quarta-feira, 2 de julho de 2014

Moçambique: Renamo introduz novas exigências em relação à polícia




A Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) exigiu ao Governo que quadros seus preencham metade do efetivo de duas forças especiais da polícia, disse hoje à Lusa o porta-voz do maior partido de oposição em Moçambique.

"Neste momento pretendemos a partilha de 50% de duas forças especiais que a polícia criou fora do Acordo Geral de Paz, que é a Força de Proteção de Altas Individualidades e a Força de Intervenção Rápida, declarou em Maputo António Muchanga, clarificando as exigências da Renamo em relação às forças de defesa e segurança do país.

"Pode-se chegar ao consenso de se partilhar o comando dos ramos e das unidades, na proporção em que quando o comandante é da Renamo o adjunto é da Frelimo e vice-versa, alternadamente nas várias unidades desde a base até ao topo", informou o porta-voz do partido de oposição, que anteriormente exigia o comando das forças armadas e da polícia.

"O problema neste momento é que o Governo recusa a inclusão das forças da Renamo nas forças de defesa e segurança", afirmou António Muchanga, citando casos de partilha das instituições com a oposição em países saídos de conflitos, como Angola, e também o caso da África do Sul.

"É o mesmo modelo que pretendemos, porque o Governo assumiu em Roma [no Acordo Geral de Paz, em 1992] que ia criar instituições republicanas, ia reformar a polícia, os serviços de informação e segurança do estado e durante 21 anos não conseguiu fazer nada disso", referiu, acrescentando que a integração dos elementos da Renamo nos órgãos estatais conduziria à desmilitarização do partido exigida pelo executivo.

António Muchanga assinalou que já "há um entendimento de que as hostilidades militares devem parar e de que chefias dos dois partidos devem reunir-se, mas não há consenso sobre o local".

O partido de oposição entende que "o Presidente da República tem mais liberdade para circular em território nacional do que o presidente [da Renamo, Afonso] Dhlakama chegar a Maputo, porque está a ser caçado pelas forças de defesa e de segurança".

A Renamo alega ainda que "o Presidente da República faltou à palavra" ao atacar o presidente da Renamo na sua residência no dia 21 de outubro e que Dhlakama não sairá do seu esconderijo na Gorongosa "sem a assinatura de um compromisso, sem a cessação das hostilidades" e que, depois do encontro, possa deslocar-se para onde quiser

"Já estamos habituados à ação dos africanos e de muitos ditadores do mundo e não queremos correr esse risco", disse ainda.

As negociações entre Governo e Renamo arrastam-se há mais de um ano e estão bloqueadas pelas reivindicações da Renamo em relação à partilha das forças de defesa e segurança e pela exigência do executivo quanto à desmilitarização do maior partido de oposição.

Paralelamente, intensificou-se no último mês o conflito na província de Sofala, onde a Renamo ataca quase diariamente as colunas de veículos escoltadas pelo exército, na única estrada que liga as regiões sul e centro de Moçambique, enquanto as duas partes se confrontam na região da Gorongosa, onde se supõe que se encontre Dhlakama.

Na segunda-feira, os delegados do Governo e da Renamo voltaram a encontrar-se, após duas semanas de paragem nas negociações, mas falharam mais uma vez um acordo.

Segundo o porta-voz da Renamo, as duas partes chegaram entretanto a acordo sobre a composição dos observadores internacionais (África do Sul, Zimbabué, Botsuana, Quénia, Itália, Estados Unidos e Portugal), mas o tema "ainda não está fechado".

"Os observadores devem ter uma missão concreta e que ainda não está clarificada, devido a manobras dilatórias do Governo para queimar tempo", considerou Muchanga, acusando o executivo de querer manter Afonso Dhlakama "encostado", na esperança de que acabe por ceder à medida que se aproximam as eleições gerais previstas para 15 de outubro.

Lusa, em Notícias ao Minuto

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