Pedro
Marques Lopes – Diário de Notícias, opinião
"Lamento
profundamente não ter tido consciência dessas obrigações", disse no debate
quinzenal, de ontem, o primeiro-ministro. Referia-se, claro está, às suas
obrigações contributivas, aquelas que ele julgava, à época, serem de carácter
opcional. Como disse Catarina Martins, Passos Coelho andou distraído durante
cinco anos: não só não tinha consciência de que todos os cidadãos têm de pagar
segurança social, como durante o mesmo período de tempo, no momento em que
preenchia o modelo B da declaração de IRS, não deu pela existência duma
caixinha que refere o carácter obrigatório das contribuições para a Segurança
Social.
Resta
saber se os portugueses pensam que quem se esquece das suas obrigações
contributivas pode ser primeiro-ministro ou não? Se os portugueses acham que
alguém que está obrigado a não ter contemplações com quem se atrasa ou que tem
uma dívida e espera três anos para a pagar pode ser a mesma pessoa que ignorava
uma prestação fundamental para o Estado ou que, já enquanto primeiro-ministro,
atrasou o devido pagamento? No fundo, alguém que, com certeza, mudou, mas que
durante bastante tempo se seguia por o nosso conhecido "olhem para o que
eu digo, não olhem para o que eu faço".
Luís
Montenegro, no debate parlamentar, assumiu, com clareza, o carácter político da
conduta fiscal e contributiva do primeiro-ministro: "Cada português vai
fazer o juízo sobre o comportamento de todos os agentes políticos." É isso
mesmo.
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