Afirma
Mário Centeno: “todos os países desenvolvidos utilizam a TSU como instrumento
de política”. É o argumento mais forte de que alguém se pode lembrar.
Francisco Louçã
– Esquerda, opinião
Afirma
Mário Centeno no Expresso da Meia Noite (SicN, 24 de abril): “todos
os países desenvolvidos utilizam a TSU como instrumento de política”. Justifica
assim a proposta de redução em 8 pontos percentuais dos descontos para a
segurança social. É o argumento mais forte de que alguém se pode lembrar: “todos
os países desenvolvidos” terão reduzido os pagamentos à segurança social, como
o o PS agora propõe, de lá de fora vem sempre uma luz.
Vítor
Junqueira, especialista em segurança social, fez as contas e verificou quantos dos “países
desenvolvidos” utilizaram na Europa a TSU como instrumento de política, nos
últimos cinco anos. Aqui está então o que fizeram os “países desenvolvidos” ao
longo desta crise. O gráfico mostra esta realidade: só dois países desceram as
contribuições para a segurança social, a Alemanha em insignificantes 0,1 e a
Suécia em 2 pontos percentuais. Todos os outros ou subiram a contribuição (11
países, entre os quais Luxemburgo, Polónia, Finlândia, França, Grã-Bretanha) ou
a mantiveram (11 outros países). Os “países desenvolvidos” ainda não se deram
conta da proposta do PS.
Acrescenta
Mário Centeno, no Expresso deste fim de semana: “Não há praticamente
um cêntimo retirado ao financiamento da segurança social. A redução da taxa
contributiva dos trabalhadores é autofinanciada. É até mais do que
autofinanciada, porque esperamos um impacto positivo na economia”. No final do
“exercício”, o PS retira 4% de contribuições para a segurança social mas “não
há um cêntimo retirado ao financiamento”.
Marco
António Costa, esse mesmo, concretizava este autofinanciamento: ia ser criado tanto emprego que os descontos destes trabalhadores
pagariam o buraco. As contas foram feitas para tal autofinanciamento e seria
preciso ser criado cerca deum milhão de empregos para obter esse efeito directo.
Mas, pelo menos, Marco António Costa indicava uma ideia sobre como resolver o
problema. Era fantasiosa (onde andarão os técnicos do PS que então o
criticaram?), mas ao menos era uma ideia, não era um dogma de fé. Só que não é
realizável. A magia não substitui uma política responsável.
A
afirmação de Mário Centeno é simplesmente falsa
Talvez
assim se possa perceber porque é que os “países desenvolvidos” não fizeram o
que o grupo de economistas do PS, levianamente, lhes atribui.
A
afirmação de Mário Centeno é simplesmente falsa.
O
único precedente de que me posso lembrar num “país desenvolvido” é o de Frank
Underwood em House of Cards, que propôs usar o dinheiro da segurança
social para financiar políticas de curto prazo. Teremos que esperar pela quarta
série para saber se Underwood vai conseguir fazer aprovar a sua medida e isso
só será em 2016, se a Netflix cumprir. Mas não devia ser a esta novela que se
referia Centeno.
Artigo
publicado em blogues.publico.pt a 4 de maio de 2015
Professor
universitário. Ativista do Bloco de Esquerda
Sem comentários:
Enviar um comentário