Martinho Júnior, Luanda
1 – O ano que terminou foi para a CELAC muito importante em termos de amadurecimento, sendo de salientar o papel impressivo de Cuba em prol dos consensos comuns, das possibilidades e potencialidades dos objectivos tendo a Pátria Grande no horizonte e do lançamento dos caboucos com vista à (longa) marcha de integração, solidariedade e desenvolvimento sustentável dos povos da América Latina e Caribe, a pouco mais de 200 anos das independências de bandeira e imediatamente a sul dos Estados Unidos.
Cuba soube aproveitar o seu mandato de um ano para cultivar os caboucos da CELAC com sabedoria, dinamismo, espírito de abertura e de vanguarda, disposta a transmitir seus imensos conhecimentos e recursos humanos, empolgando os outros membros ao ponto de eles, em massa, terem estado presentes na Cimeira de Havana.
A IIª Cimeira, que ocorreu num propositado ambiente azul-marinho, suave e inspirador, foi mesmo um aquário onde todos os peixes tiveram oportunidade de nadar sem constrangimentos, em busca de consensos e sobretudo sem interferência alguma, ou livre arbítrio directo do império!
2 – A CELAC não adoptou construções de carácter neo liberal, é uma construção “desamericanizada” que passou a reflectir o pensamento e a acção daqueles que, 200 anos depois do içar das bandeiras da independência na América Latina, lutam agora para que ela não seja formal, pelo contrário, seja efectiva e se torne irreversível!
O Comandante Hugo Chavez esteve na forja e é um dos principais obreiros da iniciativa supra nacional apostada nesse caminho confluente e integrador, o caminho apontado à Pátria Grande, conforme sublinha Alfredo Mancilla numa lúcida intervenção na Carta Maior:
“Poucos se lembrarão da inesperada viagem que Chávez fez a Cuba em 1994, meses depois de cumprir pena na prisão por seu levante militar.
Essa visita a Cuba aconteceu depois de Chávez percorrer boa parte da região sem ser notado (recebido apenas na Argentina; passou rapidamente pelo Uruguai e pelo Chile; e foi bem acolhido somente por um sector da esquerda colombiana).
Fidel, surpreendentemente, foi esperá-lo no aeroporto, como um sinal de que esse novo líder não poderia deixar de ser atendido.
Nessa conversa, Chávez, na contramão da utopia neoliberal, argumentou sobre a necessidade da segunda independência ancorada em um continente latino-americano e caribenho, integrado por uma só nação”.
E foi a isto que Rafael Correa, Cristina Kirchner, Evo Morales e Nicolás Maduro se referiram vinte anos depois.
A América Latina, com a Celac como bandeira, e não com a OEA, está mais desnorteamericanizada do que nunca. Uma condição necessária, embora não suficiente para uma descolonização integral”.
O ambiente de hoje é de luta, por que a construção consensual, confluente e integradora necessita de paz, de aprofundamento da democracia, da valorização do homem e por essa via, das organizações sociais que na América Latina têm tantas raízes e tradições.
A CELAC nesses termos é também uma forma de adopção de filosofias, de ideologias e de políticas que levam em especial atenção e recorrem aos dados referentes à história e à antropologia cultural: os consensos e as confluências respeitam o passado e a resistência dos povos originários da América Latina, colocando sob pressão crítica tudo o que diz respeito à conquista, à escravatura, à colonização, à neocolonização e à neoliberalização!
A resistência valoriza a história contada de outra maneira, do lado de quem sofreu a opressão e se foi libertando dela e valoriza a cultura, desde as suas bases ancestrais!
Como é aprendizagem de vanguarda, a IIª Cimeira teve a presença da ONU (Organização das Nações Unidas), por via do seu Secretário-Geral, Ban Ki-Moon, da OEA (Organização de Estados Americanos, que responde às ordens do império), através de José Miguel Insulza e da CEPAL (Comissão Económica Para a América Latina), com Alícia Bárcenas.
A União Africana perdeu um oportunidade de estar presente como observadora e isto atesta o estado de vulnerabilidade em que ela se encontra, a sua alienação e a submissão das suas elites ao “diktat” das terríveis ementas que são-lhe impostas de fora, sobretudo pelo império e pelas substâncias instrumentais que lhe dão corpo, recorrendo quantas vezes a processos neoliberais que incluem a aplicação da “doutrina de choque”, conforme teoriza e aponta Naomi Klein!!!
3 – As resistências históricas e culturais assumem com expressão as linhas mestras da construção sob a CELAC e aí cabem todos os processos revolucionários vividos na América, os de ontem como os de hoje: há pois toda uma imensa harmonia e coerência no que está a ser trilhado, o que confere consistência logo no arranque das iniciativas.
Estados como o Brasil, a Argentina e a Venezuela estão a assumir o eixo dos protagonismos estruturais, a Venezuela com a vantagem da sua força moral e económica na ALBA e no PETROCARIBE!
A América Latina como um imenso espaço humano, económico e sócio-político, enquanto Pátria Grande, está à altura de lidar com outros emergentes como a China, impulsionando as potencialidades dos BRICS.
O Brasil está a procurar liderar esse processo multipolar estruturante e a 1ª fase da construção do porto de águas profundas de Mariel em Cuba, que acaba de ser inaugurado à ilharga da CELAC, inscreve-se nesse desafio.
Desbloquear Cuba está a ser feito com a integração dos ganhos da revolução cubana e do povo cubano no imenso espaço físico geográfico da América Latina e Caribe, em benefício dos povos!
A educação e a saúde são factores-chave para o homem e Cuba está a colocar sua imensa sabedoria nesses campos, a fim de todos os povos responderem aos resgates que necessário se torna realizar em função do subdesenvolvimento crónico que advém do passado, em resultado da conquista, da escravatura e do colonialismo, bem como do neocolonialismo e do neoliberalismo, sócios rampantes da opressão e do fascismo contemporâneos!
Os vínculos emanados pelo império, são uma injecção de veneno que está a ser aplicada de forma persistente e contínua, através de todo o tipo de canais que são possíveis estender por parte do império: o neoliberalismo e o fascismo levam já mais 40 anos, sobretudo desde o sangrento golpe de estado no Chile que derrubou o governo progressista do emérito Presidente Salvador Allende… e o Condor continua bem presente!
Logo a seguir à IIª Cimeira da CELAC, a Venezuela uma vez mais sente o cheiro a enxofre que o Condor exala!
A Venezuela com suas enormes potencialidades, tem sido um dos principais alvos para o Condor neoliberal e fascista, tal como Cuba revolucionária e humanizada pelo socialismo, mas da parte de outras nações mais vulneráveis e fragilizadas, a compreensão da CELAC não se deixa de fazer sentir, o que é um alento para todos aceitarem os termos da luta!
Por isso a Venezuela e Cuba sofrem os impactos contantes da pressão do império e respondem à letra: além de garantirem a defesa das suas conquistas, há toda uma cultura de paz centrada no homem que responde às agressões do império, que por seu turno não tem mais alternativa senão mover suas engrenagens, seus agentes, suas oligarquias mercenárias, seu inveterado fascismo… por que só pela força, pelo egoísmo, pela ingerência e pela tensão constante, manipuladora, cínica e mentirosa, conseguem espaço de manobra para assim procurar disputar o poder e avassalar as mentes!
Com a IIª Cimeira da CELAC está-se a frio, em busca de consensos harmoniosos, mas recorrendo sempre a todos os sentidos, em plena Idade do Aquário e na recuperação dos trilhos da Pátria Grande!
Que contraste salutar, em nome da vida, à pretensão abrasadora e hegemónica do império, face às suas pérfidas maquinações, ao seu poderio e aos seus venenos!
A frio, a condizer com as cores definidas para a IIª Cimeira da CELAC, inteligência ou arma alguma poderá opor-se à vontade dos povos, quando eles decidem seguir os trilhos da lógica com sentido de vida!
Foto: O aquário da IIª Cimeira da CELAC.
A consultar:
- A América Latina na CELAC – http://paginaglobal.blogspot.com/2014/02/a-america-latina-da-celac.html
- América Latina y el Caribe, declarada zona de paz – http://www.cubadebate.cu/especiales/2014/01/29/america-latina-y-el-caribe-declarada-zona-de-paz-documento/
- CELAC en La Habana: el desafío de construir una agenda propia y un destino común – http://www.rebelion.org/noticia.php?id=179885
- Discurso de abertura do presidente cubano Raúl Castro Ruz – http://convencao2009.blogspot.com/2014/01/ii-celac-discurso-de-abertura-do.html?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+blogspot%2FyqJas+%28Solid%C3%A1rios%29
- EEUU contraataca tras ser noqueado por la Patria Grande en Cumbre CELAC – http://www.cubadebate.cu/opinion/2014/02/06/ee-uu-contraataca-tras-ser-noqueado-por-la-patria-grande-en-cumbre-celac/
- El camiño de los liberaors se consolidó en La Habana – http://www.cubadebate.cu/?p=351169
- El discurso de José Mujica en CELAC: tenemos que integrarnos – http://www.cubadebate.cu/especiales/2014/02/03/el-discurso-de-jose-mujica-en-celac-tenemos-que-integrarnos/
- La CELAC y la rebeldia de los pueblos – http://www.rebelion.org/noticia.php?id=179847
- La Patria Grande unida es un verdadero dolor de cabeza para EE.UU. – http://www.rebelion.org/noticia.php?id=179886
- O quase milagroso fortalecimento da Celac e o sonho da "Pátria Grande" – http://convencao2009.blogspot.com/2014/01/o-quase-milagroso-fortalecimento-da.html?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+blogspot%2FyqJas+%28Solid%C3%A1rios%29
- Xi Jinping felicita éxito de la II Cumbre de la Celac – http://www.cubadebate.cu/?p=351269
Sem comentários:
Enviar um comentário