EL – ROC - Lusa
Luanda, 25 mai
(Lusa) - Horácio Kamulingue não disfarça o desalento quando fala do sobrinho,
António Alves, desaparecido há cerca de um ano em Luanda (Angola), quando
tentava organizar uma manifestação de ex-militares, como ele, para exigir o
pagamento de subsídios alegadamente em atraso.
"Sabe, o pior
é não sabermos nada dele: se está vivo ou morto. O que queremos é que as
autoridades nos digam onde está. Se está morto, que nos devolvam o corpo para o
podermos enterrar", explicou à agência Lusa Horácio, que divide o tempo
entre Luanda, onde vive, e o Caxito, a 70 quilómetros , onde
mantém uma pequena lavra.
Os ex-militares
António Alves Kamulingue e Isaías Cassule desapareceram nos dias 27 e 29 de
maio de 2012, respetivamente, quando tentavam organizar uma manifestação de
outros ex-militares.
Talvez pelo empenho
na organização da manifestação, talvez pelo seu desaparecimento, os
ex-militares saíram à rua nos dias 07 e 20 de junho de 2012.
A iniciativa levou
as autoridades governamentais e militares a encetarem de imediato o pagamento
dos subsídios alegados, nalguns casos com 20 anos de atraso. Mas do paradeiro
dos dois desaparecidos nunca mais se soube e as famílias dividem os dias entre
casa e a Direção Nacional de Investigação Criminal.
Em dezembro de 2012
as famílias reuniram-se no Ministério do Interior com o responsável da pasta,
Ângelo Veiga, e o comandante-geral da Polícia Nacional, comissário Ambrósio de
Lemos, entre outros dirigentes dos departamentos de investigação criminal e da
Procuradoria-Geral da República.
"O senhor
ministro garantiu-nos que iriam ser feitas investigações, mas desde então
ninguém mais nos disse nada", recordou Horácio Kamulingue.
Na reunião de
dezembro participaram também jovens do autodenominado Movimento Revolucionário
(MR), que desde 07 de março de 2011 organizou em várias ocasiões, em Luanda,
manifestações antigovernamentais.
Na próxima
segunda-feira, o MR volta a organizar um ato público para não deixar esquecer
Kamulingue e Cassule.
O objetivo é
organizar uma vigília silenciosa, entre as 16:00 de segunda-feira e a manhã do
dia seguinte no Largo da Independência, na capital angolana.
As duas últimas
iniciativas públicas para não deixar esquecer os dois ex-militares foram
marcadas pela violência.
Na primeira, a 22
de dezembro de 2012, pelo menos quatro pessoas foram detidas pela polícia
durante a manifestação, autorizada pelas autoridades de Luanda e que até
começou sem incidentes desde o seu início, no Largo da Independência.
Os confrontos com a
polícia ocorreram na zona central da capital, no Largo da Maianga, quando
algumas dezenas de manifestantes tentaram progredir em direção ao Ministério da
Justiça.
O edifício fica
numa das entradas da Cidade Alta, onde se situam a Presidência da República e
outros departamentos do Estado angolano.
A segunda
iniciativa pública morreu antes de começar.
Marcada a
concentração defronte do cemitério de Santana, no passeio oposto ao Comando
Provincial da Polícia Nacional, os jovens foram sendo detidos à medida que se
tentavam concentrar, para efetua ruma marcha de três quilómetros até ao Largo
da Independência.
O resultado foi a
detenção de 12 pessoas, segundo a polícia, 18, segundo o MR.
Para segunda-feira,
e seguindo o que está disposto na legislação, o MR deu conhecimento a Governo
Provincial da realização da vigília.
Para Horácio
Kamulingue, "é preciso fazer alguma coisa".
"Isto está-nos
a custar muito", concluiu.
A Lusa solicitou à
Polícia Nacional uma declaração sobre este caso, mas não obteve qualquer
resposta.
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