domingo, 17 de maio de 2015

Portugal. CELEBREMOS A VIDA



Carvalho da Silva – Jornal de Notícias, opinião

O elogio do sofrimento evoca memórias sinistras na história da Europa e do nosso país. Psicólogos e psiquiatras observam que, em regra, esse elogio surge associado a estados muito doentios, a uma "pulsão de morte".

Passos, Portas e C.ª vão celebrar este fim de semana o "êxito" das suas políticas de aplicação do memorando, assinado com a troika há quatro anos, e "festejar a saída" daquela entidade como se o seu espírito demoníaco não estivesse bem presente e a marcar pontos.

Portugal viveu quatro anos de desajustamentos e a esmagadora maioria da população foi sujeita a sofrimentos inúteis. As fragilidades detetadas na economia, na sociedade e na organização e funcionamento da sua vida coletiva não foram resolvidos; no geral agravaram-se. A continuação das políticas de austeridade, que o Governo e as instâncias europeias nos encomendam, visam subjugar-nos à inevitabilidade do sofrimento como destino, para com ele expiarmos as culpas de sermos povo do sul da Europa e de termos aspirado a um futuro melhor. Para os donos do clube do euro, se aí quisermos estar terá de ser na condição de membros de segunda; se quisermos sair esperam-nos todos os castigos do deus-mercado.

Uma séria avaliação das políticas do memorando evidencia que os seus resultados foram desastrosos face aos objetivos enunciados e que em áreas onde os objetivos não estavam identificados os desastres foram ainda maiores, provocando efeitos recessivos atrofiadores do futuro. Entretanto, temos "cidadãos gold" e o empreendedorismo tipo Dias Loureiro passou de envergonhado a modelo.

Disseram-nos que em 2014: o PIB estaria apenas 0,4% abaixo do nível de 2010, mas o resultado foi uma queda de 5,5%; o emprego só diminuiria 1,1%, mas a descida foi de 7,1% e associou-se-lhe a degradação da sua qualidade e o aumento do desemprego; a dívida, que segundo as previsões da troika e do Governo devia situar-se no final de 2014 em 115% do PIB, atingiu aí os 129%; a estabilização do setor financeiro foi e é uma miragem, de tal forma que em 2014 assistimos à falência de um dos maiores bancos, o BES.

O Governo tem propagandeado um "seguro crescimento económico" nos últimos trimestres, exatamente o mesmo período em que se observa agravamento do desemprego, o que significa estarmos longe de um crescimento gerador de mais emprego. Sobre a consolidação orçamental, de que Passos e C.ª se vangloriam, a Comissão Europeia veio dizer, na última semana, que nada está seguro e que mais austeridade é precisa.

No plano das consequências sociais e políticas, escamoteadas no fundamental pelo memorando, surgem agora bem claros os prejuízos: a isto, hipocritamente, Passos Coelho chama "modernização" da sociedade portuguesa. Aumentaram a pobreza e as desigualdades. Em diversas áreas o Governo e a UE querem transformar programas assistenciais de emergência em programas políticos estruturais, vinculando "definitivamente" os pobres à pobreza, e reduzindo a esta condição centenas de milhares de portugueses que pertenciam a classes médias.

O esvaziamento da contratação coletiva, a redução de pensões de reforma, a desvalorização salarial, as alterações à legislação laboral, a ofensiva contra os direitos do trabalho - depreciativamente catalogados de privilégios - proporcionaram uma enorme transferência de rendimentos do trabalho para o capital e puseram em marcha uma dinâmica de mobilidade laboral e social descendentes. Também a estes retrocessos Passos Coelho chama modernidade.

Num quadro destes, quando acontecer crescimento económico a sério teremos, sem dúvida, mais riqueza mas para uma nova forma de distribuição, em que os detentores do capital receberão uma fatia bem mais gorda do que recebiam em 2010.

A celebração da vida de que precisamos não é a da submissão a estas injustiças e ao escuro das "inevitabilidades" que as sustentam. Tal como a natureza se transforma e renasce a cada ano, também nós portugueses seremos capazes de uma transformação libertadora, gerando esperança e energias que nos levem a correr os riscos necessários para garantir trabalho digno, direitos sociais fundamentais e uma sociedade democrática.

Jerónimo de Sousa. Cavaco não tem "moral" para dizer que é preciso olhar para os jovens




O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, afirmou hoje na Guarda que o Presidente da República "não tem moral" para afirmar "que é preciso olhar para os jovens porque eles não se interessam pela política".

"Um Presidente da República que nunca suportou a luta desses jovens estudantes, como a luta dos trabalhadores não tem moral para vir dizer que é preciso olhar para os jovens porque eles não se interessam pela política", disse Jerónimo de Sousa no discurso proferido no final do almoço convívio da CDU/Guarda, realizado na Escola Secundária da Sé, naquela cidade.

O secretário-geral do PCP disse que ao contrário do que diz Cavaco Silva "há muitos jovens que se interessam pela política" e que estão "dispostos a lutar pelo seu futuro".

O Presidente da República renovou no sábado os alertas para "a crescente apatia cívica" e indiferença dos jovens perante a atividade política, considerando fundamental que a sociedade e a classe política passem das "palavras aos atos".

No seu discurso, o líder comunista disse que Cavaco Silva manifestou "com lágrimas de Cavaco Silva", as suas preocupações "pela indiferença dos jovens perante a política e um apelo para que os jovens que emigraram forçadamente regressem ao país".

Lembrou que como primeiro-ministro encetou a "destruição" das pescas, da agricultura, da indústria naval, da frota da Marinha Mercante e da siderurgia nacional.

"Tudo empresas e setores estratégicos que se não fossem destruídos como foram por esse Governo de Cavaco Silva, possivelmente hoje haveria postos de trabalho e emprego para os nossos jovens que têm que partir para o estrangeiro à procura de trabalho", afirmou.

Disse ainda que o Presidente da República "sempre apoiou, incentivou a política do Governo", que "liquidou milhares de postos de trabalho, forçou os jovens para a emigração" e "esteve sempre contra a luta dos jovens estudantes".

Jerónimo de Sousa falou também dos programas políticos do PS e da coligação PSD/CDS-PP.

"O que confirmam os programas de uns e outros, PS, PSD e CDS, é que são farinha do mesmo saco, com opções políticas e económicas determinadas pela mesma subordinação aos interesses dos grupos económicos e dos centros do capital financeiro", apontou.

Falou também das sondagens e de o PS e PSD pedirem maioria absoluta e dizerem que "não se vão entender no período pós-eleições".

"Não se vão entender, dizem eles. Está bem abelha. Se para servir os interesses do capital for preciso, entendem-se e entendem-se bem, como sempre se entenderam ao longo de 39 anos", observou.

Jerónimo de Sousa disse ainda que o Governo e os partidos que o suportam "querem à viva força convencer os portugueses" que "os anos negros de política e de empobrecimento estão a chegar ao fim graças à sua governação".

"Andam para aí afanosamente a rebobinar o mesmo filme de mentiras e enganos que os portugueses viram na campanha das últimas eleições", afirmou.

No sábado estiveram em Guimarães, num ato de "cinismo e descaramento", assinalar "um ano de independência do país e da 'troika'", disse.

"A 'troika' foi embora, mas deixou cá a política que nos amarra no presente e no futuro", concluiu.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Jerónimo de Sousa Não entendimento entre PS e PSD pode ser "decisão irrevogável"

Coimbra, 16 mai - O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, afirmou hoje em Coimbra que as posições de PS e PSD de um não entendimento futuro podem vir a ser "mais uma decisão irrevogável para ser metida na gaveta".

"Agora [PS e PSD] dizem que não, que não se vão entender. O PS diz isso, o PSD diz o mesmo. Ainda vamos ver se isto não é mais uma decisão irrevogável para ser metida na gaveta", disse Jerónimo de Sousa, que falava no encerramento da Assembleia da Organização Regional do PCP Coimbra, na Casa da Cultura.

Para o secretário-geral do PCP, as declarações dos dois partidos, com cada um a reclamar "uma maioria absoluta", é "como quem aposta a última cartada na governação por turno na alternância sem alternativa".

Para se alcançar este objetivo, Jerónimo de Sousa acredita que PS e PSD vão ter a ajuda da "comunicação social dominante" e da "pimentinhazinha das sondagens a dar um empate técnico".

Este "empate técnico" ajuda a que se consiga "a bipolarização e a dramatização", ao mesmo tempo que se procura "o voto útil", tendo este sistema tido "resultado nas últimas eleições", constatou.

"Mas o drama deles é que isto está muito visto e muito gasto", apontou, considerando que são cada vez mais os cidadãos que ganham a consciência de que a solução dos problemas nacionais tem de ser encontrada fora "do rotativismo e da alternância".

Lusa, em Notícias ao Minuto

Portugal – Futebol. BENFICA É BICAMPEÃO NACIONAL



Vítor Jorge Oliveira – Jornal de Notícias

O Benfica sagrou-se bicampeão nacional, nesta tarde de domingo, após empate a zero no reduto do Vitória de Guimarães, em partida referente à penúltima jornada da liga. O empate do F.C.Porto, em Belém, contribuiu para a festa encarnada no estádio D.Afonso Henriques.

Após uma primeira parte de maior ascendente do Benfica, com quatro soberanas ocasiões para construir um resultado volumoso, a ineficácia registada permitiu aos minhotos equilibrar e manter o nulo ao intervalo.

Jonas e Lima foram os mais perdulários nos duelos com a defensiva vitoriana.

Na segunda parte, apesar das duas equipas terem entrado com os mesmos onzes, o Benfica perdeu o fulgor evidenciado nos primeiros 45 minutos, não criando grandes lances ofensivos junto da baliza de Douglas.

Jorge Jesus ainda tentou com a entrada de Talisca resolver a partida mas a seu favor, mas os jovens minhotos, sempre muito batalhadores, conseguiram anular com relativa facilidade as investidas encarnadas.

O Benfica não era bicampeão nacional desde 1982/83.

A GUERRA DO GÁS ALASTRA NA EUROPA – FALHA GOLPE DOS EUA NA MACEDÓNIA




O gasoduto Turkish Stream deverá passar através da Turquia, da Grécia, da Macedónia e da Sérvia para fornecer a União Europeia com gás russo. Por iniciativa do Presidente húngaro, Viktor Orbán, os ministros dos Estrangeiros dos países envolvidos reuniram-se em 7 de Abril, em Budapeste, para se coordenarem face aos Estados Unidos e à União Europeia.

Thierry Meyssan*

A Macedónia acaba de colocar fora combate um grupo armado, impossibilitando-o de causar danos, do qual ela vigiava os comanditários, desde há pelo menos oito meses. Ela preveniu, assim, um novo golpe de Estado, planeado por Washington para 17 de maio. Tratava-se de expandir para a Macedónia o caos já instalado na Ucrânia, de modo a impedir a passagem de um gasoduto russo para a União Europeia.

O caso de Kumanovo

A polícia da Macedónia lançou, ao alvorecer de 9 de maio de 2015, uma operação para deter um grupo armado, que se tinha infiltrado no país e que ela suspeitava preparar diversos atentados.

A polícia evacuou a população civil antes de lançar o assalto.

Tendo os suspeitos aberto fogo, seguiu-se uma feroz batalha que causou 14 mortos do lado dos terroristas e 8 no lado das forças da ordem. Foram feitos prisioneiras 30 pessoas. Há muitos feridos.

Não é ação terrorista, mas sim uma tentativa de golpe Estado

A polícia da Macedónia estava manifestamente bem informada antes de lançar a sua operação. De acordo com o ministro do Interior, Ivo Kotevski, o grupo preparava uma operação muito importante para 17 de maio (quer dizer, logo aquando da manifestação convocada pela oposição albanófona em Skopje).

A identificação dos suspeitos permitiu estabelecer que eles eram quase todos antigos membros do UÇK (Exército de Libertação do Kosovo) [1].

Entre estes encontram-se : 

• Sami Ukshini dito «Comandante Sokoli», cuja família desempenhou um papel histórico no UÇK. 

• Rijai Bey, antigo guarda-costas de Ramush Haradinaj, (ele próprio traficante de droga, chefe militar do UÇK, depois Primeiro-ministro do Kosovo. Foi julgado duas vezes, pelo Tribunal Penal Internacional para a ex-Jugoslávia, por crimes de guerra, mas absolvido porque 9 testemunhas cruciais foram assassinados durante o decorrer do processo). _ • Dem Shehu, actual guarda-costas do líder albanófono e fundador do partido albanês BDI, Ali Ahmeti.

• Mirsad Ndrecaj dito «Comandante da Otan», neto de Malic Ndrecaj comandante da 132ª Brigada do UÇK.

Os principais chefes desta operação, entre os quais Fadil Fejzullahu (morto durante o assalto) são próximos do embaixador dos Estados Unidos em Skopje, Paul Wohlers.

Este último é filho de um diplomata norte-americano, Lester Wohlers, que jogou um papel importante na propaganda atlantista e dirigiu o departamento cinematográfico da U.S. Information Agency (Agência de Informação dos E.U.- ndT). O irmão de Paul, Laurence Wohlers, é actualmente embaixador na República Centro-Africana. O próprio Paulo Wohlers, antigo piloto da Marinha, é um especialista de contra-espionagem. Foi director-adjunto do Centro de operações do Departamento de Estado (ou seja, o serviço de vigilância e proteção de diplomatas).

Para que não reste qualquer dúvida sobre os comanditários, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, interveio antes do final do assalto. Não para declarar a sua condenação do terrorismo e o seu apoio ao governo constitucional da Macedónia, mas para transformar o grupo terrorista numa oposição étnica legítima: «É com viva preocupação que sigo os acontecimentos que se desenrolam em Kumanovo. Eu envio as minhas condolências ás famílias dos mortos ou feridos. É importante que todos os dirigentes políticos e líderes da comunidade se empenhem, em conjunto, a restabelecer a calma e lancem uma investigação transparente para determinar o que se passou. Eu apelo, veementemente, a todos para mostrarem moderação e evitarem qualquer nova escalada, no interesse do país e do conjunto da região.»

Será preciso ser cego para não compreender.

Em janeiro de 2015, a Macedónia frustrou uma tentativa de golpe de Estado em favor do líder da oposição social-democrata Zoran Zaev. Quatro pessoas foram presas e Z. Zaev viu o seu passaporte confiscado, enquanto a imprensa atlantista começava a denunciar uma «deriva autoritária do regime» (sic).

Zoran Zaev é publicamente apoiado pelas embaixadas dos Estados Unidos, do Reino Unido, da Alemanha e da Holanda. Mas, até agora, não há nenhum vestígio na tentativa de golpe de Estado senão o de responsabilidade dos EUA.

A 17 de maio, era suposto o Partido Social-Democrata (SDSM) [2] de Zoran Zaev organizar uma manifestação. Ele devia distribuir 2.000 máscaras de modo a impedir a polícia de identificar os terroristas no seio do cortejo. Durante a manifestação o grupo armado, disfarçado por estas máscaras, devia atacar várias instituições e lançar uma pseudo- «revolução» comparável à da Praça Maidan, em Kiev.

Este golpe foi coordenado por Zechevich Mile, um antigo funcionário de uma das fundações de George Soros.

Para compreender a urgência de Washington em derrubar o governo da Macedónia, é preciso voltarmos à guerra dos gasodutos. Porque a política internacional é um grande tabuleiro de xadrez, onde cada movimentação de uma peça provoca repercussões sobre as outras.

A guerra do gás

Desde 2007, os Estados Unidos tentam cortar as comunicações entre a Rússia e a União Europeia. Eles conseguiram sabotar o projeto South Stream, forçando a Bulgária a anular a sua participação, mas a 1 de dezembro de 2014, para surpresa geral, o presidente russo Vladimir Putin lançou um novo projecto conseguindo convencer o seu homólogo turco Recep Tayyip Erdogan a estabelecer um acordo com ele, muito embora a Turquia seja membro da Otan [3]. Foi acordado que Moscovo(Moscou-br) iria fornecer gás a Ancara e que esta a forneceria, por sua vez, à União Europeia, contornando assim o embargo anti-russo de Bruxelas. A 18 de abril de 2015, o novo primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, deu o seu acordo para que o gasoduto atravesse o seu país [4]. O primeiro-ministro macedónio, Nikola Gruevski, tinha, entretanto, discretamente chegado a acordo em março último [5]. Finalmente, a Sérvia, que já fazia parte do projecto South Stream, tinha indicado ao ministro russo da Energia, Aleksandar Novak, aquando da sua recepção em Belgrado, em abril, que estava pronta a mudar para o projecto Turkish Stream [6] .

Para parar o projecto russo, Washington multiplicou as iniciativas: 

- na Turquia, apoia o CHP contra o Presidente Erdoğan, na esperança de fazê-lo perder as eleições ; 

- na Grécia, enviou, a 8 de maio, Amos Hochstein, director do Gabinete de recursos energéticos, para instar o governo Tsipras a renunciar ao seu acordo com a Gazprom; 

- previu –em relação a todas as hipóteses possíveis— bloquear a rota do gasoduto, colocando um de seus fantoches no poder na Macedónia ; 

- e na Sérvia, relançou o projecto de secessão da ponta de território, a Voivodina, permitindo a junção com a Hungria [7].

Última notas e não das menos importantes : o Turkish Stream alimentará a Hungria e a Áustria, pondo fim ao projecto alternativo negociado pelos Estados Unidos com o Presidente Hassan Rohani, (contra o conselho dos Guardas da Revolução), de aprovisionamento com gás iraniano [8].

Thierry Meyssan - Tradução AlvaVoltaire.net

Notas:
[1] « L’UÇK, une armée kosovare sous encadrement allemand » (Fr- «O UÇK, um exército kosovar sob direcção alemã»- ndT), par Thierry Meyssan, Réseau Voltaire, 15 avril 1999.
[2] O SDSM é membro da Internacional socialista..
[3] “Como Vladimir Putin deu a volta à estratégia da Otan”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Odnako (Rússia), Rede Voltaire, 8 de Dezembro de 2014.
[4] “Möglicher Deal zwischen Athen und Moskau: Griechenland hofft auf russische Pipeline-Milliarden” (Al- «Possível Negócio entre Atenas e Moscovo : A Grécia espera Biliões por pipeline Russo»-ndT), Von Giorgos Christides, Der Spiegel, 18. April 2015.
[5] “Геннадий Тимченко задержится на Балканах. Вместо South Stream "Стройтрансгаз" построит трубу в Македонии” (Fr- «A Rússia construirá um gasoduto na Macedónia»- ndT), Юрий Барсуков, Коммерсант, 12 марта 2015 r.
[6] «Énergie : la Serbie souhaite participer au gazoduc Turkish Stream» (Fr-«Energia : a Sérvia quer participar no gasoduto Turkish Stream»- ndT),B92, 14 avril 2015.
[7] « La Voïvodine, prochain pseudo-État en Europe ? » (Fr- «A Voivodina, próximo pseudo-Estado na Europa?»-ndT), par Wayne Madsen, Traduction Milko Terzić, Strategic Culture Foundation (Russie), Réseau Voltaire, 18 février 2015.
[8] “Por trás do álibi anti-terrorista, a guerra do gaz no Levante”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 6 de Outubro de 2014.

*Intelectual francês, presidente-fundador da Rede Voltaire e da conferência Axis for Peace. As suas análises sobre política externa publicam-se na imprensa árabe, latino-americana e russa. Última obra em francês: L’Effroyable imposture: Tome 2, Manipulations et désinformations (ed. JP Bertrand, 2007). Última obra publicada em Castelhano (espanhol): La gran impostura II. Manipulación y desinformación en los medios de comunicación(Monte Ávila Editores, 2008).


Agência alemã de inteligência informou EUA sobre paradeiro de Bin Laden, diz jornal




Serviço secreto alemão teria repassado informações à CIA sobre a localização do líder da Al Qaeda, morto em 2011. A extensão da cooperação das agências dos dois países é alvo de questionamentos.

O jornal alemão Bild am Sonntag, em reportagem publicada neste domingo (17/05), noticiou que o Departamento Federal de Informações da Alemanha (BND) teria fornecido aos Estados Unidos dados sobre o paradeiro de Osama Bin Laden, antes da operação que terminou com a morte do líder da Al Qaeda, em 2011.

Segundo o jornal, o BND teria informado a CIA que Bin Laden estaria no Paquistão, com o conhecimento das autoridades do país. A informação teria sido recebida através de um informante do Serviço de Inteligência paquistanês (ISI), confirmando as suspeitas da agência americana.

O BND teria fornecido assistência aos americanos antes da operação das forças especiais na cidade de Abottabad, utilizando sua base em Bad Aibling, na Baviera, para monitorar o tráfego de emails e conversas telefônicas no norte do Paquistão.

A reportagem foi publicada em meio ao aumento das preocupações na Alemanha sobre a extensão da ajuda do seu serviço secreto aos EUA, em particular, à Agência de Segurança Nacional (NSA).

Há poucos dias, surgiram relatos de que o BND teria ajudado a NSA a espionar alvos na Europa, incluindo a Comissão Europeia, o gabinete da presidência da França e empresa aeronáutica Airbus.

Restrições à cooperação

oposição alemã tem criticado o governo da chanceler federal Angela Merkel, afirmando que nada foi feito para impedir as supostas ações do serviço de inteligência. Além disso, algumas autoridades foram acusadas de mentir sobre a perspectiva de um pacto de não espionagem entre a Alemanha e os EUA, antes das eleições de 2013.

Após as denúncias, surgiram relatos de que o BND estaria começando a restringir a cooperação com a NSA.

No início da semana, o site Wikileaks publicou transcrições de um inquérito do Parlamento alemão sobre a cooperação entre as duas agências, iniciado em 2014, para investigar as atividades da inteligência americana na Alemanha.

O ministro alemão da Justiça, Heiko Maas, pediu um monitoramento mais abrangente das atividades do Departamento Federal de Informações.

"Precisamos alinhar todas as atividades do BND através de um controle democrático", afirmou Maas à edição dominical do jornal Die Welt, acrescentando que é necessário averiguar se houve base legal suficiente para as operações da agência. "Precisamos formular esses padrões com mais clareza", ressaltou.

Deutsche Welle - RC/dpa/rtr

CAMPONESES DO NORTE DE MOÇAMBIQUE REJEITAM PROSAVANA




As populações que vivem ao longo da região onde deverá ser implementado o projeto agrícola ProSavana rejeitaram-no, alegando ser incompatível com a realidade das comunidades camponesas.

A versão zero do Plano Diretor para o Desenvolvimento Agrário do Corredor de Nacala, que esta semana foi apresentada e discutida num encontro entre o Governo e a Sociedade Cívil, trouxe informações divergentes.

As comunidades rurais e camponeses que estiveram presentes na apresentação do Plano diretor zero do ProSavana falaram da falta de clareza sobre os objetivos deste Projeto. Por exemplo, os camponeses do distrito de Malema e Monapo, que se localizam ao longo do Corredor de Nacala, referiram-se a alegada usurpação das suas terras.

Justina Wirriam disse que, o nome do ProSavana está a criar medo junto das comunidades na localidade de Mutuali, distrito de Malema e outros locais do Corredor de Nacala: "Em Mutuale estamos preocupados com o nome ProSavana. Ouvi dizer que as pessoas que foram falar no ProSavana são as mesmas que foram para Mutuale pela Agrimoz. E por causa da Agrimoz há famílias sem machambas e terras. E hoje também estou a ver as mesmas pessoas aqui."

A camponesa relata ainda que os camponeses rejeitaram o projeto: "Em Mutuale estamos doentes por causa do ProSavana. Deixa-nos preocupados, já nem conseguimos dormir. No dia de auscultação em Mutuale houve uma grande discussão, os camponeses de lá negaram, mesmo, o nome ProSavana."

Desconfianças e dúvidas persistem

Já Eris Pensador tem dúvidas sobre a naturza do ProSavana: "Lendo no geral todo o documento do ProSavana, conseguimos ver que este é um plano de negócios e não um programa de desenvolvimento."

Eris Pensador e Lemos Mupa, camponeses de Malema e Monapo, baseados no Corredor de Nacala, dizem que o ProSavana não tem nada a ver com as populações, mas sim com interesses de pessoas estranhas: "Esse programa ProSavana, quando se ouve falar nele, para o posto administrativo de Tukulo já constitui uma tristeza. Queria saber qual será o benefício para nós os camponeses."

Já o padre José Luzia Conçalves se sente dividido quanto ao polémico assunto: "Estou ainda um bocado em dúvida para saber se concordo ou descordo. Diante da apresentação feita, claro que eu ia levantar o braço a concordar. Mas com as críticas pequeninas que já ouvi aqui e as outras grandes que tenho ouvido noutro lado, eu estou de pé atrás."

Aunício da Silva, jornalista e ativista social diz que o ProSavana carece de elementos fundamentais para que se aproxime das preocupações da população: "A meu ver é uma visão simplista, enganosa e pouco científica."

ProSavana e melhorias

O diretor nacional do ProSavana disse que a operacionalização deste projeto poderá acontecer em 19 distritos, das províncias de Niassa, Cabo Delgado e Nampula.

António Raúl Limbau afirmou que um dos pontos altos deste projeto é a melhoria de vida dos produtores com destaque, para o setor familiar: "Concordamos todos que as nossas condições de vida precisam de ser melhoradas cada vez mais. É isso que se pretende ver, que o ProSavana possa contribuir na melhoria das condições de vida dos habitantes deste Corredor que representam cerca de um quinto ou um sexto da população do nosso país e por isso merece uma atenção especial."

ProSavana é o maior projeto para a modernização da agricultura em Moçambique. Com o apoio da cooperação do Brasil e do Japão, Moçambique quer melhorar a produtividade da agricultura ao longo do Corredor de Nacala na província de Nampula, no norte do país. Nos últimos anos, houve muitas críticas por parte de pequenos agricultores em relação à ocupação de terras por investidores estrangeiros. Ao longo das últimas semanas, foi apresentado o Plano Diretor no norte de Moçambique.

Nelson Carvalho (Nampula) – Deutsche Welle

OS ESTRANGEIROS GOZAM DE IMUNIDADE EM MOÇAMBIQUE?



Verdade (mz) - Editorial

A recente e mega apreensão de 340 pontas de marfim, equivalentes a 1.160 quilogramas, e 65 cornos de rinoceronte, com um peso estimado em 124 quilogramas, num condomínio de luxo em Tchumene, no município da Matola, onde vivia um cidadão de nacionalidade chinesa, deixou claro que as soluções para a caça furtiva não terão lugar tão brevemente como seria de desejar. A qualquer momento, todo o trabalho com vista a refrear-se este mal poderá não fazer sentido porque em Moçambique não restará nenhum elefante para “contar a história”.

Porque, afinal, os chineses, os sul-coreanos, os tailandeses e os vietnamitas, por exemplo, estão cada vez mais, directa ou indirectamente, envolvidos no abate de paquidermes e rinocerontes no país? Se a resposta à questão for o alto valor comercial das pontas de marfim e dos cornos, então, quem é que protege estas redes de criminosos? Como é que entram em Moçambique e em casa de quem se hospedam? Quantos estrangeiros cumprem penas por isso?

Na África do Sul, no Brasil e no Malawi e até na Ásia temos milhares de moçambicanos a cumprirem penas pesadas por prática de vários crimes, segundo a Procuradoria-Geral da República. Quantos estrangeiros cumprem penas em Moçambique devido ao tráfico de marfim e cornos? Porque custa às autoridades punir severamente aqueles que lesam a nossa economia ou que se esforçam para que no futuro recorramos a imagens para mostrarmos aos nossos filhos que no seu país já houve elefantes e rinocerontes?

Com o abate de um rinoceronte aqui, outro ali e outro ainda acolá, perdemos esses animais como se fosse brincadeira. As mesmas acções foram e são perpetradas contra com os elefantes que, pese embora ainda possamos ver, em número diminuto nos seus habitats no país, sabemos que ao fim e ao cabo eles se vão extinguir e não falta muito tempo para que tal aconteça.

Esses animais, que se tornaram uma fonte de negócio ilícito das redes criminosas, não chegaram a Moçambique vindos de alguma selva ou por perdição. Foram rios de dinheiro investido, mas que, hoje, se torna uma fortuna esbanjada ou deitada num saco roto. Para que efeito, afinal, o Estado gastou tanto dinheiro?

O tráfico de pontas de marfim e cornos de rinocerontes não é um negócio de hoje em Moçambique. Excepto um número bastante reduzido de moçambicanos, alguns dos quais caíram nas malhas dos caçadores furtivos movidos pela necessidade de tirar a barriga da miséria, encarcerados por ligação com o tráfico de pontas de marfim e cornos, onde estão os estrangeiros que no passado foram presos em conexão ou na posse desses produtos? Que penas estão a cumprir e em que cadeia? Quantos estrangeiros cumprem penas em Moçambique por caça furtiva ou tráfico de pontas de marfim e cornos de rinocerontes?

Moçambique. Filipe Nyusi e Daviz Simango reúnem-se e falam em preservar a paz




Presidente da República e líder do MDM encontraram-se em Sofala

Alfredo Júnior – Voz da América

O Presidente de Moçambique Filipe Jacinto Nyusi encontrou-se sexta-feira 15, com o líder do MDM, Daviz Simango, na capital provincial de Sofala.

A paz e a descentralização das autarquias foram dois temas que marcaram o encontro, o segundo entre Nyusi e Simango.

Ambos destacaram a importância de manter conversações e encontrar soluções para que o país não “regresse à violência”, como referiu o Presidente da República.

Este encontro teve lugar no último dia da Presidência Aberta que Filipe Nyusi efectua à província de Sofala, em que foi acompanhado por Daviz Simango, também edil da segunda maior urbe do país. 

ÁFRICA DO SUL DEPORTA HOJE QUASE 500 MOÇAMBICANOS




Governo de Maputo apanhado de surpresa

William Mapote – Voz da América 15 maio 2015

O presidente sul-africano Jacob Zuma visita Maputo na próxima semana, no momento em que Pretória anuncia a deportação de cerca de mil moçambicanos. Ainda hoje, 420 serão deportados, o que cria uma situação de embaraço às autoridades de Maputo, como disse nesta sexta-feira, 15, em conferência de imprensa, o ministro dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação.

"Fomos colhidos de surpresa por esta acção do Governo sul-africano. Esperávamos que, depois dos ataques xenófobos, houvesse alguma acalmia e que fossem procurados meios para se resolver o problema de fundo, que é o da imigração ilegal", afirmou Oldemiro Balói, lembrando a “segunda vaga, numa operação conjunta das forças armadas, polícia, imigração, de caça ao imigrante".

Em resposta, o Executivo moçambicano activou o centro de acolhimento de Moamba para acolher os repatriados, porf orma a atender a mais esta vaga de deportados.

Baloi admitiu que esta situação belisca as relações bilaterais com o país vizinho e espera que dentro de dias o assunto seja abordado “num encontro diplomático que terá lugar em Maputo”.

O chefe da diplomacia moçambicana não se referiu à visita que o Presidente sul-africano fará a Maputo, mas a VOA sabe que Jacob Zuma visitará o país na próxima semana.

Uma das preocupações da diplomacia nacional tem que ver com as condições no centro de detenção onde vão permanecer os deportados consideradas deploráveis.

O Executivo de Maputo pretende também retirar da forma mais rápida possível os 527 cidadãos detidos no centro de deportação de Lindela, no país vizinho, porque "as condições não são as melhores, para falar de forma suave", concluiu Oldemiro Balói.

José Eduardo Agualusa: "A ala mais reaccionária do MPLA está a mostrar os dentes"




Escritor lamenta que seja mais fácil publicar literatura angolana em Portugal ou Brasil do que em Angola, onde "há muitas histórias para contar".

Voz da América, em Angola Fala

O Presidente José Eduardo dos Santos tem feito uma governação “muito equivocada”, disse o escritor angolano José Eduardo Agualusa para quem  “não fica bem ao Presidente privilegiar a sua família”.

Ao responder a perguntas dos ouvintes no programa Angola Fala Só, da VOA, nesta sexta-feira 15, Agualusa defendeu a necessidade de uma alternância política no país, afirmando que a “alternância confirma a democracia”.

“Dificilmente pode-se acreditar em democracia sem alternância”,  disse Agualusa para quem há indícios  de que “o Governo está a retroceder (em termos de direitos democráticos) à medida que se aproximam as eleições”.

“A ala mais reaccionária do partido (no poder) está a mostrar os dentes”, disse peremptoriamente o escritor que denuncia uma tentativa de “silenciar todas as vozes independentes”.

Os temas políticos mais abordados nos 60 minutos de conversa com os ouvintes foram a recente decisão do Presidente de autorizar a compra de um avião de luxo para12  pessoas por 62 milhões de dólares e os confrontos no Huambo entre os fiéis da seita A luz do Mundo e a polícia, durante os quais morreu um número ainda indeterminado de pessoas, mas que, segundo denuncia dos partidos da oposição, relatos poderá ascender a centenas.

José Eduardo Agualusa disse que é do próprio interesse do Governo angolano permitir uma investigação aberta e isenta aos acontecimentos no Huambo. Caso contrário, disse “fica a suspeita de que algo muito grave se passou”.

“Quanto mais se atrasa, pior é para a imagem do Governo pois fica-se com a imagem de que está a tentar ganhar  tempo”, explicou, acrescentando que as autoridades deveriam “abrir as portas e agilizar” uma investigação independente.

Quanto à compra do avião numa altura de crise em Angola “é chocante”. Agualusa afirma  que “não se percebe porquê, não se percebem as prioridades do Governo”,  e faz notar “o abismo social” que  existe no pais.

Durante o programa José Eduardo Agualusa teve também a oportunidade de discutir os seus livros e em resposta a perguntas de ouvintes debruçou-se particularmente sobre o seu romance histórico “Rainha Ginga”, que disse ter sido uma tentativa demonstrar a contribuição de África na construção de Angola e do Brasil, bem como na transformação de Portugal.

Para Agualusa é preciso “contar a história de uma perspectiva africana”, porque ”a história não é uma ciência exacta”.

“Não há uma verdade histórica, há um conjunto de versões (de acontecimentos) e o importante é ouvir as diferentes versões da história”, disse o escritor, para quem, esta leitura aplica-se também à situação mais recente em Angola, onde se deveria “ouvir as diferentes forças políticas”.

“Isso é o mais importante”, afirmou o escritor, lembrando que "há ainda que contar a história da guerra em Angola".

“Falta um grande romance de guerra”, disse, sublinhando que a guerra traz consigo muitas historias e “muitas tragédias”.

Sobre o estado actual da literatura angolana, José Eduardo Agualusa afirmou que “o país prometia mais em 1975”, mas não foram feitos esforços suficientes para promover a literatura.

Para o escritor angolano, devia-se ter criado uma rede de bibliotecas públicas e “isso não foi feito”.

“A literatura não se desenvolveu tanto quanto podia”, apesar de haver novos valores. É que, rematou, Angola é um país rico “em histórias para contar”.

Agualusa lamentou, no entanto, que por diversas razões é mais fácil para os escritores angolanos publicarem em Portugal ou no Brasil do que em Angola.

O escritor falou ainda sobre a política americana em relação a África, tendo deixado claro que esperava mais do presidente Obama. “Eu esperava que o Presidente Obama fosse mais activo na democratização de África”, revelou, lembrando que podia até ter um passaporte queniano pois o seu pai era cidadão do Quénia.

”Nesse aspecto foi uma desilusão”, concluiu José Eduardo Agualusa.


ANGOLA EXIGE DESCULPAS DA ONU SOBRE O “CASO KALUPETEKA”




Governo rebateu pedido de investigações das Nações Unidas e pediu uma retratação ou a apresentação de provas.

O Governo informou esta sexta-feira, em comunicado, que repudia as declarações do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) sobre o caso da seita “Kalupteka”, pedindo provas ou um pedido oficial de desculpas.

O porta-voz do Escritório do ACNUDH, na Suíça, pediu na terça-feira que seja nomeada uma comissão independente para investigar os confrontos entre a polícia e a seita “A luz do mundo”, liderada por Julino Kalupeteka, que terminaram, segundo as autoridades, com nove polícias mortos e mais treze vítimas entre os fiéis, número que a oposição angolana diz ser muito superior.

“Têm existido relatórios alarmantes nas últimas semanas sobre um alegado massacre na província central do Huambo, em Angola. Temos trabalhado para recolher mais informação sobre o incidente, mas os factos permanecem por esclarecer, com grandes diferenças do número de vítimas”, disse, em comunicado, o porta-voz da ACNUDH, Rupert Colville.

Em comunicado divulgado na noite de sexta-feira pela Angop, o Governo de Angola considera que que estas declarações “não são sustentadas por quaisquer provas” e que “foram amparadas por falsas declarações prestadas por elementos tendenciosos e absolutamente irresponsáveis, com a intenção de difamar não só as instituições angolanas, mas também todos os seus cidadãos”.

Pelo menos duas forças políticas da oposição estiveram na zona dos confrontos, ocorridos a 16 de Abril no município da Caála, e relataram publicamente um cenário de “massacre”, apontando entre “centenas” e mais de 1.000, o número de vítimas mortais entre os seguidores da seita, ilegal em Angola.

“Consideramos difícil de acreditar que tenham sido mortas e enterradas mais de 1.000 pessoas durante uma noite, sem deixar vestígios, por um efectivo de menos de 50 homens”, afirma o Governo, recordando que o líder da seita está detido e que o caso está a ser investigado pela Procuradoria-Geral da República.

No comunicado anterior, aquele organismo da ONU mostra-se preocupado com a posição do Estado angolano sobre aquela confissão religiosa e criticando a actuação dos media estatais que condenaram “violentamente” a seita, pedindo “um inquérito verdadeiro e independente, com uma rigorosa investigação” que faça um “balanço correcto do número de vítimas”.

“Percebemos que alguns dos membros da seita e seus familiares permanecem escondidos com medo de mais violência”, salientou o porta-voz ACNUDH.

Nesta resposta, o Governo de José Eduardo dos Santos “lamenta que o Alto Comissariado tenha ignorado deliberadamente as violações aos Direitos da Criança, em particular, e aos Direitos Humanos em geral, perpetrados pela referida seita”, numa alusão às práticas desta igreja, que travava a escolarização e vacinação dos fiéis, advogando o fim do mundo em 2015.

“Deste modo, o Governo Angolano, em nome de todos os seus cidadãos, insta o Alto Comissariado das Nações Unidas a apresentar provas das suas declarações ou que se retrate imediatamente apresentando um pedido oficial de desculpas”, remata a notícia, citando o comunicado oficial.

Lusa, em Rede Angola

Luandino Vieira. ASSOCIAÇÃO DE ESCRITORES LEMBRA “LUUANDA”




Obra de Luandino Vieira e a repressão do Estado Novo à sua publicação serão evocadas na Fundação Gulbenkian

A distinção da obra Luuanda, de Luandino Vieira, e a “barbárie, que se lhe seguiu”, há 50 anos, durante a ditadura, vão ser evocados este mês numa sessão em Lisboa, anunciou ontem a Associação Portuguesa de Escritores (APE).

Em 1965, a obra Luuanda, do autor Luandino Vieira, que se encontrava preso no campo do Tarrafal, em Cabo Verde, foi distinguida com o Grande Prémio de Novelística da Sociedade Portuguesa de Escritores, o que desencadeou uma forte repressão das autoridades políticas da época.

O Governo, presidido por António de Oliveira Salazar, proibiu a obra e encerrou definitivamente a sociedade, tendo sido presos quatro dos cinco elementos do júri – os escritores Alexandre Pinho Torres, Augusto Abelaira, Fernanda Botelho e Manuel da Fonseca. O único que não foi preso foi o crítico literário João Gaspar Simões, que, “por estimáveis razões”, não votou na obra de Luandino Vieira.

O presidente da APE, José Manuel Mendes, ontem, em conferência de imprensa conjunta com o editor da Editorial Caminho, Zeferino Coelho, afirmou que, após ter sido conhecido que Luuanda, de Luandino Vieira tinha vencido, “deu-se a actuação repressiva do regime, que teve contornos de barbárie que não podem ser esquecidos”.

A sede da Sociedade Portuguesa de Escritores, na rua da Escola Politécnica, em Lisboa, foi “alvo de atentado que chegou ao ponto de quase nada se ter conseguido salvar, nem atas, nem outros documentos, tudo foi vandalizado”.

“Os acontecimentos foram brutais e marcaram de forma nítida aquilo que era o traço da actuação repressiva do regime de Salazar com os escritores, os jornalistas e a liberdade de expressão”, disse Mendes.

“O que ocorreu teve contornos de barbárie, que não pode ser esquecida”, enfatizou José Manuel Mendes.

O ataque, no dia 21 de Maio de 1965, foi levado a cabo por “grupos ligados ao regime, que não deixaram pedra sobre pedra”, rematou.

Celebrando o cinquentenário do prémio, a obra terá uma edição especial, com uma tiragem de 500 exemplares, 100 deles assinados pelo autor, actualmente a viver em Vila Nova de Cerveira, no Minho.

A nova edição inclui uma introdução de José Manuel Mendes e um texto das catedráticas Laura Padilha e Rita Chaves, “assinalando a importância do aparecimento deste livro para as literaturas de Língua Portuguesa e angolana em particular”, disse Zeferino Coelho.

“Pela primeira vez, de forma muito consistente e sistemática, África e os africanos surgiam na literatura, não como uma coisa exótica e exterior, mas como sujeitos. As personagens principais são os negros dos musseques de Luanda”, disse Zeferino Coelho.

A edição conta ainda com fac-símiles de provas da 1.ª edição e dos textos datilografados pela mulher de Luandino, e ainda um texto do catedrático da Universidade do Porto Francisco Topa e o fac-símile da ata do júri, que escapou do ataque.

No Outono, a Caminho conta editar também Os papéis da prisão, de Luandino Vieira.

Em 1965, o júri do prémio assinalou “o que [no livro] era invenção da linguagem, e o surgimento de algo profundamente renovador no interior da própria literatura e língua portuguesas”.

Para José Manuel Mendes, “este foi um dos primeiros e formais actos claros anticolonialistas na sociedade portuguesa”.

A sessão evocativa dos 50 anos da destruição da Sociedade Portuguesa de Escritores e da distinção do livro de Luandino Vieira realiza-se no próximo dia 26, na Fundação Calouste Gulbenkian, com a presença do escritor.

Na sessão, entre outros, usarão da palavra a historiadora Irene Flunser Pimentel e o escritor Manuel Alegre, que também estava preso no Tarrafal, quando Luandino escrevia Luuanda.

Luandino escreveu os três contos que compõem Luuanda, no Tarrafal, passando papéis à sua mulher, Linda, que depois os datilografou, tendo as provas sido revistas por um amigo.

A sessão na Gulbenkian vai terminar com um recital do pianista Luís Pipa, que interpretará peças de sua autoria e também de Edvard Grieg e Isaac Albeniz.

Lusa, em Rede Angola


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