CRISTINA FERREIRA - Público
João
Moreira Rato, presidente do IGCP, deverá ser o novo administrador financeiro
Vítor
Bento, actual presidente da SIBS, é o nome escolhido pelo núcleo duro de
accionistas do BES, que inclui a família Espírito Santo e o Crédit Agricole, em
articulação com o Banco de Portugal, para substituir Ricardo Salgado como presidente
executivo.
Ao
seu lado, como administrador financeiro, deverá ter João Moreira Rato, actual
presidente do IGCP, responsável pela gestão da dívida pública. Desconhece-se
ainda se a nova comissão executiva mantém alguns dos actuais gestores, tendo várias
partes envolvidas participado numa reunião no Banco de Portugal, nesta
sexta-feira.
Os
accionistas do BES deverão a qualquer momento vir a público anunciar a escolha
de Vítor Bento como CEO, que irá a votos na Assembleia-Geral de 31 de Julho. O
economista já informou alguns membros da SIBS da sua decisão, apurou o
PÚBLICO. Ao seu lado deverá ter João Moreira Rato como administrador
financeiro, que está à frente do IGCP, a agência que gere a dívida pública,
desde Agosto de 2012.
Ainda
que o Banco de Portugal repita a tese de que cabe aos accionistas do BES
escolher os presidentes executivos e não executivos e que ao regulador apenas
compete avaliar se os nomes cumprem os requisitos exigidos, nomeadamente, de
idoneidade, terá partido da equipa de Carlos Costa (no seu diálogo permanente
com o núcleo duro do BES) a indicação do conselheiro de Estado.
Vários
analistas e responsáveis do sector bancário ouvidos pelo PÚBLICO consideraram
Vítor Bento, de 60 anos, uma “boa escolha”, ainda que se trate de uma solução
de banqueiro “não clássica” pois o economista nunca trabalhou na banca. Em
contrapartida, alegam que o seu prestígio deverá permitir “segurar” as ondas
tumultuosas que rebentaram à volta da instituição, após a ESFG (que possui 25,1%
do BES) ter revelado que ia submeter à reunião magna o nome do administrador
financeiro Amílcar Morais Pires para ocupar a cadeira de Ricardo Salgado, de
quem é próximo.
A
solução Morais Pires determinou nos dias seguintes uma evolução errática das
cotações do BES e da ESFG que se traduziu na perda rápida do valor de mercado
das instituições (quase 40%). Esta sexta-feira, o BES fechou a sessão em alta,
a subir 8,2% para 0,752 euros, mas a ESFG caiu 5,2% para 1,57 euros. Os títulos
do BES ganharam maior dinâmica a partir do momento em que o nome
de Vítor Bento foi noticiado.
Apesar
de nunca ter desenvolvido actividade directa na banca, Vítor Bento tem grande
experiência no sector financeiro. Percebe de Finanças e do funcionamento do
sistema financeiro, pois lidera há vários anos a SIBS, uma sociedade
participada por vários bancos. Ou seja: não sendo um especialista de banca,
sabe o suficiente para gerir um banco e se rodear de uma equipa experiente que
não poderá contar com membros da família Espírito Santo.
Ex-presidente
do Conselho Directivo do Instituto de Gestão do Crédito Público,
ex-director-geral do Tesouro, ex-director do Departamento de Estrangeiro do
Banco de Portugal, Bento esteve ainda ligado ao Banco de Macau (emissor).
Tal
como Paulo Mota Pinto, proposto pela ESFG para presidente não executivo, não
existem sobre Vítor Bento polémicas e controvérsias sobre o seu carácter ou
actos de gestão praticados. Se Bento se assume como um "independente"
do bloco central, Mota Pinto é deputado do PSD (lugar que já disse que vai
deixar depois de ser nomeado),e esteve ligado ao Conselho de Fiscalização do
Sistema de Informações da República Portuguesa. À semelhança de Carlos Costa,
Mota Pinto e Bento pertencem ao universo do Presidente da República, Cavaco Silva.
O
Banco de Portugal “impôs” igualmente que o futuro chairman do BES
fosse um jurista, para se poder responsabilizar pelos actos da gestão. Daí que a
escolha tenha recaído sobre Mota Pinto, que é da esfera do advogado Daniel
Proença de Carvalho, do gabinete luso-espanhol Uría Menéndez-Proença de
Carvalho, que está a ajudar (de forma remunerada) Ricardo Salgado no processo
de reestruturação do grupo, e que foi quem sugeriu o seu nome.
O
conselho de administração também não poderá integrar accionistas (família
Espírito Santo, Crédit Agricole, fundos de investimento), que ficarão
acantonados no conselho estratégico (uma estrutura não estatutária, mas de
aconselhamento). O nome que foi sugerido para representar a ESFG e liderar o
conselho estratégico foi o de Ricardo Salgado, que pode (ou não) também cair,
para dar entrada a outro Espírito Santo.
Na
foto: Vítor Bento é o actual presidente da SIBS e Conselheiro de Estado NUNO
FERREIRA SANTOS
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