quinta-feira, 25 de abril de 2013

TRAIDORES DE ABRIL



António Veríssimo

Comemorar a Revolução de Abril 39 anos depois vai acontecer hoje à tarde por todo Portugal. Hoje pela manhã aquilo a que chamam as comemorações oficiais da Revolução dos Cravos na Assembleia da República não foi nada que se assemelhasse a tal comemoração. 

Ali, na manhã ida, sopraram os ventos do negro e do cinzento salazarista, com um perigoso e saudosista presidente da República a falar como presidente do governo que já não é reconhecido como legitimo pela maioria dos eleitores portugueses. Prevaleceu na manhã ida, naquela que deveria ser a Casa do Povo e da Democracia, a negritude de uma imposição à laia salazarista de Portugal ser desgovernado pela força da vontade de uma elite que mentiu para ser eleita e apossar-se dos poderes, de uma elite que vê na Constituição da República um empecilho aos seus métodos golpistas e ditatorias. À sua denunciada vontade e compromisso em trair Abril, trair o povo português. Nem o governo, nem o presidente da República saem beneficiados das variadas sondagens que têm sido publicadas na mídia. Uns e outro estão a exercer cargos em vontade contrária à dos eleitores portugueses. Depois, eles, a isto, chamam-lhe democracia. Como lhes convém. Mas de democracia nada terá, nada tem. Está visto.

O discurso de Cavaco Silva nesta manhã de Abril foi um verdadeiro discurso de compromisso com o governo descredibilizado de Passos Coelho. Competente só para defender e proteger os interesses de uma elite salazarista que agora dá pelo nome de Cavaquista - o salazarismo da atualidade. O discurso não foi o de alguém que se devia assumir como PR e não ser sectorial, partidário, negando a evidência, emergência e dignidade do cargo para que foi eleito - representar o interesse de todos os portugueses. Pior ainda. Cavaco Silva mostrou à saciedade que teme a democracia ao recusar que se proceda a eleições e que um governo legítimo, reconhecido nessa legitimidade pelos eleitores portugueses, tome as rédeas dos destinos de Portugal em sintonia com um consenso alargado e patriótico que terá por beneficio contribuir sobremodo para que se vença a crise gerada pelos que comem à mesma mesa de Cavaco Silva e até lhe levam negociatas em bandeja - de onde lucra aos milhares de euros. O caso Oliveira Costa, BPN, é por demais conhecido. Outros haverá?

Os portugueses que ainda não acreditavam que Cavaco Silva, no desempenho do cargo de presidente da República, era, e é, o apoio, o suporte, o garante deste governo que miserabiliza Portugal, tiveram hoje a prova. Finalmente Cavaco foi claro. Ele está do outro lado da barricada, não é um português de Abril, nem da liberdade, nem da democracia. Aproveitou-se, isso sim, da democracia, para ser eleito por via de ludibrios e facilitar a uma elite salazarista da modernidade um regime negro e cinzento semelhante ao derrubado em Abril de 1974. Cavaco Silva personifica o antigamente fascista encoberto sob a capa de democrata  Um democrata em défice preferencialmente sistemático, como o demonstrou anteriormente em mais de uma década no cargo de primeiro-ministro - quando então depauperou a agricultura, as pescas, as indústrias de Portugal, de acordo com a CEE, em troca daquilo que foi denominado "chegarem paletes de dinheiro" em camiões TIR. Dessas paletes quantas foram desembocar a contas bancárias e outros cambalachos avessos aos interesses de Portugal e dos portugueses é contabilidade que nunca foi realizada ou cientificamente publicada. Certo é que começaram a surgir novas fortunas sem se saber como. Aquele foi o tempo do fartar vilanagem que desde aí parece que não mais parou. E Cavaco Silva voltou, passados tantos anos, como presidente da República que já ninguém quer. Depois implantou um seu governo de nome Passos. O ramalhete de negritude da direita salazarista da modernidade ficou composto. 

Regressou Cavaco, regressou uma descarada direita em conluio com o capitalismo selvagem, regressou a fome, a miséria, a exploração desregrada e inadmissível dos trabalhadores portugueses. Tudo devido à "crise". Dito por eles. Crise dos portugueses, do povo, dos trabalhadores, dos jovens, dos velhos e das crianças. Crise que não é a deles. E isso vê-se, e sabe-se. Todos os dias acordam submersos na fartura que nem conseguem explicar como a obtiveram. Trair Abril foi a solução que sustenta as suas ganâncias. Conseguiram fazer-se eleger por isso e para isso. E o povo português deixou. Agora são eles que se negam a sair. São eles que negam a democracia. Não haverá democracia em Portugal enquanto um imerecido e nocivo presidente da República não der a palavra ao povo eleitor em eleições livres e democráticas. E Cavaco isso não quer dar. Trai Abril juntamente com os seus associados do seu governo e de outros caminhos que tem calcorreado longe do povo. Trair Abril, simplesmente, é a palavra de ordem dos que se apossaram dos poderes e que agora se impõem contra a maioria  dos portugueses.

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