sexta-feira, 10 de julho de 2015

VARA... ELITES PORTUGUESAS PREVENTIVAMENTE ENCARCERADAS, JÁ!


Bocas do Inferno

Mário Motta, Lisboa

Armando Vara passou a noite nos calabouços da esquadra da PSP em Moscavide, Lisboa. Dirigente do PS e ex-ministro este Vara pode ser um pau de dois-bicos. Agora parece que tem que ver com o processo de Sócrates a que chamam Operação Marquês. Vá lá, a operação tem um acento circunflexo. Se não tivesse podia ser Marques. Marques? Marques Mendes? Oh não, esse faz cambalachos, mas são todos legais. É só porque ganha que se farta em grandes golpes de rins. E não tem de fazer diálise. Quem? O Marques Mentes. Mentes ou Mendes? Pois, Mendes.

Vara está a ser ouvido pelo juiz Carlos Alexandre, aquele que apelidam de super-juiz. Ena. Num país super-miserável até temos um super-juiz. Um super-presidente, um super-governo, uma super-maioria (que já não é). Superes é o que não falta nas elites bacocas e descaradas presididas pelo Génio da Banalidade que é Cavaco Silva. Mas que elites da desgraça imperam nesta azarada e devastada sociedade lusa! 

Como se diz: É fartar vilanagem!

Já há apostas. Vara fica preso e vai para Évora ou Carregueira? Vara é libertado depois de falar com o juiz Alexandre? Apostem no que quiserem. Por aqui no PG só apostamos que estamos perante elites que se abarbataram dos principais centros de poder e que - vai na volta - mereciam todas, todinhas, ser preventivamente encarceradas, já! Uma questão de triagem dos verdadeiramente criminosos e dos nem por isso. Até do juiz Alexandre, como de outros, já duvidamos. Justiça? Onde? Quem? Já quase não confiamos em nenhum deles, nas elites. Ena! Mas que super-país! (MM / PG)

Armando Vara está a ser ouvido pelo juiz Carlos Alexandre

O ex-governante do PS é suspeito dos crimes de corrupção, fraude fiscal e branqueamento de capitais.

O ex-ministro Armando Vara começou a ser ouvido esta sexta-feira pelo juiz Carlos Alexandre no Tribunal Central de Instrução Criminal, em Lisboa, após ter sido detido na quinta-feira por suspeitas dos crimes de corrupção, fraude fiscal e branqueamento de capitais.

Vara está a ser investigado no âmbito da Operação Marquês sobre os negócios relativos ao empreendimento Vale do Lobo.

Trata-se do mesmo processo que conduziu o antigo primeiro-ministro José Sócrates à prisão preventiva no Estabelecimento Prisional de Évora.

A PSP participou ativamente em buscas que decorreram quinta-feira em vários pontos do país, nomeadamente na sede da Caixa Geral de Depósitos, de que Armando Vara foi administrador. As diligências decorreram em coordenação com o Departamento Central de Investigação Criminal (DCIC).

A PGR confirmou ontem em comunicado que decorreram "buscas domiciliárias, em instalações de sociedades e numa instituição bancária", levadas a cabo pelo Ministério Público, a Autoridade Tributária e PSP.

O ex-governante passou a noite no comando de Moscavide da PSP, tendo saído um pouco antes da hora de almoço de sexta-feira para ser ouvido por Carlos Alexandre.

Em setembro do ano passado, Armando Vara foi condenado a cinco anos de prisão efetiva no âmbito do processo Face Oculta por três crimes de tráfico de influências.

Na foto: Armando Vara à chegada ao Tribunal de Aveiro que o condenou a cinco anos de prisão efetiva por três crimes de tráfico de influência - PAULO NOVAIS/LUSA

Expresso

TSIPRAS PREPARA-SE PARA TRAIR OS GREGOS?



Pedro Tadeu – Diário de Notícias, opinião

A tentativa de suicídio do governo de coligação Syriza-ANEL falhou, como acontece, de resto, à maioria das tentativas de suicídio. Alexis Tsipras está condenado a ser o grego que se entenderá ou que romperá de vez com a troika.

Nem depois de uma semana a pescar, de multibanco em multibanco, umas notitas para sobreviver mais um dia; nem depois de esperar horas e horas em filas para receber uma pensão; nem depois de anteciparem o futuro racionado com que a eurocracia os ameaçou; os gregos aceitaram subjugarem-se.

O não grego é admirável, comovente e um desafio à mediocridade. A leitura subsequente que consigo retirar desse dia memorável, do destino a dar a esses três milhões e meio de votos corajosos é, porém, sombria.

Na noite em que Alexis Tsipras anunciou o referendo, o que separava o governo Syriza-ANEL da troika? Pouco. Ambos os lados estavam de acordo na celebração de um novo empréstimo de oito ou nove mil milhões de euros para a Grécia pagar juros de dívida antiga. Ambos os lados condicionavam também esse empréstimo a pressupostos irrealistas: a troika impondo cortes em salários e pensões mas, ao mesmo tempo, a exigir crescimento económico; o Syriza-ANEL a prometer montantes de recolha de impostos e reformas na administração central impossíveis de alcançar nos prazos pretendidos.

Depois de enormes cedências na mesa de negociação, o Syriza-ANEL procurou tornar viável na Grécia a passagem das linhas vermelhas que prometera respeitar. Por isso, convocou um referendo com uma pergunta fechada sobre as condições em concreto do empréstimo que estava a ser negociado e não sobre a permanência no euro, a reestruturação da dívida ou qualquer outra solução de longo prazo para a economia do país.

Estupidamente, os políticos europeus, ao atribuírem ao não o valor de um rompimento com o euro, retiraram condições políticas para Tsipras acabar por apelar ao sim, como chegou a admitir.

Mas o suposto radical Tsipras não desistiu de salvar esta Europa que ele tanto critica: para voltar às negociações entregou a cabeça de Varoufakis aos credores e um documento assinado por cinco partidos em que pede um acordo socialmente justo e economicamente razoável.

Isto quererá dizer, apenas, voltar a negociar condições melhores para receber oito mil milhões de euros que nada resolvem? Ou, finalmente, quererá significar o início de um processo que resultará numa verdadeira reestruturação da dívida que, obviamente, terá de se estender, em parte, a Portugal e à Irlanda?

Se for a primeira hipótese, os gregos serão, mais uma vez, traídos e os quatro milhões que no domingo se abstiveram, votaram branco ou nulo - a verdadeira maioria dos gregos - é que tiveram razão.

*Publicado no DN em 07 julho 2015

GREGOS TRABALHAM MAIS 671 HORAS ANUAIS QUE ALEMÃES, DIZ OCDE




O relatório hoje divulgado pela OCDE diz que a Grécia é o país europeu com mais horas de trabalho por ano. A Alemanha fica na extremidade oposta do ranking. A diferença entre os dois é de 671 horas.

A OCDE alerta que devido à diferença das fontes e métodos de cálculo estatístico, este trabalho serve mais para comparar tendências no mesmo país (nos três casos aumentaram as horas de trabalho em relação a 2013, mais em Portugal do que na Grécia e Alemanha) do que para comparar países.

Mas em todo o mundo os dados são publicados em forma de ranking. E assim sendo, o mito dos povos preguiçosos do Sul da Europa volta este ano a ser desmentido pelos números oficiais. Veja aqui as estatísticas no número de horas de trabalho nos países da OCDE, que mostram como Grécia só é ultrapassada pelo México, Costa Rica e Coreia do Sul no número de horas de trabalho anual, com 2042 horas de trabalho por ano.

No fim da lista está a Alemanha, com 1371 horas/ano, menos 671 horas do que na Grécia. Portugal ocupa a 12ª posição deste ranking, com 1857 horas/ano, mais 486 horas de trabalho que na Alemanha.

InfoGrécia

GRÉCIA: A DIGNIDADE VENCEU A COBIÇA




Os burocratas de Bruxelas perderam o sentido da história e qualquer referência ética e humanitária

Leonardo Boff – Carta Maior

Há momentos na vida de um povo em que ele deve dizer Não, para além das possíveis consequências. Trata-se da dignidade, da soberania popular, da democracia real e do tipo de vida que se quer para toda a população.

Há cinco anos que a Grécia se debate numa terrível crise econômico-financeira, sujeita a todo tipo de exploração, chantagem e até terrorismo  por parte do sistema financeiro, especialmente de origem alemã e francesa. Ocorria uma verdadeira intervenção na soberania nacional com a pura e simples imposição das medidas de extrema austeridade excogitadas, sem consultar ninguém, pela Troika (Banco Central Europeu, Comissão Européia e o FMI).

Tais medidas implicaram uma tragédia social, face à qual o sistema financeiro não mostrava nenhum sentido de humanidade. “Salve-se o dinheiro e que sofra ou morra o povo”. Efetivamente desde que começou a crise ocorreram mais de dez mil suicídios de pequenos negociantes insolventes, centenas de crianças deixadas nas portas dos mosteiros com um bilhete das mães desesperadas:”não deixem minha criancinha morrer de fome”. Um sobre quatro adultos estão desempregados, mais da metade dos jovens sem ocupação remunerada e o PIB caiu 27%. Não passa pela cabeça dos especuladores que atrás das estatíticas se esconde uma via-sacra de sofrimento de milhões de pessoas e a humilhação de todo um povo. Seu lema é “a cobiça é boa”. Nada mais conta.

Os negociadores do novo governo grego de esquerda, do Syriza, com o primeiro ministro Alexis Tsipras e seu ministro da fazenda um acadêmico e famoso economista da teoria dos jogos Yanis Varoufakis que quiseram negociar as medidas de austeridade duríssimas encontrarm ouvidos moucos. A atitude era de total submissão:”ou tomar ou deixar”. O mais duro era o ministro das Finanças alemão Wolfgang Sträuble:”não há nada para negociar; apliquem-se as medidas”. Nada de uma estratégia do ganha-ganha, mas pura e simplesmente do ganha-perde. A disposição era de humilhar o governo de esquerda socialista, dar uma lição para todos os demais países com crises semelhantes (Italia, Espanha, Portugal).

A única saída honrosa de Tsipras foi convocar um referendo: consultar o povo sobre se diria um Não (OXI) ou um Sim (NAI). Qual a posição face à inflexibilidade férrea da austeridade que aparece totalmente irracional por levar uma nação ao colapso, exigindo uma cobrança da dúvida reconhecidamente impagável. O própro Governo propôs a consulta e sugeriu o Não.  Os credores e os governos da França e da Alemanha fizeram ameaças, praticaram um verdadeiro terroismo nas palavras do ministro Varoufakis e falsificaram as informações como se o referundo fosse para ficar na zona do Euro ou sair, quando na verdade não se tratava nada disso. Apenas era de aceitar ou rejeitar o “diktat” das instituições financeiras euopéias. A Grécia quer ficar dentro da zona do Euroa.

A vitória de domingo dia 5 de julho foi espetacular para o Não: 61% contra 38% do Sim. Primeira lição: os poderosos não podem fazer o que bem entendem e os fracos não estão mais dispostos a aceitar as humilhações. Segunda lição: a derrota do Sim mostrou claramente o coração empedernido do capital bancário europeu. Terceiro, trouxe à luz a traição da Unidade Européia a seus próprios ideais  que era a integração com solidariedade, com igualdade e com assistência social. Renderam-se à lógica perversa do capital financeiro.

A vitória do Não representa uma lição para toda a Europa: se ela quer continuar a ser súcuba das políticas imperiais norteamericanas ou se quer construir uma verdadeira unidade européia sobre os valores da democracia e dos direitos. O insuspeito semanário liberal  Der Spiegel advertia que através da Sra. Merkel, arrogante e inflexível, a Alemanha poderia, já pela terceira vez, provocar uma tragédia européia. Os burocratas de Bruxelas perderam o sentido da história e qualquer referência ética e humanitária. Por vingança o Banco Central Europeu deixou de subministrar dinheiro para os bancos gregos continuarem a funcionar e os obrigou a fechar.

Uma lição para todos, também para nós: quando se trata de uma crise radical que implica os rumos futuros do país, deve-se voltar ao povo, portador da soberania política e confiar nele. A partir de agora os credores e as inflexíveis autoridades do zona do Euro terão pela frente não um governo que eles podem aterroizar e manpular, mas um povo unido que tem consciência de sua dignidade e que não se rede à avidez dos capitais. Como dizia um cartaz:”Se não morremos de amor, por que vamos morrer de fome”?

Na Grécia nasceu a democracia de cunho elitista. Agora está nascendo uma democracia popular e direta. Ela será um complemento à democracia delegatícia. Isso vale também para nós.

Um prognóstico, quiça uma profecia: não estará nascendo, a partir da Grécia, a era dos povos? Face às crises globais serão eles que irão às ruas, como entre nós e na Espanha e tentarão formular os parâmetros políticos e éticos  do tipo de mundo que queremos para todos. Já não confiam no que vem de cima. Seguramente o eixo estruturador não será a economia capitalista desmoronando, mas a vida: das pessoas, da natureza e da Terra. Isso realizaria o sonho do Papa Francisco em sua encíclica: a humanidade “cuidando da Casa Comum”.


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