A
OMUNGA, uma ONG angolana de defesa dos direitos humanos, organizou uma mesa
redonda denominada “Refletir Cabinda”. O objetivo foi colocar novamente a
realidade do enclave na agenda política e de debate nacional.
Figuras
bastante conhecidas da sociedade cabindesa, como o professor universitário e
advogado Francisco Luemba, o padre Casimiro Congo, e o deputado da UNITA, o
maior partido da oposição, Raúl Danda, foram alguns dos preletores no encontro.
A
iniciativa foi promovida pela Associação OMUNGA (26/27.11.), nas provincias de
Luanda e Benguela, e teve por objetivo promover um diálogo aberto e inclusivo
sobre Cabinda.
As
injustiças sociais, a pobreza, a violação dos direitos humanos, assim como o
alegado impedimento por parte do Governo de José Eduardo dos Santos na
legalização de organizações da sociedade civil de direitos humanos em Cabinda,
foram alguns dos problemas abordados no encontro pelos participantes,
nomeadamente o ativista cívico Francisco Luemba.
Autonomia
é só um passo
Entretanto,
o antigo membro da extinta Mpalabanda, organização que reunia vozes
contestárias ao regime, repetiu a conhecida reivindicação: "A solucão
primeira da auto-determinação é a independência, dito isto o resto pode vir
depois, isto é, podemos negociar", destaca Luemba.
Francisco
Luemba, manifestou, mais uma vez, a disponibilidade em negociar com Luanda:
"Estamos abertos ao diálogo, cada parte apresenta a sua percepção do
problema, propõe e defende os seus interesses e vamos ver como equilibrar esses
interesses, havendo diálogo."
Questionado
se a promessa do Governo angolano em atribuir a Cabinda dez por cento das
receitas fiscais e petrolíferas arrecadadas na província, ou se a da UNITA,
concernente à atribuição de uma autonomia para Cabinda não seriam soluções
viáveis, Francisco Luemba, recordou: "Durante a campanha eleitoral o
Presidente da República deslocou-se a Cabinda e na altura prometeu que iria
retomar a entrega dos tais 10%, mas até agora essa decisão não se
cumpriu."
Relativamente
à ideia do maior partido da oposição, Luemba deixa claro que não é o objetivo
final: "Quanto à ideia da UNITA da autonomia, ela em princípio, é aceite
pela maioria, ainda que seja só como etapa transitória, não como ponto de
chegada."
Nível
de repressão é maior em Cabinda
À
DW-Africa, o ativista cívico Francisco Luemba falou ainda das perseguições que
têm sido alvo os ativistas do enclave por parte do regime de Luanda: "Se mesmo
em Luanda, Benguela e nas outras províncias há violação dos direitos humanos e
não existe liberdade de expressão, vá lá em Luanda pelo menos existe de forma
relativa, mas nas outras províncias as pessoas não têm liberdade de expressão e
os direitos humanos são violados. Estes princípios universais não são
respeitados."
Luemba
destacou ainda que a repressão exercida contra o povo de Cabinda é cada vez
maior: "Em Cabinda onde existe um problema político, as pessoas já à
partida são consideradas como inimigas. Nós nem gozamos da liberdade de
associação, desde que a Mpalabanda foi extinta. Tornou-se impossível a criação
de qualquer associação em Cabinda."
Embora
o objetivo do encontro tenha sido a promoção de um diálogo aberto e inclusivo
sobre Cabinda, Luemba, sublinha, que não há qualquer vontade política do
Governo de José Eduardo dos Santos e do seu partido, o MPLA, para uma solução
inclusiva de Cabinda: "Nunca houve essa vontade, o que o Governo tem feito
é corromper e recuperar pessoas. Não dialoga, não manifesta vontade de resolver
o problema, é tudo propaganda e manipulação das pessoas e da verdade."
Nelson
Sul D'Angola (Benguela) – Deutsche Welle
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