sexta-feira, 12 de abril de 2013

RAMOS-HORTA EM DECLARAÇÕES PROLÍFERAS SOBRE SITUAÇÃO NA GUINÉ-BISSAU




Ramos-Horta felicita CEDEAO por papel após o golpe de Estado na Guiné-Bissau

10 de Abril de 2013, 18:18

Cidade da Praia, 10 abr (Lusa) - O representante especial do secretário-geral da ONU para a Guiné-Bissau felicitou hoje a comunidade da África Ocidental por ter assumido as rédeas da crise no país logo após o golpe de Estado do ano passado.

José Ramos-Horta, que chegou hoje a Cabo Verde para uma visita de menos de 48 horas, respondia a várias questões postas pelos jornalistas sobre o mesmo tema e relacionadas com as eventuais divergências entre as comunidades dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO).

"Felicito as iniciativas da CEDEAO para evitar a deterioração da situação no país. Foi graças à CEDEAO que, pelo menos, há um órgão legítimo, a Assembleia Nacional, e um Governo de Transição, que está a fazer o que pode para responder às necessidades do país", justificou o antigo presidente de Timor-Leste no final de um encontro com o ministro das Relações Exteriores de Cabo Verde, Jorge Borges.

"Quando se está no terreno, e a CEDEAO estava no terreno, face a um golpe, e o golpe foi explicado pelos militares, a CEDEAO não esperou para ver as verdadeiras razões do golpe. Fizeram o que tinham a fazer e evitaram que houvesse um vazio total de poder e que a situação se agravasse", argumentou.

Para Ramos-Horta, cabe agora às autoridades guineenses cumprirem o prometido à CEDEAO, preparando as condições para a realização de eleições gerais até ao final deste ano.

"Se tivermos pela frente um calendário explícito, com datas fixas, tenho a certeza que a CEDEAO, a CPLP e a UE (União Europeia) vão rever as posições", acrescentou, lembrando ser "normal" que haja pontos de vista diferentes entre organizações.

No mesmo sentido opinou Ovídeo Pequeno, o representante especial da União Africana (UA) para a Guiné-Bissau e antigo chefe da diplomacia de São Tomé e Príncipe que acompanha Ramos-Horta, para quem a questão das divergências entre a CPLP e a CEDEAO têm de ser "bem esclarecidas".

"A questão da CEDEAO/CPLP deve ser bem esclarecida. Antes de estarmos a tentar encontrar os pontos possíveis de divergência, é preciso encontrar os de convergência. Já se percorreu um longo caminho e as cinco organizações parceiras da Guiné-Bissau - ONU, UE, UA, CEDEAO e CPLP - estão presentes", argumentou.

"Já houve uma missão conjunta (16 a 21 de dezembro de 2012) das cinco organizações, saiu um relatório assinado por todos e estamos a preparar uma segunda missão, que acontecerá quando (as autoridades guineenses) apresentarem um Roteiro, um Pacto de Regime e um Governo inclusivo", acrescentou Ovídeo Pequeno.

JSD // APN

"Simpatizo com alguns membros do Governo" da Guiné-Bissau, diz Ramos-Horta

10 de Abril de 2013, 18:19

Cidade da Praia, 10 abr (Lusa) - O representante especial do secretário-geral das Nações Unidas para a Guiné-Bissau afirmou hoje "simpatizar" com membros do Governo guineense, que estão a fazer "o melhor" que podem para manter o país de pé.

José Ramos-Horta, que se encontra na Cidade da Praia, em Cabo Verde, para uma visita de menos de 48 horas para debater a questão da Guiné-Bissau, não adiantou nomes, destacando unicamente que alguns membros do atual Governo de transição guineense foram "empurrados" pela comunidade internacional para os cargos que ocupam após o golpe de Estado de abril de 2012.

"Simpatizo com um grupo de políticos guineenses que foram chamados, alguns deles empurrados, para participarem num Governo de Transição. Há alguns no Governo que estão a fazer o melhor que podem e sofrem pressões de todo o lado, mesmo dos militares e até da comunidade internacional", afirmou o ex-presidente de Timor-Leste.

Lembrando que algumas organizações, como a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) e a União Europeia (EU) aplicaram sanções e cortaram os apoios financeiros à Guiné-Bissau - "nem há dinheiro para o Orçamento do Estado" -, Ramos-Horta referiu que o executivo de Rui Barros está "descapitalizado".

"O Governo está descapitalizado, não tem dinheiro para pagar aos funcionários, para pagar a importação de medicamentos ou a merenda escolar. É por isso que simpatizo com alguns, que tentam fazer o melhor pelo seu país", afirmou, admitindo, porém, estar "triste e preocupado" pelo deteriorar da situação.

"É com muita tristeza e preocupação que vemos a situação muito deteriorada. Tenho muita compreensão e simpatia por alguns governantes, porque não foram eles que o fizeram o golpe de Estado (de 12 de abril de 2012), foram os militares. Devemos apoiá-los e nunca marginalizá-los e muito menos diabolizá-los", defendeu.

O representante especial da ONU para a Guiné-Bissau recusou também a ideia de que os membros do Governo são "fantoches" dos militares, refutando também a ideia de que são os militares que governam o país.

Ramos-Horta reiterou a ideia já avançada recentemente à agência Lusa em Bissau, lembrando que o Estado guineense pode desaparecer.

"Quando há golpes sucessivos e instabilidade constante, quando o Estado não faz o que deve fazer, como providenciar segurança e tranquilidade, atender às necessidades básicas da sociedade - educação e saúde - e é minado por crime organizado, deixa de ser um Estado na conceção que conhecemos", afirmou.

JSD // APN

Ramos-Horta defende que há condições políticas para eleições ainda este ano na Guiné-Bissau

11 de Abril de 2013, 15:52

Cidade da Praia, 11 abr (Lusa) - O representante especial do secretário-geral da ONU para a Guiné-Bissau afirmou hoje na Cidade da Praia que acredita na realização de eleições no país ainda este ano.

José Ramos-Horta falava aos jornalistas depois de ser recebido em audiências separadas pelo presidente e pelo primeiro-ministro de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca e José Maria Neves, com quem analisou eventuais soluções para a crise político-militar na Guiné-Bissau, desencadeada com o golpe de Estado de abril de 2012.

"Há condições políticas (para as eleições ainda este ano). O ambiente é de tranquilidade no país e todos os parceiros da Guiné-Bissau estão disponíveis para as financiar. Mas falta que a Assembleia (Nacional Popular, ANP - Parlamento) e o presidente interino nomeiem a comissão eleitoral e marquem a data", sublinhou.

Aí, acrescentou, começará o processo, com o recenseamento eleitoral, a campanha de educação cívica, que a ONU pode liderar, e mobilizar observadores nacionais e internacionais.

"Mas isso são coisas em que os guineenses e a comunidade internacional têm grande experiencia, pelo que não há razões para que não haja eleições este ano", defendeu Ramos-Horta, admitindo, porém, que as presidenciais e legislativas guineenses "não resolvem tudo".

"As eleições, por si só, não resolvem nenhum problema e todos sabem disso. O que é importante é criar condições para que haja estabilidade política no país e, para tal, é necessário definir o Roteiro da Transição, calendarizando o processo eleitoral", disse.

Ramos-Horta insistiu na ideia de que é preciso também que as autoridades guineenses elaborem o Roteiro, um Pacto de Regime e um Governo "inclusivo".

Questionado pela Lusa sobre se a vontade política se sobrepõe à dos militares, Ramos-Horta admitiu que não depende só das autoridades guineenses, indicando que as discussões em curso envolvem também as reformas do setor da Defesa e Segurança.

"Nas discussões na comunidade internacional tem sido dito que há a necessidade de as Forças Armadas serem republicanas e subordinadas ao poder politico", frisou.

Ramos-Horta desvalorizou também as acusações do Procurador-Geral da República (PGR) guineense, Abdu Mané, que disse na quarta-feira que a Guiné-Bissau tem "a má vizinhança" de um país lusófono, aludindo a Cabo Verde.

"Eu venho de um país pequeno (Timor-Leste) e uma coisa que aprendi na vida é que, quando somos pequenos e frágeis, devemos procurar não granjear mais inimigos. Pelo contrário, devemos alargar o leque dos nossos amigos", argumentou.

"Não me parece que uma política inteligente da parte de qualquer país em situação de fragilidade buscar inimigos fora de casa. Os problemas estão na Guiné-Bissau e têm de ser resolvidos na Guiné-Bissau. Os problemas não estão em Cabo Verde, Portugal ou Angola. Aconselharia que os nossos irmãos (guineenses) façam um esforço para ganhar amigos na comunidade internacional", comentou.

JSD // JMR


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