A
Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) exigiu ao Governo que quadros seus
preencham metade do efetivo de duas forças especiais da polícia, disse hoje à
Lusa o porta-voz do maior partido de oposição em Moçambique.
"Neste
momento pretendemos a partilha de 50% de duas forças especiais que a polícia
criou fora do Acordo Geral de Paz, que é a Força de Proteção de Altas
Individualidades e a Força de Intervenção Rápida, declarou em Maputo António Muchanga ,
clarificando as exigências da Renamo em relação às forças de defesa e segurança
do país.
"Pode-se
chegar ao consenso de se partilhar o comando dos ramos e das unidades, na
proporção em que quando o comandante é da Renamo o adjunto é da Frelimo e
vice-versa, alternadamente nas várias unidades desde a base até ao topo",
informou o porta-voz do partido de oposição, que anteriormente exigia o comando
das forças armadas e da polícia.
"O
problema neste momento é que o Governo recusa a inclusão das forças da Renamo
nas forças de defesa e segurança", afirmou António Muchanga, citando casos
de partilha das instituições com a oposição em países saídos de conflitos, como
Angola, e também o caso da África do Sul.
"É
o mesmo modelo que pretendemos, porque o Governo assumiu em Roma [no Acordo
Geral de Paz, em 1992] que ia criar instituições republicanas, ia reformar a
polícia, os serviços de informação e segurança do estado e durante 21 anos não
conseguiu fazer nada disso", referiu, acrescentando que a integração dos
elementos da Renamo nos órgãos estatais conduziria à desmilitarização do
partido exigida pelo executivo.
António
Muchanga assinalou que já "há um entendimento de que as hostilidades
militares devem parar e de que chefias dos dois partidos devem reunir-se, mas
não há consenso sobre o local".
O
partido de oposição entende que "o Presidente da República tem mais
liberdade para circular em território nacional do que o presidente [da Renamo,
Afonso] Dhlakama chegar a Maputo, porque está a ser caçado pelas forças de
defesa e de segurança".
A
Renamo alega ainda que "o Presidente da República faltou à palavra"
ao atacar o presidente da Renamo na sua residência no dia 21 de outubro e que
Dhlakama não sairá do seu esconderijo na Gorongosa "sem a assinatura de um
compromisso, sem a cessação das hostilidades" e que, depois do encontro,
possa deslocar-se para onde quiser
"Já
estamos habituados à ação dos africanos e de muitos ditadores do mundo e não
queremos correr esse risco", disse ainda.
As
negociações entre Governo e Renamo arrastam-se há mais de um ano e estão
bloqueadas pelas reivindicações da Renamo em relação à partilha das forças de
defesa e segurança e pela exigência do executivo quanto à desmilitarização do
maior partido de oposição.
Paralelamente,
intensificou-se no último mês o conflito na província de Sofala, onde a Renamo
ataca quase diariamente as colunas de veículos escoltadas pelo exército, na
única estrada que liga as regiões sul e centro de Moçambique, enquanto as duas
partes se confrontam na região da Gorongosa, onde se supõe que se encontre
Dhlakama.
Na
segunda-feira, os delegados do Governo e da Renamo voltaram a encontrar-se,
após duas semanas de paragem nas negociações, mas falharam mais uma vez um
acordo.
Segundo
o porta-voz da Renamo, as duas partes chegaram entretanto a acordo sobre a
composição dos observadores internacionais (África do Sul, Zimbabué, Botsuana,
Quénia, Itália, Estados Unidos e Portugal), mas o tema "ainda não está
fechado".
"Os
observadores devem ter uma missão concreta e que ainda não está clarificada,
devido a manobras dilatórias do Governo para queimar tempo", considerou
Muchanga, acusando o executivo de querer manter Afonso Dhlakama
"encostado", na esperança de que acabe por ceder à medida que se
aproximam as eleições gerais previstas para 15 de outubro.
Lusa,
em Notícias ao Minuto
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