André
Macedo – Diário de Notícias, editorial
Um
secretário de Estado apresenta um programa sobre emigração, assunto delicado
num país a encolher. Perguntam-lhe quantas pessoas vai beneficiar e quantas
empresas. Pedem--lhe números, metas, dinheiro disponível e duração da
iniciativa. São dúvidas que fazem sentido, simples, básicas, os emigrantes e as
suas famílias querem perceber. Perguntam-lhe se ele sabe quantas pessoas
deixaram o país nos últimos anos, deve ter informação atualizada, tem acesso a
ela, pensou certamente no assunto - presume-se. Pedro Lomba - jurista,
ex-comentador, ex-guru da comunicação política do governo - não sabe ou não
quer dizer, assegura apenas que são menos de 400 mil os portugueses que
deixaram o país durante a recessão. Menos? Quantos menos? Isso não interessa,
responde, como não interessam os detalhes do programa. O relevante, diz,
enxofrado, irrequieto na cadeira da TVI, é que antes não havia nada para ajudar
os emigrantes a voltar. E que tal se houvesse um país a crescer mais, uma
economia mais capaz de criar emprego duradouro e qualificado, um país com
impostos um pouco mais baixos, um país em que nenhum secretário de Estado ou
ministro jamais tivesse a ousadia de anunciar um programa vazio e raquítico - a
parra que tapa as vergonhas? A emigração salvou o país de um descalabro maior
em 2012-2013. Tivessem ficado por cá aqueles portugueses todos e a crise social
seria ainda mais insuportável. Toda a gente sabe isso. Pedro Lomba não o
ignora. Por que motivo, então, remexer na ferida e copiar uma ideia que os
irlandeses tiveram (a Irlanda cresceu 4,8% em 2014), mas que sem o incentivo
natural da economia não passa de um logro político, uma miragem, um desrespeito
por todos os que, agora, olham e só veem uma mão-cheia de nada. Veremos o que
acontece até ao fim da legislatura: depois das políticas de incentivo à
natalidade de Passos Coelho (onde? quando?), a seguir à maravilhosa reforma do
Estado de Paulo Portas (onde, quando?), temos o programa Lomba, uma chamada de
regresso para lado nenhum.
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