terça-feira, 27 de outubro de 2015

Testemunhas confirmam procedimentos de compra em caso de ex-ministras timorenses



Díli, 26 out (Lusa) - O julgamento de duas ex-ministras timorenses foi hoje retomado no Tribunal de Díli com a audição a três testemunhas da acusação que foram questionadas sobre os procedimentos da compra de camas para os hospitais timorenses, na génese do processo.

A ex-ministra das Finanças Emília Pires e a ex-vice-ministra da Saúde Madalena Hankam são coarguidas num processo que está a ser julgado desde o passado dia 05 de outubro e em que são acusadas da prática de crimes de participação económica em negócio e administração danosa.

Pires e Hankam são acusadas de alegadas irregularidades na compra de centenas de camas hospitalares em contratos adjudicados à empresa do marido da ex-ministra das Finanças, com um suposto conluio entre os três para a concretização do negócio, no valor de 800 mil dólares (cerca de 720 mil euros).

A tese da acusação questiona, por um lado, o alegado favorecimento na compra das camas e, ao mesmo tempo, a decisão de recorrer ao Fundo de Contingência - que deve ser usado em casos de urgência - para a operação.

De referir que a audiência de hoje contou na plateia com um observador internacional que, a pedido do Governo timorense está a acompanhar o processo, segundo confirmou à Lusa fonte do executivo timorense.

Trata-se do advogado português Alberto Costa que foi ministro da Administração Interna entre 1995 e 1997 (no primeiro Governo de António Guterres) e ministro da Justiça entre 2005 e 2009 (no primeiro Governo de José Sócrates).

Na sessão de hoje as três testemunhas ouvidas - ainda falta ouvir nove das 24 indicadas pelo Ministério Público - com uma das testemunhas chave, Rui Manuel Exposto, antigo administrador hospitalar do Hospital Nacional Guido Valadares (HNGV), a contradizer declarações anteriores.

Em causa estiveram várias questões do MP sobre um documento assinado por Rui Manuel Exposto em que este defende a necessidade de compra de 200 camas para o HNGV, dadas as carências que já se sentiam.

A acusação insistiu no facto do documento não referir, em nenhum ponto, o eventual cariz urgente do pedido, tendo Rui Exposto confirmado que a necessidade tinha já sido debatida várias vezes em reuniões periódicas e regulares de responsáveis da saúde timorenses.

Em declarações anteriores, perante o MP, Exposto não tinha confirmado a natureza urgente do pedido, facto questionado hoje pelas defesas das duas arguidas que o questionaram sobre se essa urgência existia de facto, mesmo não tendo sido referida no documento.

Para isso confrontaram a testemunha com informação que dava conta das carências existentes na altura, agravadas por um surte de dengue, com doentes a terem que partilhar camas e outros a terem que ficar no chão nos corredores.

A testemunha foi confrontada com documentos produzidos pelo sistema de informação do Ministério da Saúde, que confirma o pico de casos de dengue no início de 2012, muito superior ao período homólogo anterior.

Um segundo, relativo à atividade do HNGV entre 2007 e 2012, inclui um quadro que confirma que a taxa de ocupação das camas tinha, há muito, ultrapassado o ideal, chegando aos 97% em 2011 e ultrapassando os 106% em 2012.

Perante estas questões a testemunha acabou por concluir que a compra das camas era de facto urgente, com a unidade praticamente em colapso com uma taxa de ocupação muito acima do ideal que é de 85%, segundo o próprio Ministério da Saúde.

O julgamento procede na terça-feira antecipando-se, caso terminem os depoimentos das testemunhas da acusação, que a primeira testemunha da defesa - o ex-primeiro-ministro Xanana Gusmão - possa ser ouvido na quinta-feira.

ASP // EL

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