Henrique Monteiro –
Expresso, opinião - ontem
Rui Machete não
devia ter entrado no Governo. Ou já devia ter saído, depois de tal forma ter
metido os pés pelas mãos acerca da posse de ações na SLN e de cargos
desempenhados no BPN que não nos deixou outra hipótese senão a de pensarmos que
estava a mentir.
Mas a mim,
pessoalmente, diverte-me este episódio angolano. As boas almas pensam agora que
o ministro dos Negócios Estrangeiros cometeu um crime de lesa-pátria por ter
pedido desculpa a Angola acerca de investigações judiciais sobre dirigentes
daquele país que decorrem em Portugal. As boas almas esquecem os sorrisos
cúmplices de Sócrates, as mesuras de valete de Relvas, os silêncios cúmplices
de Cavaco por cada afronta que aquele país fez a Portugal. As boas almas
esquecem que há pessoas - jornalistas e órgãos de comunicação social -
proibidosde entrar em Angola porque assistiram ou podem relatar a tripa-forra
daquelas fortunas. As boas almas esquecem os editoriais do Jornal de Angola,
órgão dominado pelo poder angolano em cada linha e entrelinha, onde foram
atacadas personalidades portuguesas - ministros, presidentes, ex-presidentes.
As boas almas esquecem as afrontas sofridas.
Mas agora que
Machete se humilhou ao ponto de pedir desculpa por incomodarmos uns oligarcas
abrindo-lhes um processo judicial em Portugal, indignam-se com o homem!
Rapazes, Machete só
fez explicitamente o que vós todos fizestes implicitamente. O mal não é Angola
ter um regime de que se gosta ou não, o mal é o país que é Portugal ter esta
atitude subserviente há anos e que, finalmente, um MNE tornou clara aos
microfones de uma rádio de Luanda. Sim! Queremos saber do dinheiro, do bago, do
investimento. De resto, somos atentos, veneradores e obrigados ao regime de
José Eduardo dos Santos e família, fingindo que tudo aquilo é normal. Machete
que anda há muito na política, achou que isto era para deixar claro; a maioria
dos que o criticam pensava que isto era para praticar sem nunca se dizer.
De resto, Machete
foi igual a muitos outros...
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