Mesmo
com maioria, presidente teve poucos avanços em propostas importantes na Câmara
e no Senado no primeiro mandato. Agora, terá que abrir negociações mais ativas
com parlamentares, algo que não fez em quatro anos.
Tão
difícil como foi a reeleição será a missão da presidente Dilma Rousseff de
formar uma coalizão forte no novo Congresso. Os partidos aliados têm maioria na
Câmara e no Senado, mas a presidente terá que superar impasses entre
parlamentares, divididos em temas-chave, para aprovar reformas como a política
ou a tributária.
"Vamos
ter que ter um aprendizado de convivência com o Congresso Nacional, que vai ser
agora cada vez mais difícil. Não é fácil o jogo de montar uma coalizão de 28
partidos", reconheceu o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Como
fator agravante, Dilma mostrou em seu primeiro mandato que a habilidade de
articulação política não é um dos seus fortes.
"O
maior desafio da Dilma é se reinventar como líder de uma equipe capaz de fazer
uma articulação. Mas ela está consciente disso, seja pelo resultado da eleição
apertada ou por preferir deixar o legado de um bom governo ao sair do poder
depois de dois mandatos", afirma o cientista político Aninho Irachande, da
UnB.
Pelo
menos em seu primeiro discurso após a vitória, porém, a presidente deu sinais
de estar aberta a mudanças.
"Democracia
madura e união não significam necessariamente unidade de ideias, nem ação
monolítica conjunta, mas, em primeiro lugar, disposição para o diálogo. Esta
presidente aqui está disposta ao diálogo", declarou.
Maioria
dividida
A
eleição deixou o Congresso mais fragmentado, porém com poucas mudanças na atual
correlação de forças.
Se
todas as alianças estabelecidas antes das eleições forem mantidas, a bancada
governista na Câmara será de 304 das 513 cadeiras – atualmente ela é de 339. No
Senado, a base aliada do PT elegeu um senador a mais que os 52 atuais – o total
na Casa é de 81 assentos.
clicar para ampliar |
Além
disso, o PT é o partido mais representado na Câmara, com 70 cadeiras, seguido
pelo PMDB (66). No Senado, o PMDB é a maior legenda, com 18 senadores, seguido
pelo PT, que tem 12. No entanto, mesmo formando a maioria, a base aliada
diverge em relação a determinados temas.
"Em
termos formais, o Congresso ficou praticamente do mesmo tamanho, mas com uma
cara muito menos sorridente. O Senado ficou fortalecido do lado da oposição, e
a Câmara, composta por uma maioria bastante frouxa, que vai negociar ponto a
ponto as propostas", diz o sociólogo Valeriano Mendes Costa, da Unicamp.
Para
o cientista político Rodrigo Stumpf González, da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, compor a base aliada não será o maior problema de Dilma, mas sim
estruturar um apoio sólido que não dependa de negociações a cada nova proposta,
como acontece no atual mandato.
"Entre
os presidentes dos últimos 20 anos, a Dilma foi aquela que teve em tese a base
de apoio mais ampla do Congresso, porém, com uma enorme dificuldade de apoio para
propostas. Pois partidos como o PMDB não votam em bloco", afirma González.
Maior
resistência
Para
a aprovação de uma lei comum são necessários 129 votos a favor na Câmara e 21
no Senado; para uma lei complementar, 257 e 41; e para uma emenda constitucional,
308 e 49.
clicar para ampliar |
González
acredita que, por ser o último mandato, Dilma deve tentar conseguir uma base
menor, mas que garanta a aprovação de propostas controversas, como as reformas
política e tributária.
Costa,
por sua vez, espera que o Congresso tenha uma postura mais resistente a Dilma.
E segundo ele, a presidente reeleita terá, em seu segundo mandato, que fazer o
que não fez no primeiro para superar esse obstáculo.
"Dilma
deve tentar mudar essa postura do Congresso, negociando com mercado e
políticos. Além de precisar de muito apoio dos novos ministros e um novo estilo
de governar, recebendo deputados e senadores para tentar negociar e conversar
com a base, como não fez antes", opina o sociólogo da Unicamp.
Clarissa
Neher - Deutsche Welle
Sem comentários:
Enviar um comentário