Um
suposto caso de corrupção e tráfico de influências envolvendo a petrolífera
italiana ENI e o ex-Presidente moçambicano está a agitar Maputo. Espera-se que
a PGR abra um inquérito para averiguar a veracidade do caso.
Desde
fevereiro que as publicações moçambicanas Canalmoz e Savana vêm informando
sobre o caso, usando como fonte o jornal "Il Fatto Quotidiano".
Segundo o diário italiano, o ex-Presidente Armando Guebuza terá oferecido à
empresa de hidrocarbonetos ENI, uma isenção de impostos na venda das suas ações
à China National Petroleum Corporation (CNPC) em troca de favores não
especificados. O negócio não terá sido tratado diretamente com o Estado
moçambicano, através da Autoridade Tributária de Moçambique, como é suposto,
mas sim com o ex-chefe de Estado.
As
revelações surgiram na sequência de uma investigação sobre corrupção
internacional contra Paolo Scaroni, antigo administrador da petrolífera
italiana, levada a cabo pela Procuradoria de Milão. De acordo com gravações
telefónicas no poder da PGR italiana, Guebuza terá ainda oferecido um terreno
paradisíaco no Bilene, no sul de Moçambique, "com a possibilidade de um
DUAT (Direito de Uso e Aproveitamento da Terra) válido por 40 anos".
Os
olhos estão agora virados para a Procuradoria-Geral da República (PGR) de
Moçambique. Ericino de Salema, jurista e jornalista, autor do artigo sobre o
assunto no semanário Savana, diz que há elementos suficientes para que a PGR
comece a investigar o caso. "A empresa, o próprio antigo chefe de Estado
e, até certo ponto, a Autoridade Tributária terão algo a dizer."
Esclarecimentos
são do interesse de todos
O
jornalista diz ainda que, no âmbito da Convenção das Nações Unidas contra a
Corrupção, ratificada por Moçambique em 2006, é possível que as Procuradorias
dos dois países trabalhem em conjunto para esclarecer o negócio - se a
contra-parte moçambicana manifestar interesse.
"Se
solicitada, a Procuradoria-Geral da República de Milão tem o dever de facultar
toda a informação relevante", afirma Ericino de Salema.
"O
antigo chefe de Estado, como qualquer cidadão, goza da presunção de inocência.
Mas, porque ele foi o mais alto magistrado da nação, é do nosso interesse como
moçambicanos, e também do interesse dele, que se clarifique o que se diz."
Procuradoria
vai investigar?
Borges
Nhamiri, pesquisador do Centro de Integridade Pública (CIP), lembra que, até
agora, não há dados sólidos que confirmem o envolvimento de Guebuza neste caso.
No entanto, é preciso investigar.
A
DW África tentou contactar a Procuradoria moçambicana, sem sucesso, para saber
se vai abrir um inquérito.
Nhamiri
diz que não se pode ficar de braços cruzados à espera que a PGR investigue as
acusações.
"Em
todos os grandes casos que envolvem pessoas influentes da política e economia,
a Procuradoria não tem trazido os resultados expectáveis". Nhamiri dá o
exemplo do "caso envolvendo o cidadão Momade Bachir Sulemane, que foi
acusado a partir do exterior de estar envolvido em tráfico de drogas. A
Procuradoria investigou mas os resultados não são muito convincentes."
Em
Moçambique, a credibilidade dos órgãos de Justiça é muito baixa. Ela é
considerada ineficiente e parcial. Os seus responsáveis são nomeados pelo
Presidente da República.
Por
isso, no caso que envolve Armando Guebuza e a ENI, mais uma vez, o pesquisador
do CIP não espera resultados "convincentes para os moçambicanos."
Borges Nhamiri entende que "a sociedade civil devia fazer a sua
investigação paralela."
Procuradora-Geral
nomeada por Guebuza
A
atual Procuradora-Geral da República, Beatriz Muchili, foi nomeada pelo então
Presidente Armando Guebuza. Isso pode influenciar na não abertura de uma
investigação ao ex-Presidente?
"Esse
ponto é central", responde o jurista e jornalista Ericino de Salema.
"Quando somos nomeados para uma função dessas, há alguma confiança
política envolvida. Nada pode avançar sem que a Procuradora-Geral da República
autorize o Gabinete Central de Combate à Corrupção a avançar com um eventual
inquérito. Mas espero que a sua atuação seja profissional, em defesa dos interesses
do Estado moçambicano."
De
acordo com a imprensa moçambicana, o Estado terá perdido 900 milhões de dólares
na transação entre a ENI e a empresa chinesa CNPC. O valor total da operação
era de 4,2 mil milhões USD. O Estado deveria ter encaixado 1,3 mil milhões, mas
só ficou com 400 milhões.
Nádia
Issufo – Deutsche Welle
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