terça-feira, 27 de maio de 2014

Portugal - PS: Um resultado inseguro que faz críticos darem à costa



Rita Tavares – jornal i

O teste eleitoral das europeias não correu tão bem como Seguro esperava e o PS pede uma análise realista. António Costa volta às contas dos socialistas com dúvidas sobre o actual líder

Anteontem à noite, no Hotel Altis, pediam-se sorrisos aos socialistas no andar onde estavam instalados os directos televisivos. O resultado eleitoral não chegava para os provocar de forma espontânea. Por trás desta fachada, o partido voltou a fervilhar, mas agora com cautelas. Se há dúvidas sobre as capacidades de Seguro, também há desconfiança sobre a real vontade de António Costa de desafiar a liderança nesta fase.

O autarca socialista voltou a ser o nome falado para substituir Seguro, sobretudo pela análise que fez a um resultado curto do PS. "Para ganhar eleições em condições de governabilidade não basta ganhar por um voto", disse. Entre os críticos de Seguro nasceu de novo a expectativa, mas desta vez contida. "Ninguém vai dizer nada, as pessoas estão escaldadas", diz ao i um dirigente socialista recordando a quase-candidatura de Costa no início de 2013, que acabou por deixar pendurados muitos dos seus apoiantes.

Para os críticos da actual direcção, "Costa estará disponível, mas à espera de uma vaga de apoio. Só que isso só acontecerá com ele a liderar". Entre os habituais apoiantes de Costa pouco se arrisca e aguarda-se a reunião da Comissão Nacional do PS no sábado, que vai analisar a votação nas europeias. "Não há desculpas para uma nova falsa partida", atira outro socialista. Mas a expectativa é que apareça uma voz suficientemente forte que desencadeie naturalmente aquilo que os estatutos, alterados por Seguro, tornaram mais difícil: disputar a liderança, quando o mandato passou a ter a duração do mandato do governo.

E apesar de, neste círculo, o resultado socialista ser visto como "uma vergonha", também há quem aponte que desafiar a liderança de Seguro nesta altura poderia "branquear aquilo que também foi uma derrota muito séria de direita".

AGITAÇÃO 

Os magros 3,76 pontos que separaram a coligação e o PS deixaram os mais desconfiados com a capacidade de liderança de Seguro convictos que "o PS pode perder eleições, a vitória não está garantida e que se o PS ganhar, fica na mão da direita", no resumo de um dirigente socialista. Logo na noite de domingo, no facebook, o ex-presidente do governo dos Açores Carlos César disse que os eleitores mostraram que "têm dúvidas muito significativas" sobre se devem confiar a Seguro "o exclusivo de execução desse novo rumo". Depois foi Costa que veio pressionar ao dizer que "nas legislativas o PS não pode ter uma vitória que sabe a pouco". João Galamba, num artigo no site do "Expresso", analisou o desaire da social- -democracia na Europa e disse que o PS ficou "longe" de uma vitória histórica. Foi comentado no Twitter por Duarte Cordeiro, vereador de Costa na Câmara de Lisboa: "Enormes preocupações."

Ao i Vítor Ramalho diz que "o povo não quer este governo, mas também não deu apoio ao PS, nos termos em que o PS exigiu". "Até uma criança vê que o resultado do PS não pode levar ao triunfalismo", diz este socialista próximo de Mário Soares, que não descarta um desafio à liderança: "Não somos um partido do centralismo democrático, em que tudo é decidido no comité central. Vai depender exclusivamente da vontade dos militantes." E aconselha "uma análise humilde" dos resultados. Tal como Eduardo Cabrita: "O PS tem de reflectir sobre a forma de alargar as condições para consolidar a liderança neste processo de mudança". " Tem de se abrir mais à sociedade", diz.

MUDAR SISTEMA 

Na direcção socialista, o resultado é visto como uma "grande vitória" do PS. Mas Álvaro Beleza é mais contido e ao i diz que "cumpre ao PS ler com humildade estes resultados e introduzir reformas sobre a boa governação". O secretário nacional do partido já o defende há algum tempo e considera que esta devia ser a reacção do partido à noite eleitoral.

"Um código de ética para os políticos, instituir a exclusividade de funções, reduzir o número de deputados, introduzir círculos uninominais", são temas que acredita terem de ser revistos "para que as pessoas acreditem que quem está na política está para servir o bem comum". "Hoje o que está em causa é o próprio regime e o seu funcionamento", acrescenta, sobre um tema que vai ser o da Universidade de Verão do partido. Mas o foco da direcção está noutra leitura, como lembra Eurico Dias ao i: "Hoje somos o maior partido português, o resto são especulações." É tempo de discutir a liderança? "Não é. É o momento para continuar a trabalhar."

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