Paula
Ferreira – Jornal de Notícias, opinião
Foram
quatro anos de intervenção externa para pôr as contas em dia. Os portugueses pobres
ficaram mais pobres, os remediados viram-se despromovidos à pobreza. Os ricos
continuam a fazer fortuna. O quadro social é este. E não temos ainda as contas
ajustadas.
É
caso para perguntar: valeu a pena o sacrifício? Poderão os especialistas em
economia e finanças afirmar que sim. E Maria Luís Albuquerque surgir na Europa
como representante do país que fez tudo certo para equilibrar as Finanças. Os
portugueses, certamente, respondem de forma negativa. A vida das pessoas
desmente os especialistas, no minuto seguinte. Os juros da dívida, é certo,
estão longe dos 9 por cento atingidos em 2011, o que levaria o ministro das
Finanças de então a falar a um jornal para forçar o primeiro-ministro a pedir
ajuda externa. O "deficit" baixou mas, apesar de todo o sacrifício,
do verdadeiro massacre social, não atingiu os valores exigido por Bruxelas.
Portugal
está diferente. Não para melhor como alguns tentam pintar. Os números do desemprego
sobem, os apoios sociais seguem caminho inverso. Se, no final de 2010, a taxa
de desemprego estava nos 10,8 por cento; hoje atinge os 14,7 por cento. Dados
oficiais. Contudo, a realidade é ainda mais calamitosa: vários especialistas
indicam que o desemprego anda acima dos 20 por cento.
O
próprio FMI (os seus técnicos, lembre-se, foram os principais ideólogos da
política austeritária) manifestou há dias preocupação com a dificuldade do país
para recuperar o emprego. São eles economistas e especialistas em finanças. Não virá
nos livros que sem dinheiro não há compras, o que talvez explique um recuo da
economia da ordem dos 6,5 por cento no período de resgate. A muitos das
centenas de milhares caídos no lamaçal do desemprego resta a alternativa
conhecida dos portugueses: emigrar. Desde a entrada da troika, mais de 350 mil
foram forçados a sair. Se não tivessem partido, que dimensão teria a taxa de
desemprego?
Com
eleições à porta, o primeiro-ministro, Passos Coelho, prega as virtualidades do
ajustamento. Anuncia mesmo um tempo novo, de crescimento e prosperidade.
Estranha Europa esta, que enaltece o exemplo de Portugal: país em que um em
cada quatro cidadãos se encontra em risco de pobreza. Mas os cofres, dizem,
estão cheios. Cheios de quê? De repente, parece termos recuado ao "tempo
da outra senhora".
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