Martinho Júnior, Luanda
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– Para o “apartheid”, a “border war” permitiu sempre sonhar com
uma Angola dividida entre o norte e o sul, em alternativa à impossibilidade de
tomar Luanda, uma Angola com um sul tornado“bantustão”, conforme muitas outras
experiências do género, conseguidas por outros como os Estados Unidos, noutras
paragens (recorde-se, bem-sucedidos, em termos de suas pretensões, na Coreia e
Sudão e mal sucedidos no Vietname).
Para
além do projecto do”bantustão” angolano, o “apartheid” foi-se à
Rodésia e criou o seu próprio“bantustão branco”, com o regime apesar de tudo
efémero de Ian Smith…
Essa “constelação
de bantustões” abria-se pois ao redesenhar do mapa da África Austral, algo
que satisfaria uma superpotência como os Estados Unidos apesar das experiências
traumatizantes da Coreia e do Vietname, com a implicação definitiva na
tentativa da derrota do Movimento de Libertação em África.
Para
os Estados Unidos em África há o exemplo dum êxito: John Garang e o “Sudan
People’s Liberation Army” (SPLA) , apoiados pela “Conservative
Caucus” (que se identificava com “Le Cercle”), conseguiram a eclosão
do Sudão do Sul…
O “Conservative
Caucus” era também um dos apoios de Savimbi e da UNITA, tão fieis que
fizeram propaganda por ele mesmo até depois de sua morte em 2002!...
Isso
explica em parte o tempo de espera que os Estados Unidos fizeram, até se
decidirem a reconhecer o Governo de Angola independente e um peso retrógrado
que está em maturação em relação a Angola, que se expressa no velado apoio à
construção duma oposição alargada, cujo maior emblema parecem constituir, pelo
menos para alguns, os “jovens revolucionários” e“activistas” rotulados “independentes”,
como Rafael Marques de Morais, entre a UNITA, o CASA-CE, as FLECs esvaídas e “Movimentos” como
o do Protectorado da Lunda…
Esse
tempo de espera foi de tal modo prolongado, que Nelson Mandela foi considerado
de“terrorista” indefinidamente e só com o desmantelamento do “apartheid” houve
revogação para ele!
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– Também não se pode esquecer que a vitória resultou numa conjugação
estratégica de factores favoráveis: tornou-se impossível ao “apartheid” vencer
as rotinas tácticas que havia ele próprio criado no âmbito da “guerra de
fronteira”, por que prevalecendo os termos do embargo, isso impedia-o de
inovações que reforçassem qualquer veleidade em termos de aquisição dum novo
carácter estratégico, pelo que o modelo e o nível da operacionalidade conjunta
SADF/FALA/SWATF estavam esgotados e condenados.
Os
factores doutrinários, ideológicos, geo estratégicos, limitaram efectivamente o “apartheid” e
por tabela Savimbi, como limitaram Ian Smith, também por que Mobutu havia sido
posto em cheque antes pelo Presidente Agostinho Neto (recorde-se o efémero
COMIRA e o “quarto minguante” da FNLA)!
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– O mesmo não aconteceu, contraditoriamente, com Angola, tão motivada pela
Libertação dos povos do continente e esclarecidamente aliada à Revolução Cubana
e aos socialistas de todo o Mundo, ainda que estivesse para breve a implosão da
URSS e o fim do Pacto de Varsóvia, como a desagregação tumultuosa da
Jugoslávia!
A
criatividade das alianças que tornavam Angola numa emergência, na época uma
verdadeira vanguarda em África (dizia sabiamente Agostinho Neto: “Angola
é, por vontade própria, trincheira firme da revolução em África!”), foi
realizada década após década, por que entre o Movimento de Libertação em
África, os Não-Alinhados activos e os socialistas, passando pela Revolução
Cubana, as discussões teóricas e práticas estiveram sempre na ordem do dia e as
tensões entre si, quando as havia, foram efectivamente superadas fazendo
prevalecer em Angola a unidade e a coesão capaz de sustentar um baluarte na
Linha da Frente, sem prejuízo das mais arrojadas iniciativas de quem assumisse
essa vanguarda no terreno!
Os
aliados revolucionários cubanos haviam experimentado precisamente isso,
primeiro com a decisão de apoio incondicional ao Movimento de Libertação em
África, mesmo que o Che tivesse a ideia da necessidade do foco (há precisamente
50 anos), depois com a Operação Carlota (há 40 anos), em terceiro lugar com a
batalha do Kuito Kunavale (há 27 anos), num processo que não terminou e se
expressa hoje pelo esforço cubano nos termos das prementes necessidades
angolanas em relação à educação e à saúde, como no seu papel exemplar em África
e para o Mundo, conforme recentemente no combate ao ébola na Libéria, na Serra
Leoa e na Guiné Conacry, três dos países que integram a cauda dos Índices de
Desenvolvimento Humano, de acordo com os Relatórios na especialidade dos organismos
da ONU!
Efectivamente
o Comandante Fidel de Castro assumiu bastas vezes o risco das vanguardas,
fazendo uma leitura lúcida da história de África, desde a escravatura às
sequelas do “apartheid”, tal como uma leitura ímpar em relação aos “síndroma
do Vietname” nos Estados Unidos em 1975, como na Rodésia de Ian Smith
(1970), como na África do Sul em 1987 e 1988!
Soube
também levar a solidariedade e o internacionalismo para além dos esforços
armados em aliança com o Movimento de Libertação e para isso procurou conduzir
a Revolução Cubana a conquistas no âmbito da educação e da saúde, a começar com
os benefícios que com esse procedimento trouxe ao próprio povo cubano!
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– Depois do ataque a Malembo (Operação Argon dum grupo do 4º RECC das SADF), os
Estados Unidos começaram a dar sinais de abertura às opções que não eram as do “apartheid” e,
redesenhar o mapa de África no que a Angola diz respeito, era algo que, ainda
assim, poderia ficar para depois!
Outro
factor que influiu na opção norte-americana, foi resultante do facto de Savimbi
ter mantido sob tensão a influência norte americana (cosmopolita, fora da “marca
camponesa-étnica” e, de certo modo, em rotura com ela) dentro da UNITA
(assassinatos, entre outros, de Wilson Santos, de Tito Chingunji e famílias).
O
abandono da UNITA por parte de N´Zau Puna e Tony da Costa Fernandes, foi um dos
rescaldos directos iniciais dessa situação, mais tarde outros, paulatinamente
se lhes iriam seguir, algo que foi muito importante também para as decisões do “lobby
dos minerais” e para os próprios Democratas, alternância do poder nos
Estados Unidos.
Assim
o poderoso “lobby dos minerais”, sustentáculo do Partido Democrata dos
Estados Unidos, foi optando por posições que cada vez mais contrariavam o “apartheid”,
que iriam também favorecer o reconhecimento de Angola por parte da
Administração de Bill Clinton a 19 de maio de 1993… Bill Clinton, ele próprio
um produto “Rhodes Scholarship”, natural do único estado norte-americano
produtor de diamantes, o Arkansas e ligado à multinacional mineira que dava
pelo nome de America Mineral Fields…
Nos
anos de 1987 e 1988 essa deriva ainda não se fazia sentir, mas o cronómetro do “apartheid”,
perante tanta controvérsia e acumular de contradições, começava a marcar o fim
dessa ignominiosa maratona!
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– O outro rescaldo ainda, de consequências determinantes, foi o aumento do peso
da influência do “apartheid” enquanto gestor estratégico do
instrumento em que se havia transformado desde o tempo colonial essa
organização etno nacionalista, tão docilmente disposta à criação do “bantustão”angolano,
o verdadeiro projecto para Angola da “border war”, conforme aliás deu a
conhecer publicamente o antigo Inspector da PIDE/DGS, Óscar Piçarra Cardoso!
Savimbi
tornou-se de tal forma um apêndice do “apartheid” que simultaneamente “encaixou” o
papel dum poderoso traficante de marfim, de diamantes e de drogas, em grande parte
para suprir os custos da guerra e aliciar amigos na Europa (família de Mário
Sores, por exemplo) e em África (Mobutu, desde logo).
O
projecto de arrancar a Angola todo o sul, por via dum paralelo que passasse a
norte de Benguela, do Huambo, do Bié e cruzasse o Moxico, esteve em curso e o
que Savimbi controlava durante a “guerra dos diamantes de sangue” foi
um espelho fora de época do “bantustão” que foi sempre morrendo no
ovo!
O
cartel de diamantes, jogando como sempre em todos os tabuleiros em conformidade
com os ensinamentos da casa-mãe Rothschield (componente do “Le Cercle”,
como do “Bilderberg” e da“Trilateral”), também ganhava com isso, não
só pelos negócios que se foram realizando na altura por essa via tão
contaminada, mas também na sua estratégia de aproximação a partir do momento em
que as minas começavam a entrar em declínio na África do Sul e era preciso ir
para norte, para o Botswana, para a Namíbia (e um dia para o sul de Angola,
para Mavinga).
No
Botswana haveriam de formar a poderosa DEBSWANA, na Namíbia a NAMDEB e em
Angola, antes de mais, está hoje por dentro das iniciativas que se vão
desenhando para o Kuando Kubango, uma parte delas inscritas primeiro no plano
da “Okawango and Upper Zambeze Tourism Innititive”, agora no KAZA-TFCA (“Kawango
Zambezi Transfrontier Conservation Area”), um produto que reverteu também da
inteligência do “apartheid”, agora ao serviço da inteligência “arco-íris” sul-africana
e abrangendo uma vasta região que se estende pelo norte do Botswana, pelo
Caprivi da Namíbia, pelo noroeste do Zimbabwe, pelo sudoeste da Zâmbia e,
finalmente, pelo sudeste de Angola, com seus novos Parques Nacionais angolanos,
que abrangem a Reserva Parcial de Mavinga (5.950 km2), Coutada Pública de
Mavinga (28.750 km2), Coutada Pública do Mucusso (25.000 km2), Reserva Parcial
de Luiana (8.400 km2), Coutada Pública de Luiana (13.950 km2) Coutada Pública
do Luengue (16.700 km2) e Parque Regional do Kuelei (4.500 km2), as áreas
dilectas de Savimbi enquanto apêndice de Botha, a zona demarcada pela De Beers
e a região norte da transumância dos elefantes na África Austral!
Foto:
Recepção de Ronald Reagan a Jonas Savimbi – finais de janeiro de 1986.
Nota:
O Parque Nacional de Mavinga possui 46.720 km2 e o de Luiana-Luengue 22.610
km2, os dois juntos perfazem 69.330 km2.
Artigos
anteriores (os dois primeiros publicados em janeiro e o terceiro publicado em
março de 2008, no Página Um, e retirados da blogosfera):
- Cuito
Cuanavale – Vinte anos depois – I;
-
Cuito Cuanavale – Vinte anos depois – II;
-
Cuito Cuanavale – Vinte anos depois – III.
Outros
.
Guerra na fronteira no sul da África – . http://sistemasdearmas.com.br/ca/bushwar1.html
« Apartheid » - http://pt.wikipedia.org/wiki/Apartheid
.
Batalha do Kuio Kuanavale – http://pt.wikipedia.org/wiki/Batalha_de_Cuito_Cuanavale
.
A criação dum estado : o Sudão do Sul – http://paginaglobal.blogspot.com/2011/05/criacao-de-um-estado-o-sudao-do-sul.html
.
La ofensiva de USA en África – http://www.rebelion.org/noticia.php?id=133024&titular=la-ofensiva-de-usa-en-áfrica-
.
UNITA : The battle in Angola ; freedom vs communism – http://www.conservativeusa.org/angola.htm
.
Angola rebel to lobby Washington – http://articles.chicagotribune.com/1986-01-28/news/8601070771_1_rebel-leader-jonas-savimbi-military-aid-angola
.
Operation Cabinda – http://en.wikipedia.org/wiki/Operation_Cabinda
.
Bill Clinton – http://en.wikipedia.org/wiki/Bill_Clinton
.
Rodésia – http://pt.wikipedia.org/wiki/Rod%C3%A9sia
.
Relações entre Angola e os Estados Unidos – http://pt.wikipedia.org/wiki/Rela%C3%A7%C3%B5es_entre_Angola_e_Estados_Unidos
.
The Resumé - Janine Farrel Roberts – http://www.sparkle.plus.com/jancv-dia.html
. The
Destabilization Of Africa –
BLOOD MONEY OUT OF AFRICA – Michael Ruppert –
'From The Wilderness' –
http://www.copvcia.com
'From The Wilderness' –
http://www.copvcia.com
. McKINNEY
HOLDS CONGRESSIONAL HEARINGS: EXPERTS BARE COVERT U.S. ROLE IN AFRICAN WARS –
By Monica Moorehead – http://www.mail-archive.com/wwnews@wwpublish.com/msg01006.html
.
Reservas, Parques e Coutadas do Kuando Kubango – http://cuandocubango.com/index.php?option=com_content&view=article&id=170&Itemid=158
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