segunda-feira, 7 de outubro de 2013

MACHETE, ANGOLA E OS OUTROS

 


Henrique Monteiro – Expresso, opinião - ontem
 
Rui Machete não devia ter entrado no Governo. Ou já devia ter saído, depois de tal forma ter metido os pés pelas mãos acerca da posse de ações na SLN e de cargos desempenhados no BPN que não nos deixou outra hipótese senão a de pensarmos que estava a mentir.
 
Mas a mim, pessoalmente, diverte-me este episódio angolano. As boas almas pensam agora que o ministro dos Negócios Estrangeiros cometeu um crime de lesa-pátria por ter pedido desculpa a Angola acerca de investigações judiciais sobre dirigentes daquele país que decorrem em Portugal. As boas almas esquecem os sorrisos cúmplices de Sócrates, as mesuras de valete de Relvas, os silêncios cúmplices de Cavaco por cada afronta que aquele país fez a Portugal. As boas almas esquecem que há pessoas - jornalistas e órgãos de comunicação social - proibidosde entrar em Angola porque assistiram ou podem relatar a tripa-forra daquelas fortunas. As boas almas esquecem os editoriais do Jornal de Angola, órgão dominado pelo poder angolano em cada linha e entrelinha, onde foram atacadas personalidades portuguesas - ministros, presidentes, ex-presidentes. As boas almas esquecem as afrontas sofridas.
 
Mas agora que Machete se humilhou ao ponto de pedir desculpa por incomodarmos uns oligarcas abrindo-lhes um processo judicial em Portugal, indignam-se com o homem!
 
Rapazes, Machete só fez explicitamente o que vós todos fizestes implicitamente. O mal não é Angola ter um regime de que se gosta ou não, o mal é o país que é Portugal ter esta atitude subserviente há anos e que, finalmente, um MNE tornou clara aos microfones de uma rádio de Luanda. Sim! Queremos saber do dinheiro, do bago, do investimento. De resto, somos atentos, veneradores e obrigados ao regime de José Eduardo dos Santos e família, fingindo que tudo aquilo é normal. Machete que anda há muito na política, achou que isto era para deixar claro; a maioria dos que o criticam pensava que isto era para praticar sem nunca se dizer.
 
De resto, Machete foi igual a muitos outros...
 

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