O
País, editorial
Angola
já viveu momentos em que o preço do barril do petróleo no mercado internacional
esteve mais baixo que o actual, sem haver, no entanto a especulação que hoje se
regista e, sobretudo, a magia com que desaparecem os cambiais. Naquela altura
nem se falava de reservas internacionais como se fala agora, era um momento em
que a economia estava mais fraca, menos animada e em que a actividade privada
era menos expressiva. Tudo isso leva a que se comecem cada vez mais a levantar
questionamentos sobre o que se está a passar com os cambiais. Sobre a
fiscalização, sobre o cumprimento da lei. Com a informação que vai passando,
muito pouca, é fácil depreender-se, talvez erradamente, que o Estado está sob
ataque. Que há desvios deliberados de divisas, cujo resultado será o
estrangulamento das iniciativas empresariais e o descontentamento social. O
Preço do petróleo por si só não justifica tão de imediato a paralisação de
algumas indústrias, o despedimento de trabalhadores e o regresso de jovens que
se estavam a formar no exterior. Aliás, até onde se sabe, as agências de
remessas de dinheiro, as casas de câmbio e a própria banca comercial ainda não
deram sinais de algum abalo por falta de cambiais. Ao tempo que esta situação
se mantém (cerca de seis meses) como se justifica que as casas de
remessas continuem abertas, como os mesmos funcionários, se não têm actividade
por causa de uma suposta crónica falta de plafond?
O
petróleo, efectivamente, não pode ser o culpado de tudo, mas esta crise vem
alertar o país, como já se disse repetidas vezes, para olhar para si mesmo e
buscar outras fontes de riqueza. Nas escolas é ensinado aos alunos que Angola é
rica, e há uma lista interminável de minerais no nosso subsolo. É altura de
diversificar a economia mineral também. O ouro, o fosfato, o cobre, o ferro, o
mercúrio e outros minerais devem começar a ter uma exploração comercial, que
diminua o peso do petróleo na economia nacional e que suporte o financiamento
necessário para o desenvolvimento da agricultura, do turismo e do conhecimento
científico. Mas para tudo isso há um ponto de partida determinante: a
capacidade de fiscalizar e evitar o que está a acontecer no meio caminho
do dinheiro entre o Banco Nacional e os bancos comerciais, as casas de câmbio e
as agências de remessa de dinheiro.
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