sexta-feira, 16 de outubro de 2015

ALIANÇAS PARTIDÁRIAS PARA GOVERNAR SÃO EXCLUSIVO DA DIREITA EM PORTUGAL



A manhã já lá vai. Boa tarde. Trazemos na mesma o Expresso Curto exposto aos seus olhares e entendimentos. Hoje servido por Valdemar Cruz. A abertura tem que ver com o sabido Cavaco que ainda vai ficar por mais uns 4 meses alapado em Belém naquele casarão mesmo ao lado dos Pastéis de Belém, ou de nata. Nata, o que Cavaco não tem. Espreme-se e deita somente números e cifrões. Adiante, que ele já nem merece mais converseta.

O direito exclusivo de a direita se aliar e governar Portugal, governando-se, foi o que aconteceu durante décadas. Atualmente a esquerda alia-se para constituir uma maioria declarada no Parlamento e desse modo dar sustentabilidade a um governo PS. NÃO pode. O exclusivo de alianças para governar são pertença da direita e do PS se se aliar à direita. À esquerda o PS não se pode aliar.

E agora digam lá que estes sujeitos da direita são democráticos. E que a sabujeira de Belém não vai comunicar ao país exatamente esse mesmo princípio e deixar  Portugal nas mãos da sua PàF em detrimento de uma aliança de esquerda maioritária que pode garantir a estabilidade Parlamentar e governativa. Aquelas cabeças têm uma venenosa dose de reacionarismo, de revanchismo, de saudosismo fascista, por mais que se digam democráticos ou os queiram vender por tal. Quando chega a hora eles mostram quem são. A escória do antigamente salazarista transmudado, em parte, para a modernidade hipócrita de uma pseudo-democracia que nos têm imposto.

Sem mais considerações, que a conversa está a ficar azeda, antes de chegarmos à conclusão de que o país é uma quinta do bando de Cavaco.

O Expresso Curto fora de horas, mas sempre útil para alguns de nós, nesta ânsia de conhecimento.

Redação PG

Bom dia, este é o seu Expresso Curto 

Valdemar Cruz - Expresso

O Síndroma de John Cage

Para outono, tem estado um verão bem quente. O país sobrevive submetido a altas temperaturas noticiosas e ninguém quer ficar mal na fotografia. Desde logo Cavaco Silva. O Presidente da República, cansado de ver tanta gente a assenhorar-se dos seus silêncios, viu-se obrigado a vir esclarecer o óbvio e garantir ser alheio aos cenários construídos nos últimos dias pela imprensa.

O ritmo noticioso e opinativo tem sido frenético. O país, em particular os seus alicerces morais, éticos e políticos, estão sob ameaça. Nem sou eu quem o diz. Basta ouvir e ler os discursos editoriais hegemónicos. Estamos a caminho do caos e constroem-se as mais diversas teorias da conspiração, quase sempre assentes na consagração, recordou-o Augusto Santos Silva, de um direito divino da direita a governar em Portugal, mesmo quando não consegue ter a maioria eleitoral.

Com os acontecimentos a atropelarem-se ao minuto, vivemos uma nova era comunicacional. Depois do jornalismo opinativo, passamos pelo jornalismo interpretativo, e estamos agora na fase do jornalismo adivinhativo, ontem explorado pelo jornal I, entre outros, e hoje retomado pelo Sol com o seu "Cavaco deve dar posse a Passos". Vale a pena, por isso, tomar atenção ao artigo assinado por António José Teixeira no Expresso Diário, pelo seu equilíbrio e ponderação.

Costa anda agastado com quem, no PS, fala sem conhecimento de causa. Não por acaso, creio, a foto escolhida pelo Expresso para acompanhar esta notícia mostrava Francisco Assis, cuja oposição aos entendimentos à esquerda têm gerado muitos comentários, a favor e contra, em particular nas redes sociais. Apostado numa batalha de esclarecimento, Costa quis ser ele próprio a entregar o retrato da situação aos seus congéneres socialistas europeus e deixar garantias quanto às balizas das negociações encetadas à esquerda.

A situação é complexa e ecos do que por cá se passa já chegaram ao estrangeiro, como reporta a revista francesa Marianne, ao assegurar que o PS encontrou pontos de convergência com o PCP "e o partido de esquerda".

Por cá, Passos Coelho, que lá por fora recebeu o apoio da família política do PPE, aguarda com natural ansiedade o início e o fim das conversas de Cavaco Silva com os partidos, agendadas para as próximas terça e quarta-feira, e, diz o Público hoje em chamada à primeira página, espera ser indigitado primeiro-ministro.

Uma das singularidades das duas últimas semanas passa por uma constatação: os principais dirigentes políticos têm procurado falar pouco e, pelo contrário, nos jornais, nas rádios e nas televisões, há infindáveis oráculos em atividade frenética. O quadro pintado é de susto. Vêm aí os saneamentos, presume-se que também o Gulag, é preciso ter cuidado com as criancinhas, os mercados vão entrar em transe. Depois há a Nato, como muito bem lembrou o Presidente da República no início do processo. Pois é, a Nato. Esquecíamo-nos da Nato e da importância histórica da Nato na opção de voto dos portugueses.

Costa tem tentado uma hipótese de governo diferente da habitual, mas até o representante de Deus em Lisboa acha pouco natural o que o secretário geral do PS anda a fazer. Costa está a esquecer-se do respeito pela tradição tão caro a uma instituição milenar como a igreja católica. E a tradição diz que um partido como o CDS, a quarta força do Parlamento, tem direito a estar no Governo, mas o BE, terceira força, não tem. Muito menos o PCP, é claro. De resto, e é uma dúvida que me assalta e não vi ainda ninguém lançar para cima da mesa, pelo menos desta forma tão assertiva: não deviam estes partidos ser proibidos por inúteis e inviáveis no quadro democrático construído na Europa? Um partido que só serve para enfeite, não é um partido. É uma jarra.

Com todos estes devaneios e comportamentos tão histriónicos, talvez ganhássemos todos se irrompesse por instantes uma espécie desíndroma de John Cage capaz de levar a uma geral audição de um dos seus mais impactantes concertos para piano: 4' 33''. Assim se chama uma peça onde se mostra como até o silêncio pode ser subversivo. Não há qualquer nota. Não há qualquer movimento. Apenas o silêncio. Faz-nos falta um pouco de silêncio. Já Eugénio de Andrade glorificava o fascínio do silêncio em "Obscuro Domínio": "Quando a ternura/parece já do seu ofício fatigada,//e o sono, a mais incerta barca,/inda demora,//quando azuis irrompem/os teus olhos//e procuram/nos meus navegação segura,//é que eu te falo das palavras/desamparadas e desertas,//pelo silêncio fascinadas".

OUTRAS NOTÍCIAS

As presidenciais têm ficado para segundo plano, embora ontem os candidatos tenham dado sinal de vida. Dois - Rui Rio e Alberto João Jardim- para se afastarem da corrida, com o ex-presidente da Câmara do Porto a ficar à espera do futuro, e jardim a garantir não pretender fazer o papel de D. Quixote. Marcelo Rebelo de Sousa já tem o primeiro comício marcado para manhã, no Porto. Edgar Silva, o ex-padre madeirense apresentado pelo PCP quer chegar à segunda volta e Sampaio da Nóvoa cruzou-se ontem com Marcelo num evento da Universidade de Lisboa.

Através do JN ficamos a saber que o Estado dá como garantia contas bancárias a zero. Segundo o jornal, o edifício do Tribunal da Boa Hora servirá para pagar dívida por prisão ilegal.

O tema do dia no Público inclui uma grande foto de Yanis Varoufakis na capa, com o ex-ministro das finanças grego a assegurar quePortugal está tão falido como a Grécia.

José Sócrates perdeu espaço noticioso. Porém, o Diário de Notícias de hoje revela que, não obstante o Tribunal da Relação de Lisboa ter rejeitado o pedido de nulidade do Ministério Público e determinado o fim do segredo de justiça no processo judicial, o ex-primeiro ministro "só terá acesso ao processo depois do OK de Carlos Alexandre".

Lá fora

O drama dos refugiados continua a alimentar-se de vítimas mortais.Mais uma tragédia salta para o espaço noticioso com a morte de sete pessoas (sim, são pessoas) na sequência do choque de uma embarcação da guarda costeira grega contra um barco com dezenas de emigrantes. O acidente ocorreu ao largo da ilha de Lesbos e os primeiros cadáveres recuperados foram os de uma mulher, duas meninas e um bebé.

Numa decisão passível de gerar polémica, o tribunal europeu dos direitos do Homem optou pela liberdade de expressão e confirmou acondenação da Suíça por ter sancionado penalmente o nacionalista turco Dugu Perinçek devido aos seus discursos revisionistas sobre o genocídio de que foram vítimas os arménios.

Em Santiago do Chile acaba de abrir um novo museu integralmente dedicado a Violeta Parra, autora de "Gracias a la Vida" e porventura um dos mais universais símbolos da canção de autor. É um museu à altura de um mito, diz o mexicano La Jornada.

Não passe à frente sem espreitar este ensaio fotográfico do Guardian. O fotógrafo norte-americano Eric Pickersgill convidou pessoas comuns a posarem e a seguir retirou-lhes os telemóveis ou tablets. O resultado é fantástico e mostra o que perdemos quando estamos mais conectados com os telemóveis do que uns com os outros.

FRASES

"O que António Costa anda a fazer é um verdadeiro golpe de estado".Manuela Ferreira Leite na TVI 24

"A candidatura de Maria de Belém foi propiciada, empurrada e desenvolvida pela coligação". José Pacheco Pereira na SIC Notícias

"Governo de esquerda terá a mesma legitimidade mas risco maior".Adriano Moreira na Antena 1

"Homeland é racista". Grafiti pintado em árabe por três artistas contratados pela série "Segurança Nacional" e visto no episódio ontem transmitido a par de outras mensagens denunciadoras do modo como a série olha para os conflitos do Médio Oriente

O QUE ANDO A LER E OUVIR

Entrei há dias em "Astronomia", o novo romance de Mário Cláudio. É uma autobiografia ficcionada, o que desde logo sugere um novo e estimulante desafio para o leitor. Após a exaustiva biografia de Tiago Veiga, um poeta imaginário, o escritor aventura-se agora pelo mundo do real, mas através de uma construção narrativa toda ela ancorada em processos ficcionais para os quais, pelo menos na primeira parte, a que estou a ler, são convocadas as histórias do Romanceiro, contos e ditos populares, ou as personagens fantásticas criadas por escritores como Hans Christian Andersen, os irmãos Grimm ou Charles Perrault.

Também esta semana, e induzido pela entusiástica crítica lida no Babelia, suplemento literário do El País, iniciei a leitura de "Capitalismo Canalla", do sociólogo César Rendueles. Apresentado como "uma história pessoal do capitalismo através da literatura", o livro, além de estar bem escrito, revela uma grande densidade cultural do autor e aparece carregado de ironia e originalidade. Constrói-se a partir das leituras de algumas grandes e outras menos conhecidas criações literárias, que vão de Robinson Crusoé a textos de Dickens ou Joseph Conrad, Dostoievsky ou Rimbaud. Rendueles, para lá de estabelecer permanentes pontes com a atual situação política e económica, tenta, como se diz no El País, seguir o "rastro do capitalismo como personagem 'canalha' na literatura, que conseguiu aparecer na mesma como um sistema aparentemente invencível, frente ao qual uma sociedade em crise adotou uma docilidade paralisante, e uma atitude de ceticismo a respeito dos processos de transformação social".

Porque há mais mundos para lá dos mundos a que nos acomodamos, ouço o programa de Raquel Bulha na Antena 3. Chama-se "Planeta 3"e viaja pelo mundo à procura das músicas que o mundo gera. É fascinante descobrir sonoridades inesperadas, opções estéticas e musicais imprevisíveis. Passa aos sábados e domingos, mas grande parte das emissões estão disponíveis para serem ouvidas em qualquer altura.

E já está. Tenha um bom dia e aproveite o fim de semana para, se estiver em Lisboa, visitar a exposição antológica de António Costa Pinheiro, na Galeria São Roque. No Porto, no Museu de Serralves, pode ver a partir de amanhã a exposição de Helena Almeida ou uma mostra de obras da 31ª Bienal de São Paulo. Em Braga não perca os Encontros da Imagem.

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