Paula
Ferreira – Jornal de Notícias, opinião
Há
dias fui a um banco tentar perceber quanto podia ganhar com uma pequena
poupança. E grande foi o meu espanto quando o funcionário me diz, em discurso
digno de um professor de Finanças, que esse banco não se financia com os
depósitos dos clientes. De forma rebuscada, informava-me de que não estavam
interessados nas minhas economias. Enfim, até podiam guardá-las, mas eu iria
beneficiar tão pouco que, na opinião do diligente bancário, mais valia não
depositar. Com a lição bem estudada, lá me explicou: a culpa é do BCE e suas
taxas de juros, a níveis nunca vistos, a Europa está à beira da deflação. Se
domiciliasse o meu ordenado, pedisse um cartão de crédito e por aí fora, talvez
conseguisse mais uns cêntimos. Mantive o espanto.
Reconheço-me
não muito preparada na área financeira, todavia conheço o essencial. Sei que os
depósitos a prazo nos bancos não cativam, mas atirarem-me à cara, recorrendo a
eufemismos vários, que não precisam do meu dinheiro para nada, era uma situação
imprevista.
Ainda
incrédula, entro no carro e ligo o rádio. Pedro Passos Coelho, numa cerimónia
pública, elogia o ministro Nuno Crato. Ouvi bem? Na inauguração de uma escola,
em Esposende, Passos e Crato são fortemente apupados, tanto que as canções
cândidas das criancinhas (cena que nos faz recuar ao preto e branco do tempo do
presidente Américo Tomás) foram abafadas. É nesse ambiente que o
primeiro-ministro afirma ter feito a escolha certa, ao nomear Nuno Crato para a
pasta da Educação. Só se isso fizer parte de alguma estratégia concertada para
implodir o país (Crato, como se sabe, fez com brilhantismo a sua parte de
implodir o Ministério da Educação). Ouvia Passos Coelho e lembrava-me de que a
minha filha - ela e milhares de alunos - está há semanas a experimentar
professores. Vão e vêm, consoante os erros do Ministério tutelado pelo homem que
o primeiro-ministro Passos elogia. Continuei incrédula.
A
ministra da Justiça segue a mesma cartilha. Está tudo bem, diz, aparentemente
indiferente ao caos instalado nos tribunais desde o passado dia 1 de setembro.
Um inquérito feito a funcionários judiciais revela que o sistema informático,
apesar de ter ressuscitado, esqueceu muitas peças processuais. Mesmo Paula
Teixeira da Cruz age como se estivesse a ser vítima de uma cabala.
No
regresso a casa, passo pela praia. Vejo gente em biquíni a apanhar sol e a
comer gelados, como se estivéssemos em pleno agosto. Esgotei a capacidade de me
surpreender. Afinal, o Mundo está mesmo virado ao contrário.
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