quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Líderes históricos timorenses defendem importância do português para a independência



Vários líderes históricos timorenses consideram que o português é essencial para o presente e futuro do país e que o seu uso está a aumentar, mesmo em comparação com o período colonial.

"Vai levar tempo, naturalmente. Mas não é difícil. Difícil foi a independência. Mesmo assim conseguimos. Porque não o português?" -- questionou, em declarações à Lusa, o Presidente da República, Taur Matan Ruak.

Para muitos dos líderes políticos do país, num momento em que Timor-Leste comemora 40 anos da proclamação da independência e os 500 anos da chegada de portugueses à ilha, o ensino da língua está em curso mas será necessária ainda uma geração para consolidar a aprendizagem.

Reconhecendo que há pessoas contra essa opção, Taur Matan Ruak defende que "politicamente foi a escolha certa", porque a língua portuguesa é "um dos fatores da identidade" timorense.

"A melhor coisa que fizemos foi escolher. Explicando que a escolha é uma questão identitária, não apenas política. É identitária. A língua e a religião: dois fatores que sustentam toda a nossa estrutura identitária. É para permanecer. Retirar isso é deixarmos de ser diferentes na região", afirmou o chefe de Estado, reconhecendo as dificuldades do processo.

"Quando é que todo o timorense vai falar português? Vai levar anos. Especialmente quando há outras áreas prioritárias com as infraestruturas do país. Na medida em que reduzimos isso, os recursos podem ir para outras áreas. Uma delas é a língua", explicou.

Para Taur Matan Ruak, o facto de os jovens, que estudaram indonésio ou inglês, estarem agora "a aceitar o sacrifício" da reintrodução da língua portuguesa mostra que são uma geração "generosa".

José Ramos-Horta, Prémio Nobel e ex-chefe de Estado, também considera que a língua portuguesa não vai desaparecer - "antes pelo contrário" - e que em apenas 13 anos já aumentou muito o número de falantes no país.

"O português veio para ficar e vejo muitos políticos que na altura não falavam e hoje falam", disse.

Para Ramos-Horta, o país deverá consolidar-se como um espaço de quatro línguas, com "um tétum forte e mais modernizado e com bastante mais português pelo meio", o português, o indonésio e o inglês, cujo número de falantes também cresceu.

Francisco Guterres 'Lu-olo', ex-presidente do Parlamento Nacional e presidente da Fretilin (Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente) atribui a um "sentimento de saudosismo" a opinião dos que pensam que o português não deve ser a língua para Timor-Leste.

O seu partido, assegura, continua a defender o português como língua oficial, a par do tétum, já que esta é "uma particularidade fundamental relativamente a outros países da região".

"Existem realmente pessoas que têm alguma dificuldade em falar português - eu também tenho - mas eu entendo porque é que devemos falar a língua portuguesa. No tempo da Indonésia, a escola Externato S. José foi alvo de perseguição das tropas indonésias precisamente por estarem a lecionar a língua portuguesa", disse.

"O que eles queriam era acabar com a língua portuguesa e com todos os sinais que os portugueses deixaram. Queriam combater isso tudo. Para quê? Para matar a alma deste povo. Eu devo dizer que era para matar a alma desse povo", insistiu Lu-Olo.

O responsável da Fretilin defende mais esforços do Governo nesta matéria, especialmente através das escolas de referência, e considera que quem não "mudar de mentalidade, vai ficar ultrapassado".

Também Mário Carrascalão, ex-vice-primeiro-ministro timorense, insiste que o português é essencial para o presente e futuro de Timor-Leste, especialmente numa região com vizinhos tão fortes como a Indonésia e a Austrália.

"Quem quiser pensar não só com o coração mas com a cabeça tem que pensar que o português é imprescindível para a sobrevivência de Timor como pais independente", afirmou.

"O único país nesta área que tem como língua oficial o português é Timor. É isso que marca a independência. É preciso que os governantes não tenham vergonha de dizer que se não fossem os portugueses a ocuparem essa parte, esta parte nunca seria independente sozinha", afirmou.

Recordando que as próprias resoluções da ONU sobre a descolonização de Timor-Leste se fizeram com base nas fronteiras coloniais, Carrascalão recorda a influência e o poder que a Indonésia continua a exercer e pode exercer sobre a identidade timorense.

"Etnicamente não somos diferentes, o povo timorense aprendeu rapidamente o indonésio, em Timor existem católicos em Atambua também", disse.

"Estamos economicamente altamente dependentes da Indonésia. Todo o nosso combustível vem da Indonésia, os bens de consumo quase todos são da Indonésia", afirmou.

ASP // PJA - Lusa

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