O
País (ao), editorial
Perto
de cinquenta por cento da população angolana estava afectada pela fome e pela
malnutrição em 2002, ano em que terminou a guerra. Hoje são dezoito por cento.
Angola está bem encaminhada para cumprir um dos objectivos do milénio, no
quesito da fome.
Mas
dezoito por cento é ainda um número grande, o objectivo de qualquer Estado e de
qualquer Governo que se estime é erradicar a fome do seu território. Os avanços
no plano da alimentação de um povo são, por si só, sinais claros de
desenvolvimento. A fome não pode nunca deixar de ser vista como marca de
subdesenvolvimento.
Dezoito
por cento é ainda uma percentagem grande, é verdade, mas também há que olhar
para o passado. Há que observar a evolução dos números. Angola reduziu a
percentagem de pessoas com fome e malnutridas em setenta e um por cento, desde
1990, anos de guerra em todo o país. De lá para cá e sobretudo depois do fim da
guerra, ou seja, nos últimos doze anos, foi necessário recuperar
infra-estruturas, recuperar as pessoas, a capacidade produtiva de algumas
áreas. Foi preciso desminar milhões de hectares de terra para a agricultura.
Foi necessário investir no campo e incentivar o surgimento de empresários
agricultores, gente que apostasse no campo.
Mas
foi também necessário apoiar as famílias camponesas, dando-lhes enxadas,
catanas e sementes, para que produzissem o mínimo para a sua subsistência e,
depois, com programas de microcrédito e crédito de campanha, para que
produzissem um pouco mais e levassem as suas colheitas ao mercado. Mesmo assim,
ainda é muito caudaloso o rio que leva milhões e milhões para o estrangeiro,
muito do que nos alimenta é ainda importado.
O
que há a fazer agora é continuar a apostar na produção nacional,
disponibilizando fundos e outros apoios a quem queira produzir no campo,
aplicar políticas que desacelerem o êxodo rural e fomentar a agro-indústria. Há
muito por fazer, mas tem que se ter este marco como base, a redução em setenta
e um por cento a fome no país. Um país em que milhões dependiam da ajuda
alimentar externa.
A
redução que se registou, sobretudo nos anos de paz, inspira confiança, mas não
deve servir para embandeirar em arco, porque os dezoito por cento que ainda
faltam representam, é fácil de chegar lá, pessoas vulneráveis, crianças e
velhos sobretudo.
Então,
o mais recente relatório das Nações Unidas sobre a insegurança alimentar no
mundo não pode deixar de ser visto como uma boa notícia para Angola, mas, ao
mesmo tempo, não pode também deixar de infundir preocupação. É este misto de
sentimentos que o país tem de ultrapassar rapidamente. O objectivo é fome zero.
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