A
analista da agência de 'rating' Moody's que segue a economia de Angola
considera que o país tem "todos os ingredientes" para ver os jovens
forçarem mudanças no regime e diz que a evolução política depende da economia.
Questionada
sobre se o país pode viver uma espécie de 'Primavera Angolana', Rita Babihuga
respondeu que "nunca se sabe o que pode ser o gatilho ou a fagulha que
desencadeia um movimento desses", mas sublinha que esse foi um cenário
considerado na agência de 'rating'.
"Os
ingredientes estão todos lá - alto nível de desemprego, população jovem, mais
envolvida do que há 10 ou 20 anos, e mais desperta para o que se passa no
exterior", diz Rita Babihuga, em entrevista à Lusa a propósito dos 40 anos
da independência de Angola, que se assinalam a 11 de novembro.
Na
entrevista por telefone desde Londres, a analista argumentou que a chave para o
futuro político de Angola está na economia: "O que acontece na economia é
muito importante para determinar se a população fica mais reivindicativa ou
não", desde logo pela disponibilidade de verbas para investimentos que
garantam emprego aos jovens.
"Angola
tem um ambiente externo desafiante, e talvez não agora, que ainda tem a
situação controlada, mas num cenário de contínua degradação do ambiente externo
e sem os recursos petrolíferos para continuar a garantir a expansão económica
que manteve o descontentamento controlado, então mais lá para a frente os
impactos do desemprego muito alto podem ser motivo de preocupação", diz.
Além
da evolução da economia, Babihuga chama também a atenção para a própria
evolução política: "A sucessão [de José Eduardo dos Santos] é uma questão
real, porque parece estar a chegar ao fim de um longo mandato, e é uma questão
em aberto a maneira como será sucedido, o que acrescenta um nível de incerteza
que não ajuda, porque não se sabe como será delineado o futuro da gestão
política e económica do país".
Se
o futuro é incerto, não só pela previsível manutenção dos preços baixos do
petróleo, mas também pelo abrandamento da economia chinesa, um dos principais
parceiros e investidores em Angola, o passado oferece otimismo, a avaliar pelo
muito que foi conseguido desde a independência, mas principalmente desde o fim
da guerra civil, considera.
"Angola
ganhou a reputação na última década de uma economia em rapidíssimo crescimento,
e isso é um feito em si próprio, o facto de a economia mostrar a capacidade de
gerar elevadas taxas de crescimento durante um período largo, o que sustentou
uma transformação económica num curto período de tempo", diz a analista.
Numa
década, aponta, "Angola passou de país de baixo rendimento com um
rendimento 'per capita' de 700 dólares, em 2003, para quase 5 mil, em 2014, o
que é um feito extraordinário que diferencia o país de muitos outros em todos
os níveis de desenvolvimento".
Questionada
sobre a capacidade do país para aproveitar essas altas taxas de crescimento e
atacar os problemas sociais comuns nos países pós-guerra civil, Rita Babihuga
diz que "em Angola ainda há muita desigualdade", mas salienta que a
situação "é comum a muitos outros países no seu nível de
desenvolvimento".
Se
tivesse de escolher uma prioridade, a analista escolheria a diversificação
económica como o 'chapéu' mais alargado, sob o qual várias reformas precisam de
ser lançadas.
"Uma
das reformas-chave que gostamos de enfatizar é a diversificação da economia,
até porque as receitas de um setor com o petróleo são mais difíceis de canalizar
para outros", diz a analista, concluindo que "o crecimento na
agricultura é importante porque representa uma grande concentração de pessoas,
e um crescimento sustentado em setores onde a população rural está muito
envolvida vai ajudar a aumentar os níveis de igualdade".
MBA
// VM - Lusa
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