção é compartilhada não só pelos russos mais humildes, mas também pela
classe média. A participação de Navalny nas marchas, afirma, foi uma
"manobra cínica" dos organizadores para conseguir um maior apoio
popular. "Acho que Navalny brincou com o fogo", diz, por sua vez,
Jens Siegert.
Força na internet
Grande parte da
popularidade de Navalny foi conseguida na internet. Seu blog em russo, oLivreJournal,
é lido por centenas de milhares de internautas. Ele possui ainda outras páginas
na rede, onde denuncia corrupção e intrigas em companhias estatais russas.
Devido às revelações que já fez, alguns deputados do partido governista Rússia
Unida viram-se forçados a renunciar.
Mas foi no início
de 2012, durante os protestos por mais democracia em várias cidades russas, que
Navalny se consolidou como principal nome da oposição ao Kremlin. Ele organizou
as manifestações e foi detido pela polícia várias vezes. Meses depois, foi o
mais votado nas eleições para o chamado Conselho de Coordenação da Oposição.
Antes do início do
processo em Kirov, Navalny deixou claro ter grandes ambições como político.
"Quero ser presidente e mudar a vida no país", disse. A declaração,
no entanto, é vista por alguns como apenas uma forma de chamar mais atenção
para o processo. "Uma candidatura a presidente é algo diferente de um
simples oposicionismo", opina Siegert, da Fundação Heinrich Böll.
As eleições
presidenciais são apenas em 2018, e ainda não está claro quais seriam as
chances reais de Navalny. Atualmente, segundo pesquisas, apenas entre 13% e 19%
dos russos estariam dispostos a votar no blogueiro. E, caso ele seja
sentenciado em qualquer um dos processos que enfrenta, não poderá mais, na
condição de ex-condenado, candidatar-se a qualquer cargo político.
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