Rita Tavares –
jornal i
O teste eleitoral
das europeias não correu tão bem como Seguro esperava e o PS pede uma análise
realista. António Costa volta às contas dos socialistas com dúvidas sobre o
actual líder
Anteontem à noite,
no Hotel Altis, pediam-se sorrisos aos socialistas no andar onde estavam
instalados os directos televisivos. O resultado eleitoral não chegava para os
provocar de forma espontânea. Por trás desta fachada, o partido voltou a
fervilhar, mas agora com cautelas. Se há dúvidas sobre as capacidades de
Seguro, também há desconfiança sobre a real vontade de António Costa de
desafiar a liderança nesta fase.
O autarca
socialista voltou a ser o nome falado para substituir Seguro, sobretudo pela
análise que fez a um resultado curto do PS. "Para ganhar eleições em
condições de governabilidade não basta ganhar por um voto", disse. Entre
os críticos de Seguro nasceu de novo a expectativa, mas desta vez contida.
"Ninguém vai dizer nada, as pessoas estão escaldadas", diz ao i um
dirigente socialista recordando a quase-candidatura de Costa no início de 2013,
que acabou por deixar pendurados muitos dos seus apoiantes.
Para os críticos da
actual direcção, "Costa estará disponível, mas à espera de uma vaga de
apoio. Só que isso só acontecerá com ele a liderar". Entre os habituais
apoiantes de Costa pouco se arrisca e aguarda-se a reunião da Comissão Nacional
do PS no sábado, que vai analisar a votação nas europeias. "Não há
desculpas para uma nova falsa partida", atira outro socialista. Mas a
expectativa é que apareça uma voz suficientemente forte que desencadeie
naturalmente aquilo que os estatutos, alterados por Seguro, tornaram mais
difícil: disputar a liderança, quando o mandato passou a ter a duração do
mandato do governo.
E apesar de, neste
círculo, o resultado socialista ser visto como "uma vergonha", também
há quem aponte que desafiar a liderança de Seguro nesta altura poderia
"branquear aquilo que também foi uma derrota muito séria de direita".
AGITAÇÃO
Os magros 3,76
pontos que separaram a coligação e o PS deixaram os mais desconfiados com a
capacidade de liderança de Seguro convictos que "o PS pode perder
eleições, a vitória não está garantida e que se o PS ganhar, fica na mão da
direita", no resumo de um dirigente socialista. Logo na noite de domingo,
no facebook, o ex-presidente do governo dos Açores Carlos César disse que os
eleitores mostraram que "têm dúvidas muito significativas" sobre se
devem confiar a Seguro "o exclusivo de execução desse novo rumo".
Depois foi Costa que veio pressionar ao dizer que "nas legislativas o PS
não pode ter uma vitória que sabe a pouco". João Galamba, num artigo no
site do "Expresso", analisou o desaire da social- -democracia na
Europa e disse que o PS ficou "longe" de uma vitória histórica. Foi
comentado no Twitter por Duarte Cordeiro, vereador de Costa na Câmara de
Lisboa: "Enormes preocupações."
Ao i Vítor
Ramalho diz que "o povo não quer este governo, mas também não deu apoio ao
PS, nos termos em que o PS exigiu". "Até uma criança vê que o
resultado do PS não pode levar ao triunfalismo", diz este socialista
próximo de Mário Soares, que não descarta um desafio à liderança: "Não
somos um partido do centralismo democrático, em que tudo é decidido no comité
central. Vai depender exclusivamente da vontade dos militantes." E
aconselha "uma análise humilde" dos resultados. Tal como Eduardo
Cabrita: "O PS tem de reflectir sobre a forma de alargar as condições para
consolidar a liderança neste processo de mudança". " Tem de se abrir
mais à sociedade", diz.
MUDAR SISTEMA
Na direcção
socialista, o resultado é visto como uma "grande vitória" do PS. Mas
Álvaro Beleza é mais contido e ao i diz que "cumpre ao PS ler
com humildade estes resultados e introduzir reformas sobre a boa
governação". O secretário nacional do partido já o defende há algum tempo
e considera que esta devia ser a reacção do partido à noite eleitoral.
"Um código de
ética para os políticos, instituir a exclusividade de funções, reduzir o número
de deputados, introduzir círculos uninominais", são temas que acredita
terem de ser revistos "para que as pessoas acreditem que quem está na
política está para servir o bem comum". "Hoje o que está em causa é o
próprio regime e o seu funcionamento", acrescenta, sobre um tema que vai
ser o da Universidade de Verão do partido. Mas o foco da direcção está noutra
leitura, como lembra Eurico Dias ao i: "Hoje somos o maior partido
português, o resto são especulações." É tempo de discutir a liderança?
"Não é. É o momento para continuar a trabalhar."
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