António
Fernando Nabais - Aventar
Em declarações
à Rádio Nacional de Angola, Rui Machete pediu “diplomaticamente” desculpas
por haver figuras do regime angolano a serem investigadas pela justiça
portuguesa. Se, algum dia, vier a ser investigado, apesar de, por enquanto, não
fazer parte do regime angolano, espero merecer o mesmo tratamento de um
qualquer membro do governo português. Pela minha parte, estão, desde já,
desculpados, mas que não volte a repetir-se.
Nessas mesmas
declarações, Machete acrescenta às desculpas a declaração de impotência,
lembrando que o governo português não pode intervir nas investigações.
Resumidamente, o ministro pede desculpa a um país estrangeiro por haver uma
entidade pública portuguesa que, tanto quanto se sabe, está a cumprir o seu
dever. Não deixa de ser uma novidade refrescante pedir desculpa por se cumprir
um dever.
Para complementar o
seu pedido de desculpas, Machete afirma que pediu informações à Procuradora-Geral da República. Posteriormente, veio desmentir as suas próprias declarações, explicando que se
baseou num comunicado do DCIAP. Talvez alguém devesse explicar ao ministro que
pedir informações a uma pessoa ou ler um comunicado não são a mesma coisa.
Talvez não valha a pena explicar ao mesmo ministro que proferir incorrecções factuais é feio, porque já lá vai o
tempo em que devia ter torcido o pepino.
A subserviência ao
poder económico, sobretudo se estrangeiro, é típica desta raça de pequenos
políticos que conseguem manter-se em cargos importantes, graças à ausência de
vergonha. É esta mesma gente que sacrifica o próprio povo porque recebe ordens
da Alemanha, que pede desculpas a um regime corrupto por causa do petróleo
angolano ou que cria o caos ortográfico à espera dos restos do colosso
económico brasileiro.
Num país
civilizado, Machete sairia do governo a bem ou a mal. O problema é que, num
país civilizado, não teríamos uma nulidade como presidente da República e uma
pessoa factualmente incorrecta como primeiro-ministro. É, portanto,
compreensível que o ministro se mantenha no cargo, mesmo que não saiba
desempenhar a função. Nada de novo.
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