terça-feira, 23 de setembro de 2014

Angola: A LUTA CONTRA A FOME AVANÇOU, MUITO, MAS NÃO ESTÁ GANHA



O País (ao), editorial

Perto de cinquenta por cento da população angolana estava afectada pela fome e pela malnutrição em 2002, ano em que terminou a guerra. Hoje são dezoito por cento. Angola está bem encaminhada para cumprir um dos objectivos do milénio, no quesito da fome.

Mas dezoito por cento é ainda um número grande, o objectivo de qualquer Estado e de qualquer Governo que se estime é erradicar a fome do seu território. Os avanços no plano da alimentação de um povo são, por si só, sinais claros de desenvolvimento. A fome não pode nunca deixar de ser vista como marca de subdesenvolvimento.

Dezoito por cento é ainda uma percentagem grande, é verdade, mas também há que olhar para o passado. Há que observar a evolução dos números. Angola reduziu a percentagem de pessoas com fome e malnutridas em setenta e um por cento, desde 1990, anos de guerra em todo o país. De lá para cá e sobretudo depois do fim da guerra, ou seja, nos últimos doze anos, foi necessário recuperar infra-estruturas, recuperar as pessoas, a capacidade produtiva de algumas áreas. Foi preciso desminar milhões de hectares de terra para a agricultura. Foi necessário investir no campo e incentivar o surgimento de empresários agricultores, gente que apostasse no campo.

Mas foi também necessário apoiar as famílias camponesas, dando-lhes enxadas, catanas e sementes, para que produzissem o mínimo para a sua subsistência e, depois, com programas de microcrédito e crédito de campanha, para que produzissem um pouco mais e levassem as suas colheitas ao mercado. Mesmo assim, ainda é muito caudaloso o rio que leva milhões e milhões para o estrangeiro, muito do que nos alimenta é ainda importado.

O que há a fazer agora é continuar a apostar na produção nacional, disponibilizando fundos e outros apoios a quem queira produzir no campo, aplicar políticas que desacelerem o êxodo rural e fomentar a agro-indústria. Há muito por fazer, mas tem que se ter este marco como base, a redução em setenta e um por cento a fome no país. Um país em que milhões dependiam da ajuda alimentar externa.

A redução que se registou, sobretudo nos anos de paz, inspira confiança, mas não deve servir para embandeirar em arco, porque os dezoito por cento que ainda faltam representam, é fácil de chegar lá, pessoas vulneráveis, crianças e velhos sobretudo.

Então, o mais recente relatório das Nações Unidas sobre a insegurança alimentar no mundo não pode deixar de ser visto como uma boa notícia para Angola, mas, ao mesmo tempo, não pode também deixar de infundir preocupação. É este misto de sentimentos que o país tem de ultrapassar rapidamente. O objectivo é fome zero.

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