quarta-feira, 2 de abril de 2014

SÉGOLÈNE ROYAL E ALA ESQUERDA DO PS COM PESO NO NOVO GOVERNO FRANCÊS




"Governo de combate" de Manuel Valls não inclui ecologistas e é resultado de intensas negociações com as diferente fações do PS.

Daniel Ribeiro, correspondente em Paris – Expresso

As negociações para definir a composição do novo Governo francês foram difíceis. O primeiro-ministro Manuel Valls esteve reunido mais de duas horas, na manhã desta quarta-feira (a partir das 8h, 7h em Lisboa) com o Presidente François Hollande, no Eliseu.

Como se previa, Ségolène Royal, ex-candidata à presidência francesa e mãe dos quatro filhos de Hollande, regressa ao centro do poder em França. Depois da separação de Hollande de Valérie Trierweiller, Ségolène viu caírem os obstáculos que a impediam de assumir um posto de relevo no Governo. É a nova ministra da Ecologia, do Desenvolvimento Durável e da Energia.

Entre os nomes mais fortes do Governo de Manuel Valls, de assinalar que Laurent Fabius permanece ministro dos Negócios Estrangeiros (agora também com a pasta do Comércio Externo) e que Michel Sapin passa do ministério do Trabalho para as Finanças.

Arnaud Montebourg e Benoit Hamon, ambos da ala esquerda do PS, sobretudo este último, que tem uma "corrente" bem organizada no partido, são promovidos. Montebourg é o novo ministro da Economia e da Recuperação Económica e Hamon passa a ministro da Educação. Pierre Moscovici, que era ministro da Economia e Finanças, sai do Governo. Christiane Taubira permanece na Justiça e Jean-Yves le Drian na Defesa.

Trata-se de um Governo muito mais restrito do que o anterior, com apenas 16 ministros, "de combate", como anunciou na segunda-feira o chefe de Estado, e é o resultado de equilíbrios delicados e negociados até ao mais pequeno detalhe entre as diversas facções socialistas. Hoje apenas foram divulgados os nomes dos ministros - os dos secretários de Estado serão anunciados posteriormente.

Viragem à direita?

Desde a sua nomeação, a seguir à derrocada dos socialistas nas autárquicas dos dois últimos fins de semana, Manuel Valls esteve praticamente em reuniões permanentes com os novos e antigos ministros e ainda com os ecologistas, cujo partido recusou entrar para o novo Executivo, e com as diversas tendências do PS francês.

A sua designação como chefe do Governo não tinha sido bem acolhida pela ala esquerda do seu partido, mas a nomeação de Hamon para o ministério da Educação garante-lhe certamente o apoio da maioria do PS.

Valls é da ala direita - "social-democrata" - do PS e foi a escolha de François Hollande para responder aos resultados eleitorais nas autárquicas, que se traduziram numa clara viragem à direita na relação de forças dos partidos políticos no país. 

Ao designar Valls para a chefia do Executivo, o Presidente seguiu a viragem do país e não a do seu eleitorado que, ao abster-se massivamente nas municipais ou ao votar contra o PS, pediu o contrário - o respeito pelas promessas de Holande durante a campanha eleitoral para as presidenciais, em 2012, que eram de esquerda.

Na foto: Ségolène Royal, ex-companheira de François Hollande, é a nova ministra da Ecologia, do Desenvolvimento Durável e da Energia - Getty

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