sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Portugal: A AVALIAÇÃO DA TROIKA

 

Diário de Notícias, opinião
 
A revisão em curso do Programa de Assistência Económica e Financeira (PAEF) de Portugal está concluída com êxito. O que significa "com êxito"? Significa, no caso vertente, que o Governo de Portugal se viu forçado a aceitar a lógica férrea de quem está na posição de credor de último recurso.
 
A troika veio desta vez a Lisboa para se deparar com uma curiosa inversão de fatores entre a economia e as finanças do País. Até à conclusão da 7ª. revisão (a 13 de maio), a determinação em reduzir o défice público por parte do Executivo e da maioria parlamentar que o sustenta granjeara o alívio relativo dos credores, permitindo a descida continuada dos juros da dívida a 2, 5 e 10 anos, na sequência da ameaça de intervenção do BCE com o poderoso míssil de compra de dívida pública já emitida de países do euro em dificuldades. Em contrapartida, na esfera económica, tudo parecia cair sem fim: o produto, o emprego, a capacidade para reagir e dar a volta ao recuo de muitos anos provocado pelo aperto de cinto da austeridade. Agora, dá-se precisamente o contrário: a desconfiança dos credores cresceu dos 5% de juros a 10 anos para a casa dos 7%, justamente quando começam a aparecer os sinais percursores de um difícil levantar de cabeça da economia real.
 
Para quebrar o novo surto de desconfiança do mercado, na vontade e capacidade de Portugal honrar os seus compromissos, a troika insiste em dar sinais exteriores de estar superada a crise interna da coligação de julho passado e de se ter renovado a vontade de continuar a fazer descer o défice público de forma permanente. Toda a retórica do novo ciclo ciclo político, por parte de Paulo Portas e Maria Luís Albuquerque, que abrandaria o ritmo dos sacrifícios e apostaria mais em medidas de apoio ao crescimento económico, levou a coisa nenhuma. Quem empresta ou vai ter de novo de garantir os empréstimos necessários à República Portuguesa é que manda. Eles é que dizem qual a dose adequada de políticas internas a seguir para reanimar a confiança dos detentores do dinheiro. O resto serviu apenas para mudar a correlação de forças entre os aliados amigos/desavindos.
 

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