Verdade (mz) - editorial
A liberdade dos
povos, em qualquer parte do mundo, foi conquistada com sangue, abnegação,
privação e sacrifícios hercúleos. A história de Moçambique é a prova disso. Foi
preciso jorrar sangue das gerações de outrora para o país ganhar a sua
soberania. Houve muita traição pelo caminho e soldados que apunhalaram pelas
costas a causa comum. Os que venceram criaram os seus heróis e diabolizaram os
seus oponentes.
Até nos países onde
as mudanças tiveram um condão, diga-se, pacífico o chão continua coberto de sangue
dos activistas da liberdade que tombaram pela arrogância dos que se julga(va)m
donos e senhores dos direitos fundamentais dos demais. A democracia não seria
possível sem a guerra dos 16 anos. Independentemente da causa primária da
Renamo foi, diga-se, um processo manchado de sangue o que corrobora que não há
liberdade sem sacrifício.
A liberdade de
imprensa em Moçambique, por exemplo, floresceu com o sangue de Cardoso.
Portanto, a narrativa nacional sobre a luta pela determinação jorrou, regra
geral, do povo e de grandes homens, esse líquido vermelho que corre nas veias
do ser humano. O fiasco da cesta b(fr)ásica só foi criado depois do sangue de
Hélio regar a Avenida Acordos de Lusaka. Ou seja, tudo o que conseguimos
envolveu sangue. As eleições de Daviz Simango e Manuel de Araújo, em contextos
diferentes, contaram com sangue e injustiças. Agressões desnecessárias e a
força das armas e das bastonadas de uma Polícia não foram suficientes para
impedir as revoluções na zona centro.
Portanto, tudo foi
conseguido com sangue. Não há meio-termo para libertar o país da garra dos
opressores fantasiados de libertadores. Eles defendem o país que acreditam ser
sua pertença com armas, perseguições e sonegação da liberdade. O que vemos, nos
dias que correm, é que há muito pouca gente desposta a dar o seu sangue pela
liberdade. Permanecemos, todos, em cima do muro a lançar impropérios, mas
ninguém sai à rua para pregar um novo caminho.
Apenas protegidos
por um computador é que conseguimos gritar: “ladrões, corruptos...”. Isso todo
o mundo já sabe, mas não faz nada. Será que estamos dispostos a libertar o país
dos opressores com o nosso próprio sangue? Ou vamos continuar a deixar ficar
recados protegidos em condomínios e no conforto dos nosso carros topo de gama?
Quando é que vamos abandonar a Julius Nyerere, as Somerchield 1 e 2 para falar
para as massas? Quando é que vamos apoiar com instrução os povos oprimidos da
periferia da torre de marfim onde habitamos?
Jamais seremos
livres. Nós só gritamos, mas não abdicamos de uma única gota do nosso sangue
pelo próximo. Somos mesmo um país de cobardes...
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