FP – APN - Lusa
Bissau, 10 mai
(Lusa) - Organizações não-governamentais da Guiné-Bissau que lutam contra a
excisão genital feminina estão a promover comunidades livres de tal prática, de
acordo com um novo plano de luta hoje apresentado em Bissau.
No sábado será
feita a primeira declaração pública no bairro de Bissaque em como ali se
abandonou a mutilação genital feminina, no âmbito de um projeto de
sensibilização da organização OKANTO.
A OKANTO, com
outras três organizações não-governamentais faz parte do projeto DJINOPI
(Djintis Nô Pintcha - vamos em frente), que desde 2010 tem como objetivo lutar
contra a prática da mutilação genital feminina (fanado de mulheres).
Maria Domingas
Gomes, presidente da DJINOPI, explicou hoje que depois de uma intensa fase de
sensibilização é chegada a hora de as comunidades começarem a fazer declarações
públicas de abandono da prática.
A DJINOPI atua nos
bairros de Bissau, onde quer mudar mentalidades e "consciencializar a
população de que a excisão feminina não é uma norma religiosa mas sim uma grave
ameaça à saúde física e psicológica das crianças e das mulheres, assim como uma
violação dos direitos humanos", disse Domingas Gomes.
Até 2014,
acrescentou, a organização vai consolidar a presença nos bairros, porque
"o trabalho não termina com as declarações públicas".
A responsável
lembrou que um passo importante para pôr termo à prática foi a declaração dos
líderes islâmicos, que em fevereiro passado pronunciaram no parlamento uma
Fatwa (decreto religioso) proibindo a prática da excisão e afirmando que a
mesma não é prática do Islão nem "é do Islão". A Guiné-Bissau é um
Estado laico mas quase metade da população é muçulmana.
Maria Domingas
Gomes disse estar convencida de que o corte do clitóris das crianças é uma
prática já menos comum em Bissau, pelo menos nos bairros onde a DJINOPI
trabalha, dando como exemplo o de Bissaque, onde foram as próprias fanatecas
(mulheres que fazem a excisão) que disseram estar prontas para fazer a
declaração.
"Hoje as
fanatecas são nossas colaboradoras nos bairros", garantiu a responsável,
ainda que não possa dizer que a prática tenha sido completamente extinta.
Na Guiné-Bissau a
excisão genital feminina é proibida mas continua a fazer-se de acordo com
responsáveis que trabalham nessa área a nível nacional. Estima-se que no país
cerca de 50 por cento das mulheres entre os 15 e os 49 anos foram excisadas,
sendo mais comum nas comunidades islâmicas, especialmente do leste do país.
"Estima-se que
entre 272 mil a 500 mil mulheres e meninas estão expostas à excisão na
Guiné-Bissau", praticada em crianças entre os três meses e os 14 anos,
dependendo do grupo étnico, segundo números de Domingas Gomes. No mundo a
prática atinge três milhões de mulheres em 28 países.
Sem comentários:
Enviar um comentário