NRC
Handelsblad, Amesterdão – Presseurop – imagem Hajo / Caglecartoons
O presidente do
Eurogrupo está a receber cada vez mais críticas. Depois de algumas gafes
políticas, é agora acusado de ser excessivamente influenciado pela sua equipa
de arrogantes funcionários do Ministério das Finanças holandês.
Às oito da noite de
13 de maio ficou a saber-se que os 17 ministros das Finanças da zona euro
tinham acabado a sua reunião. “Finalmente, o Eurogrupo tem um gestor eficiente”,
foi o comentário de um diplomata de um dos países do euro. Que gosta de manter
as rédeas curtas quando lidera reuniões é um dos poucos elogios que o ministro
holandês Jeroen Dijsselbloem recebeu desde que assumiu
a presidência do Eurogrupo, em janeiro.
Basta fazer algumas
perguntas a altos funcionários europeus e de governos nacionais e a outras
partes envolvidas para obter uma longa ladainha de queixas. Um dos aspetos que
irrita muita gente é o facto de os funcionários holandeses do Ministério das
Finanças estarem paulatinamente a assumir a coordenação do Eurogrupo. Como
resultado, os pontos de vista coletivos têm um pendor holandês muito maior do
que era costume até então.
Nomeação
orquestrada pelos alemães
Ao contrário do seu
antecessor, Jean-Claude Juncker, Dijsselbloem contratou um grande número de
funcionários do Governo holandês para o Eurogrupo, o que parece confirmar a
antiga fama de que os holandeses “falam muito e gostam de dizer aos outros como
devem fazer”.
A nomeação de
Dijsselbloem foi orquestrada pelos alemães. Quando, no ano passado, Juncker
anunciou que deixava o cargo, o ministro alemão das Finanças Wolfgang Schäuble
quis ser o seu sucessor. No entanto, quase toda a gente discordou dessa ideia
porque uma Alemanha já dominante passaria a ser dona e senhora da zona euro.
Quando, em novembro, Dijsselbloem sucedeu a [Jan Kees] de Jager e a Holanda
pareceu adotar uma postura mais moderada, Schäuble passou a olhá-lo como uma
alternativa leal. Não faltou quem manifestasse as suas dúvidas. Outros perguntaram:
“Esta é uma missão que um ministro pode desempenhar ‘a meio tempo’?”,
“especialmente alguém novo no cargo”, acrescentavam outros. Mas Schäuble, no
entanto, não queria um presidente permanente e a tempo inteiro, temendo vir a
deparar-se com mais uma instituição europeia. Schäuble queria que a presidência
continuasse nas mãos de uma “capital europeia” porque, pelo menos ali, sabe-se
o que se passa no mundo.
Mas, aparentemente,
Schäuble mudou de opinião. Segundo algumas fontes bem informadas, a chanceler
alemã Angela Merkel começa a estar convencida de que a Europa deve ter uma
presidência e, isto, por várias razões.
Nostalgia de
Juncker em Bruxelas
Para começar, em
fevereiro, Dijsselbloem recusou
excluir a possibilidade dos titulares de contas terem de ajudar a pagar as
perdas dos bancos de Chipre. E isso acabou por provocar uma fuga de capitais.
Depois, em março, aconteceu a tristemente célebre longa noite de negociações
sobre Chipre. Foram tantos os participantes a ameaçarem opor o seu veto que
contornar todos esses vetos se tornou um objetivo em si mesmo. E isso acabou
numa decisão
lamentável: os aforradores que tinham menos de €100 mil no banco, cobertos
pelo Sistema Europeu de Garantia de Depósitos, perderam parte do seu dinheiro.
Muitos observadores se perguntaram se Juncker teria permitido tal coisa. “Mas
Jeroen Dijsselbloem, que ouve sobretudo os seus colaboradores em Haia, não fez
nada”, diz um alto funcionário europeu.
Outro dos problemas
que Dijsselbloem enfrenta é um certo vento de nostalgia a favor de Jean-Claude
Juncker que sopra em Bruxelas. Juncker, o único outro presidente que o
Eurogrupo alguma vez teve (desde 2005), é um federalista de uma espécie rara:
tem autoridade. O seu espírito confuso e o seu problema de álcool parecem
esquecidos.
Berlim irritada
A seguir, no final
de março, Berlim não gostou das
declarações de Jeroen Dijsselbloem ao Financial Times. O presidente do
Eurogrupo defendeu que os titulares de contas bancárias deveriam, a partir de
agora, dar uma contribuição financeira mais frequente em caso de resgate dos
bancos. Os países europeus ainda estão a negociar este assunto. Nem todos os
países são favoráveis a esta solução. Entre os seus partidários, o calendário
suscita desacordo, bem como a questão de saber quem devem ser os primeiros
sacrificados: os acionistas, os detentores de obrigações ou os titulares de contas?
Depois destas
declarações de Dijsselbloem, as ações dos bancos europeus caíram. Isso não lhe
custará a cabeça, diz um funcionário europeu. “Mas basta que a notação de um
único banco europeu desça para que a cabeça dele role.”
Uma pessoa a tempo
inteiro para o cargo
Pode perguntar-se
se a escolha de um outro ministro como presidente do Eurogrupo não levantará os
mesmos problemas. Assim, em vez de encararem a possibilidade de o substituírem,
alguns defendem, para aquele cargo, uma pessoa a tempo inteiro, que não esteja
à frente de um ministério nacional e que possa servir o interesse coletivo. “A
melhor solução para o Eurogrupo”, diz Peter Ludlow, reconhecido historiador do
Conselho Europeu, “seria a nomeação de um presidente permanente e com
experiência. Uma pessoa a meio tempo e com dois cargos, não funciona”.
Toda a gente
concorda que não é fácil liderar o Eurogrupo. Para além de 17 ministros é também
composto por três membros da troika:
o BCE, a Comissão Europeia e o FMI. Por vezes, as reuniões são tão tensas que
há pequenos grupos que se isolam para tentarem primeiro entender-se entre si e,
depois, convencerem os outros. Umas vezes, são os países dotados de um “triplo
A” que preparam as decisões, nos bastidores. Outras, é o “clube
de Frankfurt”: alguns dos maiores países da zona euro, o BCE e o FMI. Tudo
se passa fora das estruturas, de maneira que os grandes, por vezes, espezinham
os mais pequenos.
“O Eurogrupo é do
século passado”
“O Eurogrupo é do
século passado. Simboliza todos os falhanços da arquitetura da Europa”, diz
Guntram Wolff, do grupo de reflexão Bruegel. No entanto, para retirar o direito
de veto aos países do Eurogrupo e funcionar com votações por maioria, se os
governos assim quiserem, será preciso alterar o tratado europeu.
Uma tal alteração
do tratado pode demorar anos a ser feita. Uma alternativa poderia ser a
celebração de um tratado diferente para a zona euro, que dissesse unicamente
respeito aos países da zona euro. Mas essa iniciativa também não pode ser posta
em prática de um dia para o outro. Enquanto espera, o Eurogrupo tem de fazer
aquilo que pode. É por isso que tudo depende do peso e do tato do presidente.
Talvez seja pedir demais a um ministro.
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