quarta-feira, 6 de maio de 2015

Reino Unido. Eleições: Cameron confiante numa maioria, mas aberto a coligação




O primeiro-ministro britânico e líder dos conservadores, David Cameron, afirmou hoje que o partido ainda pode obter uma maioria nas eleições de quinta-feira, mas admitiu voltar a governar em coligação.

"Continuo a lutar por uma maioria. Podemos conseguir uma maioria suficiente que dê ao Reino Unido um governo forte e estável", disse Cameron numa ação de campanha.

O líder dos 'Tories' admitiu no entanto que os resultados podem não ser tão claros, como sugerem as sondagens, caso em que está disposto a negociar para formar um governo de coligação.

"Porei os interesses do país em primeiro lugar", afirmou, referindo que foi o que fez quando em 2010 assumiu a chefia do atual governo de coligação com os liberais-democratas.

Nick Clegg, líder dos liberais-democratas, terceira força política no Parlamento, disse que negociaria tanto com os conservadores como com os trabalhistas desde que veja satisfeitas duas condições: um investimento adicional de 10,8 mil milhões de euros no serviço nacional de saúde e o aumento dos salários dos funcionários públicos ao nível da inflação.

O líder trabalhista, Ed Miliband, afirmou hoje por seu lado que uma nova coligação entre conservadores e liberais representaria um "enorme risco para as famílias trabalhadoras" tendo em conta os cortes aplicados nos últimos anos pelo atual governo.

Cameron, em contrapartida, voltou hoje a advertir contra uma aliança dos trabalhistas com o Partido Nacionalista Escocês (SNP), proposta pelos escoceses mas até agora recusada por Miliband, afirmando que ela "colocaria graves questões de credibilidade".

"O SNP não quer que o Reino Unido seja um êxito, o SNP não quer que o Reino Unido exista", disse.

A líder do partido escocês, Nicola Sturgeon, assegurou por seu lado hoje que o SNP vai "usar a sua influência" para, com outras formações, impedir os conservadores de se manterem no poder.

"Não quero que David Cameron volte ao número 10 (de Downing Street, sede do governo) e, se na sexta-feira houver uma maioria anticonservadora, quero que essa maioria se una para garantir que David Cameron não volta ao número 10", disse.

As últimas sondagens colocam conservadores e trabalhistas quase empatados nas intenções de voto, com 34% e 33%, seguidos do eurocético Partido da Independência do Reino Unido (UKIP), com 12% a 16%, e dos liberais-democratas, com 9%.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Moçambique. Oposição critica "leviandade" da PGR em relação à morte de Gilles Cistac




A Renamo e o MDM, principais partidos de oposição em Moçambique, criticaram hoje a alegada omissão e leviandade com que a Procuradoria-Geral da República tratou a questão do assassínio do constitucionalista Gilles Cistac.

"Este relatório trata de forma leviana a questão da morte do constitucionalista Gilles Cistac. É tão vergonhoso que também trata de uma forma simplista a morte do juiz Dinis Silica", afirmou António Muchanga, deputado da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana), principal partido de oposição, reagindo à informação anual da Procuradora-Geral da República de Moçambique, Beatriz Buchili.

No relatório, a procuradora-geral da República limita-se a referir que o caso do homicídio de Cistac, por desconhecidos no início de março, está em investigação.

Qualificando ainda a informação como triunfalista, Muchanga criticou o facto de o documento referir que em alguns distritos já não há detidos em prisão preventiva, como resultado da celeridade processual, assinalando que a criminalidade aumentou.

"A informação que a Procuradora-Geral da República acaba de nos prestar é leviana, insonsa e incipiente, não reflete os acontecimentos criminais que se deram no ano em análise", afirmou António Muchanga, reagindo, na sessão plenária da AR, ao balanço de Beatriz Buchili.

Por seu turno, o MDM também considerou omisso o relatório da magistrada, apontando a falta de mais informação sobre a morte de Gilles Cistac, ilícitos nas eleições gerais de 15 de outubro do ano passado e sobre notícias em relação ao alegado registo da Empresa Moçambicana de Atum (EMATUM), participada pela secreta moçambicana, na Holanda.

"Este relatório omite assuntos que são de inegável interesse público", afirmou o deputado Fernando Bismarque, lendo a posição do terceiro maior partido moçambicano na AR.

A Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique), partido no poder, elogiou por seu lado a informação anual da Procuradora-Geral da República, encorajando Beatriz Buchili a continuar o empenho no combate à criminalidade.

"Da informação, mais uma vez, ficámos a saber que o Ministério Público está a enraizar a monitoria das suas atividades aos seus diversos níveis de intervenção e prevalece, de forma saudável, o bom relacionamento entre o Ministério Público e a Polícia de Investigação Criminal, seu órgão auxiliar", afirmou José Amélia, deputado e vice-presidente da AR pela Frelimo.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Chefias das Forças Armadas da CPLP pedem "mão firme" aos militares




Os chefes do Estado-Maior-General dos países de língua portuguesa, reunidos hoje em Luanda, exortaram à "mão firme" dos militares da Guiné-Bissau na reforma do setor, depois do golpe de Estado de abril de 2014.

A posição foi transmitida pelo Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas Angolanas, Sachipengo Nunda, que agora assume a presidência rotativa do órgão das chefias militares da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

"Formulo votos de que as suas Forças Armadas [da Guiné-Bissau] tenham, na pessoa do seu Chefe do Estado-Maior General, a mão firme que conduzirá às reformas preconizadas para o setor militar", disse o general angolano, no discurso de abertura da VII Reunião de chefes militares da CPLP, que já voltou a contar com a presença da Guiné-Bissau.

A representação guineense em Luanda é liderada pelo Chefe do Estado-Maior General, Biagué Na N'Tan, escolhido pelas novas autoridades de Bissau para liderar os militares depois de o Presidente da República, José Mário Vaz, ter exonerado, em setembro de 2014, o general António Indjai, que permanecia no comando depois de ter liderado os militares no golpe de Estado de abril de 2012.

O regresso da Guiné-Bissau a estas reuniões das chefias militares mereceu a "saudação especial" de Sachipengo Nunda, em nome das delegações dos nove países representados em Luanda ao mais alto nível.

"Queremos desejar que isto tudo contribua para a estabilidade da Guiné-Bissau e da comunidade [CPLP] como um todo", disse ainda o Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas Angolanas.

O Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas de Portugal, que no último ano liderou o grupo das chefias militares da CPLP, garantiu a continuidade do "apoio" e "solidariedade" dos países lusófonos ao povo e militares da Guiné-Bissau.

"A Guiné-Bissau, como todos sabemos, passou por um período de turbulência. Neste momento tem uma estabilidade que desejamos seja sustentada e continuada e as Forças Armadas Guiné-Bissau penso que estão empenhadas num futuro melhor", disse o general Pina Monteiro, no final da sessão de abertura da reunião de hoje.

O encontro de chefes militares da CPLP decorre em Luanda até sexta-feira e vai analisar a situação político-militar e questões internacionais de defesa e segurança, nomeadamente eventuais implicações para os países lusófonos.

Portugal cede a liderança rotativa deste órgão às Forças Armadas Angolanas ao longo do próximo ano, cabendo ao país organizar os exercícios militares conjuntos da comunidade lusófona (FELINO) em Cabo Verde, em 2016, e em Angola, no ano seguinte, neste último caso ainda em avaliação por se tratar de um ano de eleições.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Portugal vai apoiar a Guiné-Bissau na criação de uma escola agrária




Portugal vai apoiar a Guiné-Bissau na criação de uma escola agrária que deverá entrar em funcionamento dentro de dois ou três anos, anunciou hoje o secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação de Portugal, Luís Campos Ferreira.

Em visita de trabalho a Bissau até sexta-feira, Campos Ferreira reuniu-se hoje com a ministra da Educação, Odete Semedo, a quem comunicou a disponibilidade de Portugal em apoiar a criação da futura Escola Superior Agrária.

O governante português prometeu à ministra a continuidade da formação de professores e ainda a concessão de bolsas de estudo para estudantes.

No que diz respeito a bolsas de formação em Portugal, Campos Ferreira anunciou a disponibilidade do seu Governo em conceder vagas para alunos do ensino superior e secundário.

De acordo com o secretário de Estado, a reunião com Odete Semedo ficou marcada pelo lançamento "das primeiras diligências" para criação da futura Escola Superior Agrária da Guiné-Bissau.

"Esta é uma ambição legítima deste país, que tem na agricultura uma fonte de receitas da sua economia e das suas potencialidades e por isso justifica-se ter também um estabelecimento de ensino que inove, que crie conhecimentos", declarou o governante português.

O secretário de Estado português esteve também na escola católica Madre Serafina, nos arredores de Bissau, onde deixou promessas de apoio às crianças do estabelecimento gerido por freiras Franciscanas Clarissas.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Portugal. DESCER A TSU, O DOGMA DOS PAÍSES DESENVOLVIDOS?




Afirma Mário Centeno: “todos os países desenvolvidos utilizam a TSU como instrumento de política”. É o argumento mais forte de que alguém se pode lembrar.

Francisco Louçã – Esquerda, opinião

Afirma Mário Centeno no Expresso da Meia Noite (SicN, 24 de abril): “todos os países desenvolvidos utilizam a TSU como instrumento de política”. Justifica assim a proposta de redução em 8 pontos percentuais dos descontos para a segurança social. É o argumento mais forte de que alguém se pode lembrar: “todos os países desenvolvidos” terão reduzido os pagamentos à segurança social, como o o PS agora propõe, de lá de fora vem sempre uma luz.

Vítor Junqueira, especialista em segurança social, fez as contas e verificou quantos dos “países desenvolvidos” utilizaram na Europa a TSU como instrumento de política, nos últimos cinco anos. Aqui está então o que fizeram os “países desenvolvidos” ao longo desta crise. O gráfico mostra esta realidade: só dois países desceram as contribuições para a segurança social, a Alemanha em insignificantes 0,1 e a Suécia em 2 pontos percentuais. Todos os outros ou subiram a contribuição (11 países, entre os quais Luxemburgo, Polónia, Finlândia, França, Grã-Bretanha) ou a mantiveram (11 outros países). Os “países desenvolvidos” ainda não se deram conta da proposta do PS.

Acrescenta Mário Centeno, no Expresso deste fim de semana: “Não há praticamente um cêntimo retirado ao financiamento da segurança social. A redução da taxa contributiva dos trabalhadores é autofinanciada. É até mais do que autofinanciada, porque esperamos um impacto positivo na economia”. No final do “exercício”, o PS retira 4% de contribuições para a segurança social mas “não há um cêntimo retirado ao financiamento”.

Marco António Costa, esse mesmo, concretizava este autofinanciamento: ia ser criado tanto emprego que os descontos destes trabalhadores pagariam o buraco. As contas foram feitas para tal autofinanciamento e seria preciso ser criado cerca deum milhão de empregos para obter esse efeito directo. Mas, pelo menos, Marco António Costa indicava uma ideia sobre como resolver o problema. Era fantasiosa (onde andarão os técnicos do PS que então o criticaram?), mas ao menos era uma ideia, não era um dogma de fé. Só que não é realizável. A magia não substitui uma política responsável.

A afirmação de Mário Centeno é simplesmente falsa

Talvez assim se possa perceber porque é que os “países desenvolvidos” não fizeram o que o grupo de economistas do PS, levianamente, lhes atribui.

A afirmação de Mário Centeno é simplesmente falsa.

O único precedente de que me posso lembrar num “país desenvolvido” é o de Frank Underwood em House of Cards, que propôs usar o dinheiro da segurança social para financiar políticas de curto prazo. Teremos que esperar pela quarta série para saber se Underwood vai conseguir fazer aprovar a sua medida e isso só será em 2016, se a Netflix cumprir. Mas não devia ser a esta novela que se referia Centeno.

Artigo publicado em blogues.publico.pt a 4 de maio de 2015

Professor universitário. Ativista do Bloco de Esquerda

Portugal. RECURSO À UTAO MOSTRA QUE PSD “CONTINUA À NORA” – João Galamba




O deputado do PS acusa o PSD de estar "desesperado". João Galamba cita Marcelo Rebelo de Sousa e Manuela Fereira Leite para defender a sua posição.

João Galamba ataca o PSD devido à intenção de enviar o cenário macroeconómico do PS para a Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO).

Na sua página pessoal no Facebook
, o deputado socialista escreveu que "depois de fazerem 29 perguntas, e depois de receberem 29 detalhadas respostas, parece que o PSD continua à nora ".

Segundo o socialista, os sociais-democratas vão "fazer aquilo que Marcelo Rebelo de Sousa considerou 'surreal' e que Manuela Ferreira Leite considerou 'um disparate gravíssimo': recorrer à ajuda externa da UTAO".

"Um partido desesperado e de cabeça perdida é isto", conclui João Galamba referindo-se à posição adoptada pelos 'laranjas'.

Notícias ao Minuto

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Portugal. PCP critica "fúria privatizadora", Passos destaca excedente




O secretário-geral do PCP condenou hoje a "fúria privatizadora" do Governo e sugeriu que, "qualquer dia", haverá placas com a inscrição "vende-se" nas torres de Belém ou dos Clérigos, durante o debate parlamentar quinzenal com o primeiro-ministro.

Perante as críticas de Jerónimo de Sousa, sobretudo em relação à falta de iniciativa junto da Comissão Europeia para tentar recapitalizar a transportadora aérea portuguesa, Passos Coelho lembrou que Portugal está "sujeito a regras, ao que é bom e ao que é mau", e enalteceu o facto de se prever um terceiro ano consecutivo com excedente primário nas contas públicas.

"O problema de fundo é esta fúria privatizadora. Foi a ANA, os CTT, a PT, o resto da EDP. Agora querem privatizar a água, os resíduos sólidos, os transportes, até do Oceanário, imaginem! Mas por que carga de água? Não me diga que é pelo milhão de euros de lucro que [o Oceanário] deu. Qualquer dia, vamos ver uma placa na Torre dos Clérigos ou na Torre de Belém, a dizer 'vende-se', assinado: o Governo PSD/CDS", afirmou.

O primeiro-ministro defendeu que "o défice é financiado com dívida" e que, "se a divida não inverter a sua trajetória, não há capacidade de financiamento".

"É importante que o Estado, descontando o peso do passado, vá aliviando o peso da dívida. Vamos para o terceiro ano [de excedente primário] e só duas vezes nos último 41 [anos] - a última em 1995 - isto se verificou. Esperamos ter em 2019 um excedente orçamental", desejou Passos Coelho.

Sobre um eventual pedido em Bruxelas de recapitalização da TAP, através do regime de auxílios de Estado, o líder do executivo recordou que Comissão Europeia exigiria a reestruturação da empresa, algo que, segundo Passos Coelho, significou uma redução em quase 40% nas rotas, funcionários e operações das empresas de outros estados-membros que se submeteram a tal processo.

"Não podemos deixar de estar sujeitos às regras. Portugal está sujeito ao que é bom e ao que é mau", afirmou.

O líder comunista, desvalorizou as acusações da maioria e do Governo de que tinham sido os executivos socialistas a tornarem a dívida insustentável, embora sublinhando que a mesma aumentou durante os últimos quatro anos, afirmando: "é caso para dizer, diz o roto ao nu por que não te vestes tu".

Jerónimo de Sousa questionou ainda Passos Coelho sobre os benefícios fiscais de 85 milhões de euros concedidos ao Novo Banco e sobre um documento recebido pelo grupo parlamentar do PCP em que 56 funcionários administrativos do próprio executivo se queixavam de discriminação em virtude de não verem repostos os cortes salariais ao mesmo ritmo de outros funcionários da administração pública.

O primeiro-ministro garantiu não existir "dois pesos e duas medidas" e que foram os próprios serviços da Autoridade Tributária a propor tal medida, "prevista no próprio código".

"Todos os titulares de cargos políticos têm uma redução adicional de 5% das suas remunerações, proposta por mim ao engenheiro José Sócrates", recordou também, esclarecendo a questão do pessoal afeto aos gabinetes governamentais.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Portugal. POLÍCIA JUDICIÁRIA IMPEDIDA DE INVESTIGAR DIAS LOUREIRO NO CASO BPN?




A antiga diretora do DCIAP afirmou não poder dizer por que é que o processo do ex-ministro não foi encaminhado para a Judiciária.

A Polícia Judiciária poderá ter sido impedida de investigar o ex-ministro Dias Loureiro no âmbito do caso BPN. O Correio da Manhã conta que o processo estará parado há alguns anos, e que desde 2009 que a antiga diretora do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), Cândida Almeida, terá prometido à PJ enviar o processo relativo ao ex-ministro.

Segundo o Correio da Manhã, Cândida Almeida terá dito que passaria à PJ o processo relativo a Dias Loureiro no âmbito do caso BPN se a Judiciária reforçasse a equipa que investiga crimes económicos. Cândida Almeida disse ao CM que se tinha reunido com o atual dirigente da PJ, Almeida Rodrigues, e que estava previsto um reforço dessa equipa, em particular no âmbito das suspeitas de fraude no BPN.

O CM conta que apesar do reforço das equipas da PJ, a Judiciária não recebeu o alegado processo relativo a Dias Loureiro, embora tenha recebido outros de arguidos menos mediáticos envolvidos no caso BPN. Dias Loureiro, apesar de ter sido constituído arguido no caso em 2009, não voltou a ser interrogado. Questionada pelo Correio da Manhã, Cândida Almeida afirmou não poder dizer por que é que o processo não tinha sido encaminhado para a Judiciária.

A investigação ao BPN começou em 2008, após a nacionalização do banco. Dias Loureiro, ministro dos Assuntos Parlamentares e da Administração Interna de Cavaco Silva, foi constituído arguido em 2009.

Diário de Notícias

Portugal. A PREÇO DE SALDO



Paula Santos – Expresso, opinião

Um dos aspetos que marca a política de direita, especialmente a deste Governo PSD/CDS, são as privatizações de serviços públicos e de setores e empresas estratégicas da nossa economia. Justificam as privatizações sempre com a mesma ladainha - prometem mais eficiência, uma melhor gestão de recursos e até a qualificação do serviço prestado, dizendo que não estão vocacionados para esse fim, procurando esconder que o verdadeiro objetivo reside no benefício de interesses privados, incompatíveis com os interesses públicos.

Não são poucas as vezes que ouvimos inclusivamente membros dos partidos que suportam o Governo acusarem quem se opõe às privatizações de ter um preconceito contra os privados, mas o que efetivamente ressalta desta afirmação é que PSD e CDS-PP são quem tem preconceito em relação ao público. O que é que o privado pode fazer que o púbico não possa? Nada. Não há nada que o privado faça que o público não faça melhor. Quem melhor defende os interesses públicos e o serviço público de qualidade é a gestão pública. Para os privados, quer se queira ou não, quer se assuma ou não, a principal preocupação é a rentabilidade do "negócio" e não prestar serviços de qualidade, eficazes e acessíveis, segundo o interesse do país.

A realidade tem demonstrado que as privatizações que ocorreram no passado em nada contribuíram para o desenvolvimento do país, muito pelo contrário. De uma forma geral as privatizações conduziram à perda de controlo público sobre as empresas e setores estratégicos da economia, à retirada de direitos aos trabalhadores e à redução de postos de trabalho e à degradação e encarecimento dos serviços públicos prestados às populações.

Nos últimos anos, as troicas externa e interna encetaram um programa de privatizações (que constava dos PEC e do Pacto de Agressão), vendendo a preço de saldo recursos estratégicos do povo e do país a grupos económicos e financeiros que há muito ambicionam abocanhar setores fundamentais da economia nacional, como a energia, as comunicações ou os transportes. Já concluíram a privatização da EDP, da REN, da ANA ou dos CTT, está em curso a privatização da EGF, dos STCP, do Metro do Porto, do Metro de Lisboa, da Carris, da TAP, da EMEF, da CP Carga. E outras estarão na calha, caso tenham oportunidade, como a Transtejo/Soflusa, a Águas de Portugal ou a CP e até o Oceanário de Lisboa.

Na verdade não há nenhum argumento válido que justifique as privatizações, a não ser por opção política e ideológica, de favorecimento dos grandes grupos económicos e financeiros em prejuízo do país e do povo português. Houve até membros do Governo que afirmaram que as privatizações resultavam de uma imposição da União Europeia para poderem aceder a financiamentos para as respetivas as empresas, o que veio a ser desmentido pela própria União Europeia, não passando de um elemento de pressão e chantagem para os trabalhadores e o povo aceitarem esta opção política.

Os objetivos anunciados pelo PSD e CDS-PP, no Programa de Estabilidade e no Programa Nacional de Reformas, assim como do PS refletido no documento apresentado recentemente, passam pelo prosseguimento da política de privatizações. Portanto, a perspetiva que estes três partidos apresentam ao povo e ao país é mais do mesmo, para manter a política de direita.

A TAP é exemplo disso. Esta é terceira tentativa de privatização da TAP, importando relembrar que a luta dos trabalhadores já travou duas outras tentativas de privatização da TAP, incluindo uma de iniciativa de governos PS, mostrando como a luta dos trabalhadores é determinante na defesa dos interesses nacionais.

Os responsáveis pela situação da TAP são os Governos PSD/CDS mas também PS, e a sua política de direita, que deliberadamente tem vindo a desestabilizar a TAP, como empresa pública e estratégica para os interesses nacionais, quando opta por financiar as companhias designadas de low cost e nega financiamento à TAP, por impedir a contratação de trabalhadores ou o cancelamento de centenas de voos no verão passado.

As recentes declarações do Secretário de Estado dos Transportes revelam a estratégia do Governo para a TAP - o desmantelamento da empresa a todo o custo, seja por via da privatização, seja por via de conduzir à sua progressiva destruição até ao encerramento.
A TAP é uma empresa de bandeira nacional e o principal exportador do país.

A TAP é uma empresa estratégica para o país no setor da aviação nacional, do turismo e da economia, de coesão territorial e de afirmação da soberania nacional.

As privatizações não fazem parte das soluções, antes contribuem para o agravamento dos problemas. Há que travar este processo o quanto antes e reverter as privatizações, para assegurar o controlo público de empresas e setores estratégicos da economia. Este é o caminho para defender os interesses do povo e do país. Mas é um caminho que só é possível com a rutura com a atual política e a implementação de uma política alternativa.

Portugal. DESEMPREGO SOBE PARA 13,7% NO PRIMEIRO TRIMESTRE




Dados do INE dão conta de subida no número de desempregados. Valor significa um aumento de 0,2% em relação ao trimestre anterior.

Há mais desempregados em Portugal do que no último trimestre do ano passado. Esta é a conclusão dos dados do INE relativos aos primeiros três meses de 2015.

Segundo o Instituto Nacional de Estatística, entre janeiro e março deste ano 13,7% da população ativa portuguesa esteve desempregada. Este número significa um aumento de 0,2% em relação ao trmestre anterior eum descida de 1,4% em relação ao mesmo período do ano passado.

No total a população sem emprego foi de quase 713.000 pessoas, um aumento em relação ao último trimestre do ano passado mas uma descida em relação ao período homólogo.

Notícias ao Minuto

“OOAUÊAIÓ!” PARA ONDE VAI A LÍNGUA PORTUGUESA?



João Manuel Rocha - Público

Se em países africanos o português é factor de “unidade”, em Timor se se falar apenas português os jornalistas “não vão perceber”, foi dito no debate “O futuro da língua portuguesa”.

“Óoauêaió!” A expressão, sem consoantes, usada por surfistas brasileiros para dizer “Olha o barulho aí ó você!”, foi o exemplo dado por Paulo Motta, editor executivo d’ O Globo, para lançar uma questão sem resposta: “Que português falaremos no futuro?”. O que o debate entre directores e editores de jornais de todos os países lusófonos permitiu, esta terça-feira, em Lisboa, foi antes a discussão sobre problemas de afirmação e potencial da língua comum.

Se a pergunta sobre o português do futuro era meramente retórica e a resposta exigiria dotes de adivinhação, os participantes não se furtaram ao desafio lançado pelo moderador, Nuno Pacheco, director-adjunto do PÚBLICO, e disseram como vêem o presente e “O futuro da língua portuguesa”  – tema do debate organizado pelo Movimento 2014 - 800 anos da língua portuguesa.

“Sem a língua portuguesa, como é que íamos comunicar?”, questionou Delfina Mugabe, editora-chefe do jornal Notícias, de Moçambique, lembrando a multiplicidade de línguas locais no seu país. “Onde existe o problema? A falta de investimento. O ensino não é prioridade”, lamentou.

Francisco Carmona, editor-executivo do também moçambicano Savana, apontou o paradoxo de o português ser “língua oficial e ser falado apenas por uma minoria”. Defendeu que é preciso, em primeiro lugar, promover o ensino das línguas locais para, a partir daí, “se aprender o português”, o idioma com que se faz a política e a economia e que “é o caminho”.

O optimismo sobre futuro da língua portuguesa foi o tom dominante do debate. O guineense António Nhaga, d’ O Democrata, recordou Amílcar Cabral, quando disse que a maior riqueza que o colono deixou foi a língua, e chegou a declarar que “o futuro da Guiné-Bissau depende do futuro da língua portuguesa”. Tal como Bacar Baldé, director do Nô Pintcha, apontou um aspecto da actual situação no país: a influência recíproca do crioulo e do português.

Mas as dinâmicas são “muito diferentes”, como afirmou o deputado português Ribeiro e Castro, do Movimento 2014. Se em S. Tomé e Príncipe, como noutros países africanos, o português é factor de “unidade”, como também disse Abel Veiga, director do Téla Nón, não é assim em todo o espaço lusófono. Em Timor-Leste, se numa cerimónia pública se falar apenas português, os jornalistas “não vão perceber”, contou Salvador Soares, doSuara Timor Loro Sae.

Defina Mugabe notou que o português “começa a ganhar espaço nos eventos internacionais”. Mas, tal como outros participantes, lamentou que os dirigentes políticos não usem por regra a língua nacional nos fóruns internacionais. “O grande inimigo do português é o medo de se falar português”, chegou a dizer o cabo-verdiano António Monteiro, do Expresso das Ilhas. Sabino Lopes, do guineense Última Hora, criticou o facto de, numa recente deslocação à Costa do Marfim, o Alto-Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, António Guterres, ter feito vários discursos em inglês e francês e nenhum em português.

Só um maior investimento no ensino – reclamado por intervenientes como Jaime Langa, director do Notícias, ou Sabino Lopes – poderá permitir que o português seja aquilo que Filomena Silva, d’ A Semana, de Cabo Verde, o considera: um “veículo geoestratégico” com “grande potencial, que nos vai servir a todos no desenvolvimento sustentado”. Ouviram-se críticas à falta de investimento na difusão da língua e foi apontado o dedo a Portugal. Mas nesse ponto as opiniões dividiram-se. “Não vejo por que é que tem que se dar essa responsabilidade a Portugal”, afirmou Sales Neto, do Semanário Angolense.

Embora não tenha ocupado o essencial do debate, o acordo ortográfico não este ausente – “veio desarrumar o português”, considera Sabino Lopes. Mas o futuro da língua não se encerra na linguística nem na gramática, como observou Paulo Motta. “Em vez de discutirmos gramática, para a cultura lusófona é importante conquistar corações e mentes, o que se faz com o fado, com o samba, com o kuduru”, disse ao PÚBLICO. No debate já tinha dado uma novidade para muitos: “Hoje em dia, ouve-se mais bossa nova no Japão do que no Brasil”.

TIMOR, ANGOLA E OS CHUNGOSOS QUE DETÊM OS PODERES EM PORTUGAL, COM CAFEÍNA




Ocupados com Angola e antes com Timor-Leste, como pode ver nos artigos anteriores que compilámos para si, só agora servimos o Expresso Curto que logo pela manhã o Expresso teve a amabilidade de nos trazer. Ontem nem servimos Expresso. Nem curto nem comprido. Não cumprimos. Desculpem.

De Timor-Leste há muitas notícias mas só lhe trouxemos dois pares delas, as que considerámos dever realçar. No Dia da Língua Portuguesa lá em Timor todos estão imbuídos de uma portugalidade linguística que até faz doer os dentes de tanto e grosso linguajar. Todos estão a prometer mundos e fundos como se por milagre os timorenses começassem a falar, ler e escrever em português do pé para a mão. Claro que a população não pode mostrar esse milagre e até sabe que isto são só promessas. Conversa-fiada. É sempre assim nos momentos de comemorações, depois volta tudo à estaca quase-zero e a um blá-blá, patati-patatá, a que estamos muito acostumados. Está bem, vamos ver se desta é que vai ser como os políticos dizem. Temos de ter esperança. Sem ela não sonhamos nem ajudamos o mundo a mover-se.

Angola. Oh Angola das terras vermelhas e férteis. Mais vermelhas ficaram lá pelo Huambo com a chacina que a polícia angolana, bastamente criminosa (provas dadas), causou aos fiéis da “Luz do Mundo”. Fala-se em centenas de angolanos chacinados. A polícia diz terem sido treze. Credo. Um número de azar!

Kalupeteka, o líder religioso, está preso. Uns quantos polícias, oito, foram mortos pelos fiéis… Confusão não falta para os argumentos do regime e justificação do genocídio mais que provável. Mas…

O que faz impressão é um regime déspota pretender que é democrata. Mais impressão ainda por ter saído da barriga da esquerda que defende os Direitos Humanos. E depois é isto. Não há direito a manifestações a não ser a favor do regime. Até os ex-militares que se manifestaram no passado sábado tiveram trato de polé e alguns foram detidos… pela polícia – que não seria polícia se acaso os ex-militares não tivessem defendido Angola com as próprias vidas. Paguem aos homens senhores déspotas. Por via deles é que Angola é Angola. E Angola quer respirar. Não a sufoquem com tanto roubo, tanta corrupção, tanta miséria, tanta falta de liberdade, tanta falta de democracia, tanta ditadura.

Ah! E, cá para nós, são de esquerda mas é uma ova! Iguais ou piores que Salazar, isso sim! Heil!

E pronto. O Expresso Curto vai direitinho para os seus lábios para o sorver em silêncio, porque com barulho é feio. Hoje não há abordagem a Portugal, da nossa parte. Uma coisa sabemos. Temos um chungoso em Belém e no governo os chungosos estão a transbordar no panelão do regime que desgraça o país e conta loas todos os dias. Têm a legitimidade da mentira. Esperem tudo de desgraça daqueles salafrários.

Boa quarta-feira, apesar de tudo.

Redação PG

Bom dia, este é o seu Expresso Curto

Martim Silva, editor executivo do Expresso

O amor por Maria Luís, os papos-de-anjo e as facadinhas a Portas 

Bom dia,

E quando pensávamos que já nos tínhamos livrado disto, eles voltam a atacar. Ou, como Al Pacino disse numa das melhores deixas de sempre do cinema, “Just when i thought i was out… they pull me back in”.

Depois de termos levado com a super-crise do irrevogável de Portas do verão de 2013, e quando julgávamos que essas eram águas passadas, eis-nos de novo mergulhados no pesadelo e a reviver os dias quentes que sucederam à saída de Vítor Gaspar.

A nova biografia, peço desculpa, a nova hagiografia de Passos, surge cheia de facadinhas ao parceiro de coligação. Ficamos a saber que o primeiro amor de Pedro se chamava… Maria Luís, que gosta de fazer papos-de-anjo, de estender a roupa, ver filmes de banda desenhada. E que um dos seus desportos favoritos na política parece ser irritar Portas. Pois com estas novas revelações,  o CDS irritou-se mesmo. Ou, como dizia um dirigente centrista ontem, “já não há pachorra”. 

A nuvem cinzenta volta a aparecer no horizonte. Mas a coligação aguenta-se. Como explicava ontem Ricardo Costa, até à segunda-feira do pós-eleições, a coligação nem abana.

O dia foi mesmo louco. Ou de loucos. Depois de Passos revelar que Portas se demitiu por sms, Portas veio à noite, em comunicado enviado por sms, desmentir a informação. E até Cavaco Silva, que não costuma entrar nestas guerras, não resistiu e prometeu resposta a Passos (que na tal obra feita por uma assessora o acusou de fazer um jogo estéril em 2013 ao alimentar conversações entre a maioria e o PS de Seguro) para quando sair de Belém.

Na outra bancada, sentam-se os nossos adversários. Ao nosso lado, estão os inimigos.

Na imprensa de hoje, o tema merece forte destaque. Mas enquanto DN, Público e i dão destaque à crise que a biografia provocou na coligação e à irritação do CDS e ao desmentido de Portas, o CM opta por salientar... o que a mulher de Passos diz no livro sobre a sua doença: “Eu tenho de viver! Tenho tanta coisa para fazer”.

Spin do melhor.

Se o livro é coisa de propaganda política para tempo de campanha, só se pode dizer que a coisa está mesmo a correr às mil maravilhas (sim, estou a ser irónico). Na mesma semana, Passos consegue elogiar de forma rasgada Dias Loureiro, que representa o que de pior tem a relação entre política e negócios em Portugal. E esfrangalhar qualquer resquício de confiança ou lealdade na coligação. É obra.

Hoje à tarde há debate quinzenal no Parlamento e não é preciso ser adivinho para perceber que o tema há de vir à baila. Como há de vir na entrevista que esta noite António Costa dá à TVI.

OUTRAS NOTÍCIAS 

Cá dentro, 

Tema do dia é também o juiz Carlos Alexandre. Nas páginas do Público e do i (o tema é manchete nos dois) são relatadas de forma minuciosa as respostas que deu ao Tribunal da Relação de Lisboa. Isto a propósito de um inquérito que foi aberto depois de denúncias anónimas visando o magistrado (que era acusado entre outras coisas de estar feito com um jornalista da Sábado e o BES).Carlos Alexandre acredita estar sob garde à vue, ou vigilância, de uma organização secreta (que não diz qual é). E para que não ficassem dúvidas sobre a sua vida, detalhou tudo o que ganha e possui e paga, do BMW 320, à casa em Linda-a-Velha.

No Expresso Diário, contámos como um grupo de jovens portugueses se uniu para escrever uma carta aberta a uma portuguesa que deixou tudo no ano passado para fugir do país, rumar à Síria e juntar-se aos terroristas do Estado Islâmico. A Raquel Moleiro e o Hugo Franco andam atrás deste assunto há muito tempo. E ontem até receberam um prémio pela reportagem multimédia“Matar e morrer por Alá: Cinco portugueses no Estado Islâmico”. Se nunca viu, deixo-lhe o link.

Duarte Lima vai ser julgado no Brasil pela morte de Rosalina Ribeiro, mas sem estar presente no julgamento.

O PS, conta o Diário Económico hoje, está contra uma rotação diplomática de embaixadores que o ministro Rui Machete está a preparar a poucos meses das eleições legislativas.

A Lei da Cópia Privada, polémica, já foi vetada uma vez por Cavaco Silva mas os partidos da maioria preparam-se para um pouco usual confronto com o Presidente da República e confirmar o diploma no Parlamento.

Portugal caiu no ranking mundial, mas continua no top 20 dos melhores países para ser mãe.

A mega-banda irlandesa U2 volta a Portugal para o ano (a última vez que cá esteve foi em 2010).

O Tondela, sim o Tondela, está a um passo de uma inédita subida à I Liga de futebol. A confirmação da notícia pode ser dada já esta tarde, pois o líder da II Liga recebe o D. Aves. No futebol, realce ainda para os bilhetes do final da Taça de Portugal, entre Sporting e Braga, que vão ser postos à venda no fim-de-semana.

Lá fora, 

A situação na Grécia continua de arrepiar. O Governo grego agora avança com mais uma das promessas eleitorais e promete reintegrar milhares de funcionários públicos, ao mesmo tempo que não há forma de chegar a acordo com os parceiros e credores europeus. The clock is ticking tic-tac-tic-tac-tic-tac. Na Bloomberg, Wolfgang Munchau admite o grexit (saída grega da zona euro). Napróxima segunda-feira há reunião do Eurogrupo mas o fumo branco não deve ser conseguido até lá.

No Reino Unido, amanhã quinta-feira é dia de eleições legislativas. O clima está ao rubro, a incógnita sobre se será Cameron, Miliband ou Clegg a governar é enorme. As tensões e divisões regionais acentuam-se. O tradicional bipartiraismo esfrangalha-se. Hoje, no Expresso Diário, o Pedro Cordeiro, recém-regressado da cobertura das eleições, vai explicar-nos o que se passa e o que se pode esperar. Aqui no Financial Times mostra-se como Ed Miliband passou de uma espécie de patinho feio da política britânica para um possível (favorito?) primeiro-ministro.

Ao ataque em França (onde continua quente a guerra pai-filha na FN) está Nicolas Sarkozy. O ex-presidente está com saudades do Eliseu e arrasa François Hollande numa entrevista de balanço dos três anos de mandato do atual chefe do Estado.

Em Israel, no Expresso Diário de ontem demos conta do que se passa com os ataques aos judeus da Eritreia. Acrescento mais uma sugestão de leitura sobre o que se passa no país. Este artigo fala-lhe de uma estrela em ascensão na política israelita, Ayman Odeh, que lidera a facção árabe no Knesset e aspira a ser uma espécie de Martin Luther King de Israel.

O Real Madrid não se livrou da fúria da “Velha Senhora” e perdeu dois a um em Turim (Ronaldo marcou um), na primeira mão da primeira meia-final da Liga dos Campeões. O Pedro Candeias explica como a Juventus continua matreira e sabida. Hoje há o Barcelona-Bayern. Para a semana realizam-se as partidas da segunda mão.

Em Inglaterra, parece que Roman Abramovich prepara um aumento salarial para José Mourinho. Só para se roer, o português já ganha mais de dez milhões de euros por ano…

NÚMEROS

2%
Por cento é quanto Cavaco Silva acredita que a economia vai cresvcer.

48
Pessoas morreram vítimas de violência doméstica no ano passado em Portugal. A APAV lançou agora mais uma campanha de alerta e denúncia da situação. Parece um daqueles catálogos cheios de coisas fofinhas do Ikea, mas não é. Leia a notícia da Rosa Pedroso Lima no Expresso Diário e tente não engolir em seco no final…

229
Desde o início do ano já morreram mais de duzentas pessoas no Brasil de dengue. Agora, as autoridades procuram combater a doença com a libertação de centenas de milhares de mosquitos… transgénicos.

31
Mais de 31 milhões de seguidores valem a Beyoncé o título de pessoa mais seguida do mundo no twitter. Logo a seguir vem Kim Kardashian

FRASES 

“Enviar uma mensagem escrita ameaçadora a um director para que o jornalista ‘não tenha dúvidas’ sobre o que Costa pensa a respeito do respectivo jornalista está ao nível dos piores casos de José Sócrates”, Luís Rosa, no i, a propósito do sms recebido por João Vieira Pereira e revelado pelo Expresso no sábado. Sobre este assunto, vale a pena ler o que escreveu o Henrique Raposo aqui

“Acredito no Estado social mas isso não significa ter acesso a tudo”,Leonor Beleza, presidente da Fundação Champalimaud, em entrevista ao Diário Económico

“Clubes de topo estão ocupados, Jesus não irá para melhor”, Sven-Goran Eriksson, antigo treinador do Benfica, sobre a possibilidade de Jorge Jesus deixar o clube no fim da época

“Benfica merece ser campeão”, Nani, futebolista do Sporting, no mesmo dia em que revelou que para o ano já não estará em Alvalade.

O QUE EU ANDO A LER 

Não sei se o leitor já reparou, mas esta semana demos um "novo look" ao site do Expresso. Uma das alterações feitas, a menos importante delas, é que cada jornalista ou elemento da equipa do Expresso tem uma pequena nota biográfica que pode ser consultada pelos leitores (em www.expresso.pt/autores pode vê-las todas). O tom vai entre o seco e formal (como eu) até notas mais criativas, pessoais e intimistas. O assunto foi tema de conversa aqui pela redacção (andava tudo a perguntar "a tua bio já tá feita? Posso ver?"). Quando andava a pensar o que lá escrever, uma das coisas que me veio à cabeça foi a recorrente pergunta "quais os livros que mais me marcaram?". A resposta veio pronta: a trilogia Os Descobridores, Os Criadores, Os Pensadores, do historiador americano (falecido há uma década) Daniel J. Boorstin. Boorstin concebe nestes três volumes uma viagem pela história da humanidade. Estes eram os meus três livros para uma ilha deserta. Esta semana, voltei a pegar nos Criadores, nos capítulos sobre Confúcio, Buda e outros líderes espirituais e religiosos. É uma viagem que vale sempre a pena. Se encontrar algum dos volumes (o mais provável é que o consiga naquelas feiras de livros em segunda mão ou em alfarrábios), dê uma espreitadela.

A chegar às bancas está a Vanity Fair. Com um daqueles números imperdíveis para os muitos fãs do Star Wars (já estão aí os primeiros trailers e o episódio 7 estreia no final do ano). As fotos são de Annie Leibovitz e enquanto se espera pela chegada da revista (a versão digital está disponível a partir de 5ª feira) vale a pena passar os olhos pelo site da VF e ler as revelações sobre o novo episódio da mais fantástica série de ficção científica do cinema.

Já chega de Expresso Curto. Amanhã estamos de volta com o sempre polémico João Vieira Pereira (não vale mandar-lhe sms se não gostar do que ele escreve...).
Ao longo do dia pode seguir a atualidade no nosso site e pelas seis da tarde temos uma edição do Diário (que é gratuito nesta semana e na próxima). By the way, o Diário faz hoje anos. Nasceu a 6 de maio de 2014 e hoje sopra as velas. Mas eu garanto-lhe que esta newsletter só teve café como combustível (ou não se chamasse Expresso Curto).

Tenha uma grande quarta-feira. E leve as coisas com descontração. Afinal de contas, "the dogs bark and the caravan goes by”, como dizia o outro...

Angola. “A NOSSA CONCLUSÃO É QUE HOUVE MATANÇA GRAVE!” - Abel Chivukuvuku




Abel Chivukuvuku, líder da CASA-CE, contou em exclusivo aquilo que viu na montanha Sume

Luísa Rogério – Rede Angola (ao)

No dia 16 de Abril último, nove agentes da Polícia Nacional foram assassinados no município da Caála na sequência de confrontos com fiéis da seita religiosa Luz no Mundo, liderada por Julino Kalupeteka. Pouco se sabe do que realmente aconteceu a seguir, mas alegações da chacina de membros da seita têm vindo a ser denunciadas publicamente. Com o propósito de apurar os factos, uma delegação da CASA-CE, chefiada pelo seu presidente, Abel Epalanga Chivukuvuku, esteve no Huambo de segunda a sexta-feira passadas. A delegação desdobrou-se em contactos com o governador provincial, Kundi Paihama, comandos das Forças Armadas Angolanas e da Polícia Nacional, autoridades tradicionais e religiosas. A delegação de Abel Chivukuvuku foi a primeira não ligada às autoridades a visitar a montanha de Sume, onde tudo se passou. Como tudo aconteceu e o resumo das constatações no terreno é apresentado por Abel Chivukuvuku em entrevista exclusiva ao Rede Angola, dada momentos antes de deixar a capital do Planalto Central.

No fim da visita de quatro dias à província do Huambo qual é a percepção que tem da realidade?

Nós viemos, como delegação da direcção da CASA-CE, para podermos perceber, investigar e auscultar o que aconteceu, porque é que aconteceu e como aconteceu. Viemos sem preconceitos e sem julgamentos. O nosso propósito não era procurar culpados, era entender o fenómeno para ajudarmos o nosso próprio país, que já teve muitos traumas no passado, e não permitir que acontecimentos desta natureza se voltem repetir. Assim que chegámos, reunimos primeiro com o Governo chefiado pelo próprio governador, o general Kundi Paihama. Tivemos duas horas de aceso debate. No fim tive um encontro privado, só eu e o general, para podermos evoluir um bocadinho em termos de abordagem que muitas vezes em grupo não é possível fazer. A reunião era muito grande, éramos mais de 30 pessoas dos dois lados. Também nos encontrámos com entidades eclesiásticas de todas as igrejas. Estivemos com o Arcebispado da Igreja Católica e, porque o bispo titular não estava, encontrámo-nos com Dom Francisco Viti e outros padres. Estivemos com os pastores da igreja Congregacional e com a Igreja Adventista do Sétimo Dia, de onde é originário o Kalupeteka. Estivemos ainda com autoridades tradicionais e da sociedade civil, procurando alargar o leque de conversa. Essa foi a primeira fase da abordagem. Depois passámos para a fase da constatação. Fomos à montanha do Sume. Fiáamos duas a três horas lá.

Pode descrever o ambiente que encontrou na montanha do Sume?

Depois vou descrever. Saídos da montanha do Sume, visitámos as aldeias circunvizinhas.

Quantas aldeias visitaram?

Três ou quatro aldeias. Foi difícil encontrar população porque as aldeias estavam quase todas desertas. Por outro lado, como íamos com escolta policial, muitas pessoas fugiam quando viam a polícia. Mas tivemos a sorte de encontrar dois cidadãos que nos descreveram o que aconteceu porque acompanharam de muito perto. Posteriormente fomos a uma aldeia chamada Km 25 onde também falámos com a população. Fomos dialogar com o Comando da Guarnição Militar, que foi ali colocado em Fevereiro deste ano, e visitamos a casa privada do Kalupeteka, que fica nesse posto administrativo. Por último, fomos a Caála para conversar com os responsáveis do município.

No dia seguinte, fomos ao Longonjo porque o governador nos tinha informado, e é público porque saiu na comunicação social, que teria havido alguns desacatos na comuna do Chilata, onde conversámos com uma série de cidadãos. Infelizmente, na Chilata a administradora comunal e os responsáveis policiais fugiram. Encontrámos alguns jovens da polícia, mas não pudemos fazer a auscultação.

No fim da missão, passámos à fase mais sentimental, mais humana, que foi visitar as viúvas dos polícias. Começámos pela Caála e culminámos aqui com a visita à mãe do comandante Catumbela. O pai do comandante Catumbela também acabou por falecer de cisma, de tanto desgosto. Portanto, encontrámos a viúva e a mãe do próprio Catumbela, também viúva. A morte aconteceu dias depois do falecimento do filho. Não conseguiu aguentar.

É minha convicção, com o máximo de honestidade possível nessas coisas de política, de que a seita a Luz do Mundo não representava perigo para a estabilidade do país. Em nenhum momento representava ameaça, até porque a própria seita tinha uma espécie de ambiente de cooperação com o Governo, que lhe foi dando bens. Ele não andava escondido, tinha interacção e diálogo com o Governo. Pelo que nos explicou o governador, no último encontro que tiveram, em Outubro do ano passado, quando o governador foi ao Sume conversar com o Kalupeteka, este tinha prometido que iria dissolver a seita, já que o Governo não concordava com ela. Isto nos foi dito pelo governador. Portanto, não representava ameaça.

É verdade que a seita tinha algumas práticas anti-sociais, e provavelmente não é a única. Muitas das várias seitas que temos pelo país têm práticas anti-sociais no sentido de, em certa medida, não acatarem imediatamente com determinados pressupostos administrativos. Por exemplo, o censo. O que nos foi explicado é que o Kalupeteka não o aceitou. Eles próprios fizeram a lista e mandaram ao Governo. Recusaram-se a dar os dados como religião, etnia, etc. Significa que tinham um ambiente de meia cooperação, mas com as suas próprias regras. Defendiam a teoria de que o ensino formal não é a coisa mais importante. Para eles é o ensino da vida, a vida é escola. Têm esse tipo de práticas.

Outra constatação é que o que ocorreu não aconteceu espontaneamente. Nós conversámos com o Comando Militar, destacado na aldeia Km 25, que foi transferido do Regimento Militar do Gove em Fevereiro para o Km 25 que é o posto administrativo, a aldeia mais próxima da montanha. Fica talvez a cinco quilómetros da montanha, significa que tudo isso estava em preparação.

A acção da Polícia já estava em preparação?

Absolutamente! Mas não é polícia, é um destacamento das Forças Armadas Angolanas (FAA). Deixe-me explicar: o destacamento que visitámos no Km 25 é das FAA. O próprio comandante é que nos explicou que foram transferidos do Gove em Fevereiro deste ano. Por outro lado, a maneira como o assalto ao acampamento ocorreu não foi de um momento para o outro. Teve fases. Na primeira, foi um agente sozinho levar ao acampamento a notificação do mandado de captura para o Kalupeteka e seus seguidores.

Quem expediu o mandado de captura?

O Governo provincial do Bié. Eventualmente o agente da Polícia encontrou hostilidade, pegou na motorizada dele e regressou. Não o agrediram mas, sentindo hostilidade, deixou o mandado e retirou-se. Em função disso, organizou-se a nova operação que ocorreu no sábado antepassado e também teve duas fases. Na primeira fase foi um grupo de agentes da Polícia à civil, em número que não nos foi bem esclarecido, mas anda à volta de dez agentes. Entraram no acampamento. O que ocorreu já não temos detalhes, mas sabemos que foram retidos porque já não voltaram. As outras autoridades perderam o primeiro contacto com esse primeiro grupo que era suposto capturar o Kalupeteka.

Em função disso, e foi o que o governador nos explicou, mandou cercar a montanha. Então vieram efectivos das FAA e da Polícia. Montaram um posto de comando para a operação num campo de futebol que fica a mais ou menos quinhentos metros do acampamento. Os populares explicaram-nos que a partir daí, quando os militares e polícias avançaram, já não foi para falar. Foi a disparar.

Como é o acampamento?

O acampamento tem duas partes. Tem uma parte de culto, numa espécie de descampado com muitas pedras onde se sentavam os crentes, e um altar onde ficavam, de certeza, as entidades da seita. Os disparos foram para essa área onde estavam as pessoas em culto. Por causa desse primeiro grupo de agentes da polícia à civil, o culto tinha parado. Estava tudo silencioso.Parte dos efectivos disparou contra as pessoas que estavam sentadas no culto e outra parte foi destruir o acampamento. Uns queimavam, outros disparavam. Os populares explicaram que ficavam sentados à frente as crianças e as mulheres, e atrás os homens. Era essa a ordem dos cultos. Quando iniciaram os disparos, os crentes começaram a cantar cânticos religiosos. Mas os homens que estavam atrás pegaram em paus, mocas e catanas para reagir.

Os populares foram ouvindo disparos e cânticos. Quando se aperceberam que afinal estavam a morrer, o resto debandou. O cidadão que nos explicou, nos seus relatórios disse que a dado momento deixaram de ouvir os cânticos. Depois de algum tempo, os disparos também pararam. Foi mais ou menos assim que decorreu a operação. Houve mortes e destruição.

Conseguiram apurar o número de indivíduos que viviam no acampamento?

O acampamento era grande. A ideia de que as pessoas ficavam ao ar livre não é verdade. O acampamento está numa encosta, tinha casas de chapa, todas elas bem alinhadas. Como a encosta é uma descida, tinham níveis, uma linha de casas no primeiro nível, depois descia-se ao segundo nível e assim sucessivamente

Aquilo estava bem ordenado. Tinham uma espécie de templo e a seguir o armazém logístico. Portanto, tinham casas bem estruturadas, água com sistema de gravidade, tubos e valas. Tinham energia e pelo que nos deram a entender, o Governo é que ofereceu o gerador. Tinham postes de iluminação com holofotes. Nas casinhas de chapa não havia energia. A energia ia só até ao templo principal e ao centro logístico. Tinham alimentação, encontrámos muita comida dispersa e medicamentos. Não tinham uma vida desumana.

Quer dizer que os crentes não viviam de modo quase primitivo, sem condições mínimas de subsistência?

Nada a ver. Quando fomos à casa do Kalupeteka na aldeia Km 25 constatámos que também foi assaltada e vandalizada pela Polícia. Não tiraram nada, penso que só foram à procura de evidências. Encontrámos tudo estruturado. Havia muitas lavras, todas com arame farpado. O Kalupeteka tinha a casa dele principal, onde vivia a esposa, mais outras três casas onde ficava, uma delas era o centro logístico. Encontrámos mais de 30 sacos grandes de milho na casa da vila, além da comida que encontrámos no campo.

Pelos relatos que obtivemos, tanto do governador como das outras pessoas, o que percebemos é que essa aglomeração de gente veio de muitos lados. Nós recolhemos até bilhetes de identidade, cartões de eleitor de pessoas que vieram de Luanda, do Lubango, etc. Elas foram convocadas pelo Kalupeteka para decidirem o que tinha prometido ao governador no sentido de dissolver a seita. Não quis tomar a decisão sozinho. Foi uma espécie de congresso, peregrinação ou convenção para decidirem o que fazer. É por isso que houve muita gente que veio de outras paragens.

Confirma as informações segundo as quais pessoas de várias províncias teriam vendido os seus bens para viverem na montanha?  

Não confirmo se as pessoas venderam ou não, o que confirmo é que a percepção que tive desse acampamento, dos relatos que ouvi do Governo e de outras fontes, alguns kalupetikistas vieram em peregrinação para regressarem. Deviam decidir sobre a promessa que o Kalupeteka tinha feito ao governador de dissolver a seita. Esse é o entendimento que tivemos.

Outro aspecto, a operação acabou por não ser uma questão policial porque envolveu as Forças Armadas. Até ao momento em que chegámos ao Sume, ainda havia um destacamento das FAA. Na aldeia Km 25 encontrámos o Comando pertencente à unidade do Gove. Portanto, foram forças anti-motim e Forças Armadas.

Está a referir-se à operação pós-morte dos agentes da Polícia?

A operação pós-desaparecimento ou falta de contacto dos primeiros agentes que foram lá à civil. A nossa conclusão é que houve matança grave! Não posso, com seriedade e honestidade, afirmar se houve genocídio ou não, mas matança grave houve. Morreram polícias, mas morreram muitos civis.

Tem alguma indicação de números? Fala-se em centenas de mortes…

Não arrisco números. Só a Polícia é que pode dar números, porque só eles tiveram a possibilidade de contar. Encontrámos muito sangue. Outro indicador, segundo a nossa percepção, é que a maioria das pessoas que morreram podem ter sido mulheres e crianças. Primeiro pela forma como eles se dispunham na hora das cerimónias religiosas e, por outro lado, pelos vestígios no terreno. Encontrámos muita roupa de criança, senhora e fraldas dispersas. Não sei se contei calças. Não me lembro de ter visto calças em todo acampamento. Também não fazia sentido a vandalização da casa do Kalupeteka que era fora do acampamento. Estava lá a esposa que teve de fugir.

Há alguma indicação do paradeiro da senhora?

Os camponeses que encontrámos no terreno só nos disseram que a esposa fugiu antes do ataque e da vandalização da casa. Quando ela se apercebeu que havia tiroteio na montanha, que fica a cinco quilómetros, abandonou a casa. Seria recomendável que as autoridades colocassem lá guardas. Não encontrámos nenhum vestígio das acusações que o Governo faz à UNITA. Encontramos sim, mantas do MPLA. Significa que havia naquela crença religiosa cidadãos que eram do MPLA e trouxeram as suas mantas que tinham a bandeira do MPLA, não da República. Como provavelmente também havia cidadãos da UNITA, do PRS e de outros partidos.

Algumas organizações da sociedade civil e cidadãos comuns no Huambo citam a existência de valas comuns. Tem alguma indicação de onde teriam sido sepultadas as vítimas civis?
Nós ficamos no perímetro mais próximo do acampamento. Vários colegas, e até polícias, foram relatando que sentiam odores. Sentiam cheio de putrefacção. Os colegas achavam que podíamos explorar um bocadinho mais, mas pensámos que não valia a pena. Só isso que podemos afirmar. Não vimos valas.

Tendo havido tantas mortes como é que se pode compreender a inexistência de óbitos em massa, testemunhas ou vítimas? Qual é a leitura da CASA-CE sobre esse “vazio”?

Como era uma espécie de congresso em que vieram pessoas de outras áreas, os convocados não tinham relação com as pessoas daqui. Por outro lado, os populares das aldeias circunvizinhas por onde passaámos, disseram que os fugitivos evitavam ir para aldeias onde não soubessem se havia kalupetequistas ou não. Só fugiam para as aldeias onde sabiam que encontrariam elementos da seita para serem escondidos.

Criou-se um clima de terror e medo. Não confirmo, mas tenho informações de que quando o Governo passou a mensagem de que todos aqueles que não localizassem os seus familiares fossem à casa mortuária identificar corpos, as pessoas tinham medo. Depois circulou a informação de que quem fosse identificar corpo era também conotado como kalupetequista. De modo que acabou só havendo cerimónias funerárias dos agentes da polícia e de mais ninguém.

A Polícia Nacional declara que houve 13 mortos entre a população civil e que todos tiveram funerais condignos.

Onde há uma confrontação com 13 mortos deve haver feridos. Na reunião que tivemos com o Governo pedimos para conversar com os feridos. Se existem, queríamos ir aos hospitais visitá-los. Não conseguimos ver nenhum ferido aqui no Huambo, nem na Caála, no Km 25 ou no Longonjo.

O que sabe sobre a localização e estado de saúde do Kalupeteka?

Informaram-nos que o Kalupeteka está detido. Perguntei directamente ao governador se sabia onde estava o Kalupeteka para o podermos visitar. O governador disse-nos que não sabia, que estava com as autoridades judiciais. Eu disse em jeito de brincadeira, “é possível que como governador não saiba, mas como agente da segurança de Estado que é, e o senhor é que nos disse que é da bófia, sabe onde está”. O Governo só teria mais vantagem, se o Kalupeteka ainda vive, em mostrá-lo. Não sei se vive ou não, mas a nossa démarche foi impossível. O governador não aceitou.

Não há nenhuma garantia de que esteja vivo? Conseguiram identificar algum familiar?

Não sabemos se vive ou não. O nosso propósito ao ir à sua casa era também para ver se identificávamos algum familiar que nos pudesse dizer alguma coisa sobre o senhor Kalupeteka. Não encontrámos ninguém, a casa estava deserta.

Feito o balanço da visita, quais são os próximos passos?

Pena que nós, angolanos, não aprendamos com a nossa vida. Tivemos um passado muito traumático, deveríamos encontrar paradigmas diferentes para o futuro. Não tem nenhum valor hoje nós acusarmos o Governo, ou o Governo acusar a UNITA. Não tem valor nenhum, as pessoas já morreram. O exercício da governação deveria ser antecipar os fenómenos e encontrar modelos de concertação de diálogo para resolver os problemas. Evitar que percamos mais vidas. Os polícias que morreram são cidadãos. Quando fui visitar a família do comandante Catumbela – que quase acabam por ser meus familiares também – senti o drama que vivem. Os filhos rapazes, os irmãos do comandante Catumbela, morreram na guerra. Ele era o último filho que tinha ficado. Como disse, o pai não aguentou, morreu cinco dias depois.

Os cidadãos civis que morreram, se vieram do Chipindo, de Benguela ou de onde for, são angolanos. Podem ter sido induzidos a práticas não muito sociais, mas podemos falar. Tudo isso pode ser concertado. Devemos encontrar modelos diferentes. O passado foi construído com base na manipulação e mentira. Deveríamos construir um futuro com base na verdade. Essa é a primeira constatação.

Quanto à segunda constatação, tenho alguma pena de ter indicadores de que o Presidente da República é manipulado com mentiras. Na reunião com o Governo Provincial disseram-nos que havia no Sume bunkers e valas de comunicação. Quando chegámos lá, não havia nada disso. A minha percepção é aquilo que nos disseram, é o relatório que mandam para Luanda e que influencia as decisões lá. Para terem deslocado uma unidade militar do Gove para o Km 25 essa ordem teve que vir de Luanda. O Comando Militar do Huambo não tem capacidade para fazer deslocar unidades. As ordens de Luanda foram dadas em função das informações enviadas daqui.

Ao nível central do Governo deveriam ter muita cautela quando recebem informações das províncias. Fazer investigação, perceber melhor, e não só prestarem atenção ao que o governador ou os serviços de segurança dizem. Essa ideia de que os Kalupeteka tinham armas não é verdade. Nós recolhemos no local invólucros de armas. A maioria delas são usadas pela polícia, uma arma chamada Galil. Mesmo assim ficámos com a impressão de que a área toda foi limpa antes de lá irmos.

As autoridades negaram à UNITA, às organizações da sociedade civil e aos jornalistas  o acesso ao local. A CASA-CE foi a primeira delegação a chegar ao local…

Não nos foi permitido acesso facilmente, nós forçámos. Quando estivemos com o governador, ele disse-nos que podíamos ir onde quiséssemos, mas sugeriu que eu deveria ir de helicóptero. Ele arranjaria binóculos para eu ver de cima. Dissemos que iríamos por terra. Quando chegámos a Caála, fomos directamente à administração onde encontrámos ordens de que não nos poderíamos deslocar para lá porque aquela era zona militarizada. Dissemos que não, fizemos uma espécie de acampamento na Administração. Os nossos carros bloquearam todas as vias de acesso à Administração. Não sairíamos enquanto não tivéssemos um carro da Polícia para ir connosco ao sítio. Ficámos ali parados. Pediram-nos para ir para um hotel esperar, não aceitámos.

Quanto tempo ficaram lá?

Cerca de 45 minutos, havia a visita do vice-Governador à Administração, encontrámos todo aquele aparato. O vice-Governador teve que parar longe e ir a pé porque nós tínhamos bloqueado os acessos. Disseram que iriam telefonar para outras instâncias para darem autorização, até que veio uma escolta policial local que nos permitiu ir. Se não fôssemos intransigentes não iríamos. Se aceitássemos quando disseram que era zona militarizada, não teríamos visitado. Fizemos finca-pé, ficámos ali e passaríamos a noite se não permitissem. Mas eles perceberam que iria dar escândalo e autorizaram.

Isto foi assim também em resultado do rescaldo da experiência que temos vivido nas províncias. Enfrentámos coisas inconcebíveis. Há administradores que vêm dizer “senhor Chivukuvuku agora não há campanha eleitoral, não podem vir ao município”. Como não? Encontrámos o administrador que disse que só tínhamos autorização para fazer reunião na administração, reunião na nossa sede e que depois partíssemos. Fomos ao município da Bibala e disseram à população para não sair de casa porque os que estavam a vir tinham ébola. Nós, portanto. No Camucuio meteram cadeados e correntes nos hospitais, trancaram os doentes dentro das enfermarias para não os visitarmos.

Não há liberdade de movimentação?

A experiência e o facto de nunca consentirmos ser travados é que nos permitiu ir ao Sume. Antes disso já tinha dito ao governador que não temos medo e lhe dei a ilustração de episódios anteriores, incluindo em Luanda. Quando as populações da Ilha foram transferidas para Kissama, nós fomos lá. Encontrámos uma primeira barreira policial, não podíamos passar depois da ponte. Deixámos os carros e começámos a andar a pé. Vieram helicópteros e mais polícias. Fizeram uma segunda barreira. Alguns colegas, como a deputada Odeth, foram violentados. Mas eu não permiti. Só disse, “agarrem-me se tiverem coragem”. Ninguém quis me agarrar e passei. A postura da UNITA foi diferente. Deram-lhes a informação de que não estavam autorizados e saíram. Estamos a ser factuais.

Fotos: Ampe Rogério

O Rede Angola foi à montanha do Sume e publicará esta semana uma Reportagem Especial sobre o “caso Kalupeteka”.

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