Maria João Guimarães - Público
Polícia disparou
contra imigrantes que tentavam chegar a Ceuta a nado. Pelo menos 15 morreram.
Era só preciso
nadar cerca de 30 metros e o mar estava calmo. Dali, de Marrocos, a Ceuta,
território espanhol, não faltava muito. A Europa já não era uma miragem. Alguns
250 imigrantes, que vinham já desde longe, de vários países de África
subsariana, pensaram que poderiam ter de nadar e vinham preparados com coletes
salva-vidas. Antes, alguns tentaram ir a pé por estrada mas não conseguiram. O
mar parecia uma boa opção.
“Cerca de 150
lançaram-se à água”, contou ao diário El Mundo Joseph Nyamen, camaronês, por
Skype. “Havia um grupo de bons nadadores que saiu primeiro e já estava em
Espanha, nós íamos atrás.” E foi então que aconteceu: “Íamos avançando quando a
Guarda Civil começou a disparar balas de borracha e gás [lacrimogéneo]. A mim
atingiram-me na nuca. Nunca tínhamos vivido nada assim”. Nyamen ficou atordoado
mas recuperou, e conseguiu voltar a nado para Marrocos. Pouco depois, começaram
a chegar à praia os corpos dos mortos.
Esta é a versão dos
imigrantes, e o que disse Joseph Nyamen ao El Mundo era muito semelhante ao que
contaram vários outros sobreviventes ao El País.
Neste caso há
várias afirmações contraditórias, a começar pelas próprias autoridades
espanholas. O representante do Governo espanhol em Ceuta e o director da Guarda
Civil desmentiram inicialmente que tivesse havido o disparo de balas de
borracha pela polícia contra os imigrantes no mar naquele dia 6 de Fevereiro.
Mas o ministro do
Interior, Jorge Fernández Díaz, acabou por admitir no Parlamento que houve
disparo de balas de borracha. Negou, no entanto, que estas tivessem sido
disparadas directamente para os imigrantes, que tivessem furado coletes
salva-vidas de alguns deles, ou que tivessem provocado qualquer uma das mortes
dos que se afogaram. Cinco dos corpos foram encontrados em águas espanholas,
dez em marroquinas.
Womsi Desire, um
camaronês que foi um dos primeiros sobreviventes a ser ouvidos pelos media
espanhóis, disse que viu um dos seus companheiros de viagem perder o colete,
esvaziado por uma bala de borracha.
A Comissão Europeia
já deu mostras de inquietação. A comissária dos Assuntos Internos, Cecilia
Malmström, quer ouvir uma explicação de Espanha sobre este assunto. No Twitter,
Malmström afirmou estar “muito preocupada” e sublinhou que as acções dos
Estados-membros devem ser “proporcionadas” e respeitar os direitos e dignidade
humanas. Mais, “como guardiã dos tratados, a Comissão Europeia reserva-se o
direito de dar os passos adequados se houver provas de que um Estado-membro
violou a lei europeia”, disse um porta-voz de Malmström citado pelo diário El
País.
As autoridades
espanholas dizem que dispararam depois de alguns dos imigrantes terem lançado
pedras contra a parte espanhola da fronteira em terra, perto da praia de onde
tinham saído. Alegam que raramente viram atitudes tão violentas da parte de
imigrantes. Os imigrantes dizem que o fizeram, por indignação, depois de ver os
cadáveres dos companheiros mortos. Argumentam que ficaram espantados: esperavam
brutalidade por parte da polícia marroquina, não da espanhola.
Há ainda outra
discordância entre a versão dos sobreviventes e a das autoridades: os
imigrantes dizem que um grupo de alguns (não mais de 20) chegou a pisar solo
espanhol, e que foram mandados para trás, a pé, para território marroquino. O
Governo repete que nenhum conseguiu chegar a Ceuta.
Várias Organizações
Não Governamentais (ONG), incluindo a Human Rights Watch, pediram ao Governo
espanhol para investigar a morte dos imigrantes e verificar o inventário de
material anti distúrbios.
Mas uma coisa é
certa. Muitos destes imigrantes não vão voltar a tentar chegar à Europa.
"Tiraram-nos a esperança”, disse Joseph Nyamen.
Na foto: Imigrante
protesta em Madrid contra a actuação das autoridades espanholas em Ceuta Juan
Medina/Reuters
1 comentário:
Pois é está na altura de Europa apoiar o desenvolvimento dos paises Africanos.
Os emigrantes, são gente de bem, que quer um trabalho para sustentar a familia, não quer nada de mais.
Beijinhos da Querida Lucrécia
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