Bocas
do Inferno
Mário
Motta, Lisboa
A
notícia sobre declarações de Marques Guedes, um ministro do governo justamente conhecido
por Bando de Mentiroso, acerca do que afirmou Juncker na UE, é de bradar aos céus
e ao inferno. Disse Guedes que Junker foi “infeliz” ao afirmar que "Pecámos
contra a dignidade dos povos, na Grécia e em Portugal". Completou o
seu raciocínio e desconhecimento de dignidade afirmando “porque nunca a
dignidade de Portugal nem dos portugueses foi beliscada, pela 'troika' ou
qualquer das suas instituições”.
Por
ser desconhecimento de Marques Guedes o que é dignidade não deve ser inferido
das suas palavras que é um grande aldrabão, um sacana de primeira-apanha. Um
descarado. É que se Guedes tivesse uma pálida noção daquilo que é dignidade recordar-se-ia
dos portugueses que perderam os empregos, as suas casas, as suas famílias, a
sua normal capacidade de subsistir através da sua autonomia, a capacidade de
terem um ordenado para as despesas familiares e se alimentarem em vez de terem
de recorrer à caridadezinha fomentada salazar e prazenteiramente pelo ministro
Mota Soares porque a fome gritava mais alto. Ou mesmo recorrer à caridade de
adquirir agasalhos, umas mantas, para dormitarem ao frio nalgum recanto mais
abrigado. Os sem-abrigo aumentaram descomunalmente. Os esfomeados também,
incluindo crianças que chegam à escola sem terem tomado o pequeno-almoço ou nem
sequer jantado na noite anterior. E as contas para pagar daqueles que ainda
hoje passam fome mas têm as suas casas? Casas sem electricidade porque não
tiveram como pagar os consumos debitados. O mesmo acontecendo ao fornecimento
de água e a tantas outras despesas fixas que uma família tem de suportar. E a
renda de casa? Como satisfaz o pagamento de uma renda de casa quem está
desempregado e que recebe uma miséria de subsidio de desemprego ou até nem isso
recebe?
É
a miséria absoluta que o governo a que pertence Marques Guedes proporcionou a
milhões de portugueses. Dificuldades e mais dificuldades para sobreviverem.
Registam-se mais suicídios, mais violência doméstica, mais
criminalidade, mais reclusos nas prisões, mais maus tratos a crianças, mais crianças abandonadas… Tudo
isso é perda de dignidade de Portugal e dos portugueses. Quem a causou foi o
governo de Passos Coelho ao ir ainda “mais além da Troika” – como afirmou todo
garboso por se sentir carrasco credenciado dos portugueses. Credenciado
por Merkel e pelo capitalismo selvagem que servem sem pejo de assassinarem
idosos nas salas de espera de hospitais porque o Serviço Nacional de Saúde está
inoperacional em imensos aspetos devido à sua destruição por este governo que é
de Marques Guedes e de outros seus pares. Gentalha que não merece o mínimo respeito
dos portugueses e que nem em nome deles devem falar. Pelo menos daqueles que
tiveram de perder a dignidade que a Constituição da República Portuguesa
consagra: saúde, educação, emprego, habitação, alimentação… Mais palavras para
quê?
Fiquemos
por aqui. O benefício da dúvida faz parte da democracia e da justiça. Admitamos que Marques Guedes desconheça o que é dignidade e que só por isso não é um
grande sacana, como comprovadamente são outros seus pares no governo. Pergunte-se
entretanto se é possível que um desconhecedor de dignidade possua a dignidade imprescindível
a todos os humanos, a todos os seres vivos, para respeitar a dignidade dos outros. Qual será a resposta?
A
resposta estará inserida no artigo que se segue? Uma resposta esclarecedora.
Infeliz. Não é?
Marques
Guedes. Juncker foi "infeliz e dignidade de Portugal nunca foi
beliscada"
O
ministro da Presidência do Conselho de Ministros e dos Assuntos Parlamentares
classificou hoje as declarações da véspera do presidente da Comissão Europeia
de infelizes, garantindo que a dignidade de Portugal "nunca foi
beliscada" pela 'troika'.
"Acho,
manifestamente, que é uma declaração bastante infeliz do presidente da CE porque
nunca a dignidade de Portugal nem dos portugueses foi beliscada, pela 'troika'
ou qualquer das suas instituições. Só posso classificá-la como declaração
infeliz", afirmou Marques Guedes, na conferência de imprensa após o
conselho de ministros, em Lisboa.
O
luxemburguês Jean-Claude Juncker afirmara quarta-feira que a 'troika'
"pecou contra a dignidade" de portugueses, gregos e também
irlandeses, reiterando que é preciso rever o modelo e não repetir os mesmos
erros.
"Pecámos
contra a dignidade dos cidadãos na Grécia, Portugal e muitas vezes na Irlanda
também", disse Juncker perante o Comité Económico e Social, admitindo que
a afirmação pode parecer "estúpida" dita pelo ex-presidente do
Eurogrupo.
"O
programa da 'troika', imposto nomeadamente a Portugal, é um programa bastante
duro, cuja dureza tinha a ver com a situação extremamente difícil em que o país
se encontrava. É conhecido que Portugal conseguiu, através da credibilidade e
confiança que granjeou, ir fazendo correções ao próprio programa, em termos de
metas e objetivos", referiu o responsável governamental português.
Para
Marques Guedes, as metas e objetivos "eram manifestamente desajustados
porque tinham sido mal negociados de início".
"Cumprimos
e Portugal conseguiu sair da situação difícil e merecer a confiança dos
parceiros europeus", destacou.
HPG
(ARP) // SMA - Noticias ao Minuto/Lusa
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