quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Angola. O PETRÓLEO NÃO É CULPADO DE TUDO



O País, editorial

Angola já viveu momentos em que o preço do barril do petróleo no mercado internacional esteve mais baixo que o actual, sem haver, no entanto a especulação que hoje se regista e, sobretudo, a magia com que desaparecem os cambiais. Naquela altura nem se falava de reservas internacionais como se fala agora, era um momento em que a economia estava mais fraca, menos animada e em que a actividade privada era menos expressiva. Tudo isso leva a que se comecem cada vez mais a levantar questionamentos sobre o que se está a passar com os cambiais. Sobre a fiscalização, sobre o cumprimento da lei. Com a informação que vai passando, muito pouca, é fácil depreender-se, talvez erradamente, que o Estado está sob ataque. Que há desvios deliberados de divisas, cujo resultado será o estrangulamento das iniciativas empresariais e o descontentamento social. O Preço do petróleo por si só não justifica tão de imediato a paralisação de algumas indústrias, o despedimento de trabalhadores e o regresso de jovens que se estavam a formar no exterior. Aliás, até onde se sabe, as agências de remessas de dinheiro, as casas de câmbio e a própria banca comercial ainda não deram sinais de algum abalo por falta de cambiais. Ao tempo que esta situação se mantém (cerca de seis meses) como se justifica  que as casas de remessas continuem abertas, como os mesmos funcionários, se não têm actividade por causa de uma suposta crónica falta de plafond?

O petróleo, efectivamente, não pode ser o culpado de tudo, mas esta crise vem alertar o país, como já se disse repetidas vezes, para olhar para si mesmo e buscar outras fontes de riqueza. Nas escolas é ensinado aos alunos que Angola é rica, e há uma lista interminável de minerais no nosso subsolo. É altura de diversificar a economia mineral também. O ouro, o fosfato, o cobre, o ferro, o mercúrio e outros minerais devem começar a ter uma exploração comercial, que diminua o peso do petróleo na economia nacional e que suporte o financiamento necessário para o desenvolvimento da agricultura, do turismo e do conhecimento científico. Mas para tudo isso há um ponto de partida determinante: a capacidade de fiscalizar  e evitar o que está a acontecer no meio caminho do dinheiro entre o Banco Nacional e os bancos comerciais, as casas de câmbio e as agências de remessa de dinheiro.

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