segunda-feira, 12 de outubro de 2015

PORQUE ANGOLA É INCÓMODA PARA ALGUNS?



Rui Peralta, Luanda

Angola parece incomodar determinados sectores internacionais – e seus parceiros nacionais - visivelmente perturbados com as políticas de desenvolvimento económico e social e com o protagonismo nacional a nível mundial. O país assiste ao desenvolvimento de uma campanha direccionada que pretende minar a imagem nacional e desestabilizar a sociedade angolana, com o objectivo de atacar a soberania nacional e popular.

Não obstante o Executivo angolano continua a aplicação do Programa Nacional de Desenvolvimento (PND), para o período 2013/2017 e estuda formas de alargar a cooperação ao nível internacional nos mais variados domínios. Foi nesse sentido que uma delegação parlamentar britânica, chefiada pelo Lord David Martins Scott Steel, visitou Angola, mantendo contactos com as mais diversas entidades nacionais. A parceria, em termos de investimentos privados, com o Reino Unido é de extrema importância geoeconómica para Angola, tendo em conta o potencial britânico e a grande contribuição que o Reino Unido pode proporcionar a Angola.

De igual importância foi a realização da Conferência Internacional sobre Segurança Marítima e Energética, em Luanda, que decorreu nos dias dias 8 e 9 deste mês, inaugurada pelo vice-presidente da República de Angola, Eng.º. Manuel Vicente. As diversas estratégias marítimas e regionais são pertinentes para Angola, na medida em que contribuem para a segurança de todos os países.

O Programa de Governo do MPLA, sufragado pelo povo angolano, para o período 2012/2017, previne a salvaguarda da soberania nacional, das suas águas interiores, do mar territorial, da navegação marítima e da exploração petrolífera. Aliás  o Executivo angolano aprovou, no primeiro dia de Outubro corrente, um conjunto de medidas, para a implementação do Sistema Nacional de Vigilância e Segurança Marítima da Zona Económica Exclusiva. A implementação deste sistema será acompanhada pela optimização e modernização dos mecanismos de defesa e da segurança nacional interna e externa, condição fundamental para o desenvolvimento nacional, bem como para a inserção de Angola nas estruturas de âmbito regional e na economia-mundo.

O Programa de Governo estabelece a execução de programas e planos para aumento das capacidades de defesa e melhoria operacional de todos os sectores da defesa e da segurança, de forma a melhor cumprir os objectivos estratégicos. O Programa destaca, também, a necessidade de executar programas de formação técnico-profissional dos efectivos militares e da segurança, através de ciclos de longo, médio e curto prazos, em especialidades convergentes com a actividade de defesa e segurança nacional.

Desta forma o Executivo angolano materializa o princípio de optimizar as condições humanas e técnico-materiais, que permitam garantir a integridade da soberania nacional, condição essencial para o desenvolvimento da Nação, da melhoria da qualidade de vida do Povo Angolano e para a efectivação dos direitos liberdade e garantias dos cidadãos nacionais.

Talvez seja tudo isto que incomoda os que, de forma hipócrita, arvoram-se em defensores de principios “democraticos e de justica”, esquecendo-se da aplicação destes princípios nas suas proprias casas…

Usar o português na Guiné Equatorial é processo que pode demorar muito tempo - CPLP



Lisboa, 12 out (Lusa) - A utilização da língua portuguesa pela Guiné Equatorial "é um processo que pode demorar muito tempo", reconheceu hoje em Lisboa o secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

Murade Murargy, que intervinha na cerimónia para celebrar o primeiro aniversário da entrada da Guiné Equatorial na organização - que se concretizou em julho de 2014 -, sublinhou que "a aceitação em Díli é o início de um processo de integração, e há todo um percurso que tem de ser feito para que se sintam plenamente integrados no nosso seio".

O apoio que a equipa da CPLP dá, acrescentou o responsável, é por isso "extremamente importante para que consigam reduzir as distâncias que nos separam" e que permite, "para usar as palavras que costumam usar, o retorno a casa, onde pertenciam antes, mas esse retorno leva o seu processo".

Na curta intervenção que deu início à sessão que decorre esta tarde em Lisboa, Murargy abordou uma das questões que mais polémica tem levantado desde a entrada da Guiné Equatorial na CPLP, e que se prende com a utilização da língua portuguesa: "Não devemos rejeitá-los porque não falam português, não faz parte da nossa maneira de ser; a família CPLP é uma família de acolhimento, de carinho", concluiu.

MBA // EL

Guiné Equatorial faz balanço positivo de um ano de integração na CPLP



Lisboa, 12 out (Lusa) -- O embaixador da Guiné Equatorial junto da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) apresentou hoje vários argumentos para defender a entrada do país na organização lusófona, salientando os aspetos políticos, sociais e económicos mutuamente benéficos.

"Quisemos entrar na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa porque sentimos que isso é o regresso a casa", disse Tito Mba Ada na intervenção que proferiu hoje na sede da CPLP, em Lisboa, para assinalar o primeiro aniversário da entrada do seu país na organização que junta os países que têm a língua portuguesa como idioma oficial.

"A Guiné Equatorial foi descoberta por um português e tem raízes portuguesas, por isso este é o regresso para os nossos 1,2 milhões de habitantes", salientou o embaixador, acrescentando que, entre outras, desde a adesão à CPLP enquanto membro de pleno direito, em julho de 2014, o seu país lançou um conjunto de iniciativas, incluindo a abertura de uma embaixada em Lisboa e de outra junto da CPLP, o início da ratificação dos estatutos da CPLP no parlamento nacional, a criação da comissão nacional da CPLP e visitas recíprocas de políticos de Malabo e da CPLP, entre outros.

Numa intervenção destinada essencialmente a apresentar o país e os passos que foram dados para a integração na CPLP, Tito Mba Ada destacou que a Guiné Equatorial "é uma nação generosa", e lembrou os 1.760 milhões de euros para as empresas que queiram investir no país nos setores considerados prioritários no Plano de Desenvolvimento 2020, entre outros.

"A CPLP deve saber que a Guiné Equatorial está a abrir oportunidades económicas e fomentando a iniciativa e o crescimento, deve saber que as nossas leis protegem o investimento estrangeiro, são seguras para investir; a CPLP deve saber que o país é solidário, é o promotor do Prémio Guiné Equatorial UNESCO para as Ciências, com 13 milhões de dólares, e deu 2 milhões de dólares à Organização Mundial de Saúde para combater o Ébola", destacou.

Na sua intervenção, Tito Mba Ada mostrou também as conquistas desde a adesão à CPLP: "inauguramos uma sede para a cooperação empresarial na CPLP em Malabo, fizemos um protocolo de cooperação com a União de Exportadores da CPLP, e graças à CPLP a Constituição do meu país foi mudada para integrar os princípios da CPLP. Foi emitido um programa de serviços informativos na televisão, a cooperação empresarial foi fortalecida, assinámos uma moratória sobre a pena de morte, temos dois embaixadores em Lisboa e graças à integração na CPLP queremos dar a conhecer a experiência política, económica e social para construirmos uma CPLP mais diversificada, aberta e mais forte", concluiu.

MBA // EL

Timor-Leste. Holandês caminha de Díli a Balibó para lembrar 40 anos da morte de jornalistas



Díli, 12 out (Lusa) - O ativista holandês Francis Janssen está a realizar uma caminhada de quase 130 quilómetros entre a capital timorense, Díli, e a cidade de Balibó, para recordar o 40.º aniversário da morte, nesta localidade, de cinco jornalistas australianos.

"A ideia nasceu há um ano. Queria chamar a atenção para a questão da impunidade nesta caso, recordando a morte dos jornalistas, o ataque que isso representou contra a liberdade de expressão e, ao mesmo tempo, celebrar a conquista de independência de Timor-Leste", disse à Lusa.

"Mas ao mesmo tempo aproveitar para chamar a atenção para a situação de falta de liberdade na Papua Ocidental e nas Molucas que continuam ocupadas pela Indonésia. Se eu fizesse esta caminhada lá era preso porque não há liberdade nessas zonas", afirmou.

Janssen, 47 anos, partiu de Díli no domingo e está hoje a aproximar-se da localidade de Maubara, onde deverá pernoitar, esperando chegar a Balibó no dia 16 de outubro, data que em que os jornalistas foram mortos.

Gary Cunningham, Malcolm Rennie, Tony Stewart, Brian Peters e Greg Shackleton estavam em Timor-Leste numa altura conturbada, com sucessivas ações levadas a cabo pelos principais partidos, Fretilin e UDT, e um ambiente de guerra civil, escolhido pela Indonésia para a invasão.

Os cinco jornalistas foram mortos durante uma operação indonésia naquela vila fronteiriça, numa antecipação da invasão total de Timor-Leste que se deu a 07 de dezembro seguinte.

Os jornalistas foram surpreendidos por um corpo de forças especiais indonésias que atravessou a fronteira com Timor-Ocidental, juntou-os numa casa, matou-os a tiro e queimou os corpos.

O local ficou conhecido porque nas últimas imagens antes do assassinato, Greg Shackelton é visto a pintar na parede exterior a bandeira australiana e a palavra "Austrália", hoje novamente recordada naquela casa.

A morte dos jornalistas serviu e, continua a servir, como argumento para ataque da política australiana durante a ocupação indonésia de Timor-Leste.

Em setembro de 2000, pressões sobre o assunto levaram Camberra a admitir que o governo australiano sabia que a Indonésia ia invadir Timor-Leste em 1975.

Na altura, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Alexander Downer, negou no entanto que houvesse conhecimento do ataque à aldeia fronteiriça de Balibó em outubro de 1975, em que foram mortos os jornalistas.

"Obviamente gostava que fosse feita justiça mas as pessoas no topo não pensam da mesma forma que o resto", disse Janssen.

O ativista explicou à Lusa que apesar de saber que Timor-Leste estava ocupado pela Indonésia, o seu interesse aumentou depois do massacre de Santa Cruz, que ocorreu a 12 de novembro de 1991.

A sua caminhada recorda não só os cinco de Balibó mas também outros jornalistas mortos em Timor-Leste, nomeadamente Roger East, que foi morto, em Díli, a 07 de dezembro de 1975, e Sander Thoenes, que morreu em setembro de 1999.

ASP // MP

Líder estudantil de Hong Kong quer redução da idade legal para concorrer ao Conselho Legislativo



Hong Kong, China, 12 out (Lusa) -- O líder do movimento estudantil de Hong Kong 'Scholarism', que em 2014 esteve envolvido na ocupação de ruas em Hong Kong, quer que a idade mínima para concorrer às eleições legislativas locais seja reduzida de 21 para 18 anos.

Joshua Wong, que faz 19 anos na terça-feira, interpôs uma ação para que a idade mínima legal para ser candidato ao Conselho Legislativo (LegCo) seja a 18 anos, a mesma idade com que se pode votar em Hong Kong e disse, citado pela Rádio e Televisão Pública de Hong Kong (RTHK), que caso seja bem sucedido pondera concorrer às eleições para o LegCo no próximo ano.

O ativista disse que a atual legislatura está a enfrentar um problema de envelhecimento, em que muitos deputados rejeitam participar em ações de não-cooperação, como os 'filibusters', discursos de muito longa duração que permitem o arrastar indefinido de um debate, forçando a retirada das propostas legislativas.

Joshua Wong disse que quer motivar e encorajar mais pessoas da nova geração a envolverem-se na política. O jovem defendeu que se a população de Hong Kong quer continuar a lutar pela autodeterminação, democracia ou autonomia, é preciso levar novas vozes e ideias ao Conselho Legislativo.

No final de setembro de 2014, algumas das principais ruas de Hong Kong foram ocupadas, numa manifestação que durou 79 dias e teve como propósito conseguir que a cidade passasse a eleger o líder do seu Governo por sufrágio universal.

O jovem ativista foi um dos principais rostos dos protestos, chegando até a ser capa da revista Time, que o nomeou para a lista de "Pessoa do Ano" em 2014.

A ocupação das ruas terminou em dezembro. Até à data não houve qualquer alteração à metodologia na eleição do chefe do Executivo da região chinesa.

FV (ISG) // JMR

Trocas comerciais entre a China e países de língua portuguesa caíram 24,6% até agosto



Macau, China, 12 out (Lusa) -- As trocas comerciais entre a China e os países de língua portuguesa caíram 24,6% até agosto, fixando-se em 67,83 mil milhões de dólares (59,6 mil milhões de euros), indicam dados oficiais hoje divulgados.

Dados dos Serviços de Alfândega da China, publicados no portal do Fórum Macau, indicam que, nos primeiros oito meses do ano, a China comprou aos países de língua portuguesa bens avaliados em 41,9 mil milhões de dólares (36,8 mil milhões de euros) -- menos 31,2% -- e vendeu produtos no valor de 25,8 mil milhões de dólares (22,7 mil milhões de euros), menos 10,9%.

O Brasil manteve-se como o principal parceiro económico da China, com o volume das trocas comerciais bilaterais a cifrar-se em 48,9 mil milhões de dólares (42,9 mil milhões de euros) até agosto, menos 18,8% face ao período homólogo do ano passado.

As exportações da China para o Brasil atingiram 19,8 mil milhões de dólares (17,4 mil milhões de euros), traduzindo uma quebra de 12,5%, enquanto as importações chinesas totalizaram 29,08 mil milhões de dólares (25,5 mil milhões de euros), refletindo uma descida de 22,7% em termos anuais homólogos.

Com Angola, o segundo parceiro chinês no universo da lusofonia, as trocas comerciais caíram 43% para 14,2 mil milhões de dólares (12,5 mil milhões de euros) até agosto.

Pequim vendeu a Luanda produtos avaliados em 2,66 mil milhões de dólares (2,3 mil milhões de euros) -- menos 16,1% -- e comprou mercadorias avaliadas em 11,5 mil milhões de dólares (10,1 mil milhões de euros), ou seja, menos 46,93% do que nos primeiros oito meses de 2014.

Já com Portugal, terceiro parceiro da China no universo de países de língua portuguesa, o comércio bilateral ascendeu a 3,01 mil milhões de dólares (2,6 mil milhões de euros) -- menos 7,1% --, numa balança comercial favorável a Pequim que vendeu a Lisboa bens na ordem de 1,96 mil milhões de dólares (1,72 mil milhões de euros) -- menos 5,8% -- e comprou produtos avaliados em 1,03 mil milhões de dólares (910,4 milhões de euros), menos 9,5% em termos anuais homólogos.

Só em agosto, as trocas comerciais entre a China e os países de língua portuguesa cifraram-se em 9,15 mil milhões de dólares (8,04 mil milhões de euros), um decréscimo de 13,4% face ao mês anterior.

Os dados divulgados incluem São Tomé e Príncipe, apesar de o país manter relações diplomáticas com Taiwan e não participar diretamente no Fórum Macau.

A China estabeleceu a Região Administrativa Especial de Macau como a sua plataforma para o reforço da cooperação económica e comercial com os países de língua portuguesa em 2003, ano em que criou o Fórum Macau, que reúne ao nível ministerial de três em três anos.

DM // VM

MOÇAMBIQUE, UM PAÍS QUE MALTRATA OS SEUS PROFESSORES



@Verdade, em Tema de Fundo

Abraçaram a docência por paixão. Porém, de há algum tempo a esta parte, o amor à profissão tem vindo a desfalecer. Baixo salário, salas de aulas superlotadas, diversas turmas sob a sua responsabilidade e falta de condições infra-estruturais para a leccionação são alguns dos aspectos com que os professores moçambicanos têm de lidar, de segunda à sexta-feira. Por ocasião de mais um aniversário da Organização Nacional dos Professores (ONP), o @Verdade foi ouvir a opinião dos docentes. Estes queixam-se de tudo, principalmente da inércia daquela agremiação cuja tarefa devia ser velar pelo bem-estar da classe.

De segunda à sexta-feira, a vida de Abubacar Magido, de 32 anos de idade, é bastante agitada. Reside na vila sede Mecubúri e todos os dias tem de percorrer pelo menos 20 quilómetros até ao interior do distrito de Mecubúri, na província de Nampula, para exercer a sua actividade. Há seis anos que é professor do ensino primário. Na paragem, ele luta para garantir um lugar no “chapa” de modo a chegar a tempo e horas ao posto de trabalho. Os transportes semicolectivos ainda são um luxo para a maioria da população. A única alternativa tem sido as motorizadas.

Quando abraçou o professorado, fê-lo por paixão. Hoje, ele diz “gosto de ensinar, pois trata-se de uma profissão nobre, mas as condições que nos são sujeitas são bastante lamentáveis. Não é possível trabalhar nas condições em que trabalhamos: salas superlotadas e por debaixo de uma mangueira. Só continuamos nesta actividade por falta de alternativa”.

Esta visão não é exclusiva de Magido. Bertil Fazbem, de 29 anos de idade, professor formado pela Universidade Pedagógica, curso de formação 12+1 ano em 2008, partilha a ideia. É docente da Escola Secundária de Nioce, distrito de Malema, onde lecciona a disciplina de Português.

O nosso interlocutor escolheu a profissão de professor como forma de contornar o desemprego, ou seja, estando na formação, Fazbem descobriu que tinha dotes para enfrentar a carreira docente, para além de que se inspira nos seus pais, uma vez que eles também são docentes.

Em 2009, depois de concluir o seu curso, Fazbem foi afecto no distrito de Malema, onde viria a ser colocado na Escola Secundária de Cucuteia, sito no posto administrativo de Mutuáli, a 50 quilómetros da vila sede do distrito. Segundo o nosso entrevistado, nos primeiros anos da sua carreira, tudo corria às mil maravilhas. Volvidos três anos, com as exigências dos sonhos do professor Fazbem, o que era paixão começou a tornar-se num mar de incertezas, dado que ele pretendia continuar os estudos mas a sua localização não permitia o ingresso no ensino superior.

A preocupação do professor em alusão não era só aumentar o salário, mas também adquirir mais conhecimentos para o seu bom desempenho no Processo de Ensino e Aprendizagem (PEA).

Esta pretensão continua a ser o seu maior desafio. Presentemente, ele encontra-se a frequentar o curso de Ensino de Língua Portuguesa na Universidade Pedagógica, na cidade de Nampula, algo que não tem sido fácil, dada a distância que separa o seu posto de trabalho Nioce (Malema) da instituição onde é estudante.

Fazbem optou por estudar em regime que é considerado pelos dirigentes de educação irregular por não ter sido fácil conjugar o horário de trabalho e os estudos, porque os professores não beneficiam das bolsas de estudo que poderiam ajudar na obtenção não só de altos níveis académicos, mas também dos conhecimentos.

Num outro desenvolvimento, o nosso interlocutor revelou que não é fácil ser professor em Moçambique, pois esta classe profissional é relegada, pelo Estado, para último plano, alegadamente porque é um sector que não produz. “Para o professor ter uma habitação condigna deve contrair uma dívida numa instituição bancária. Este é um exemplo claro de que não somos considerados, embora sejamos pilares para a construção de uma sociedade”, disse Fazbem, tendo acrescentado que “ninguém ascende aos demais cargos sem passar pelas mãos de um professor”.

Debruçando-se sobre a actual situação de ensino no país no tocante à sua qualidade, Fazbem disse que não é das melhores, por várias razões. Primeiro, por causa da própria política educacional, pois o novo currículo, ora implementado que determina a passagem automática dos alunos no ensino primário, atenta contra a aprendizagem.

Para o professor Fazbem, o Governo deve, com a máxima urgência, desenhar novas políticas educacionais ou então retornar aos sistemas anteriores, por forma a recuperar a qualidade de ensino em Moçambique. Caso não o faça, os estabelecimentos de ensino continuarão a produzir académicos no papel (certificado) que nada podem demonstrar para justificar os seus níveis.

“Estou com medo que nos próximos tempos tenhamos, no país, médicos que, ao invés de curar doenças, irão ceifar vidas por falta de conhecimento por causa destas políticas que só satisfazem as vontades do partido no poder. Até porque há cinco anos que já estamos a conviver com académicos sem nenhum conhecimento e eu pessoalmente conheço colegas (professores) com dificuldades em ler e escrever. Preocupa-me saber que a culpa é lançada ao professor, mas este é obrigado a fabricar notas no final de cada trimestre e ano, alegadamente para atingir e satisfazer as metas”, disse Fazbem.

O nosso entrevistado chama a atenção aos governantes de modo a encontrarem meios para manter os alunos, com principal enfoque as raparigas nas zonas recônditas nas escolas. Porém, o que se assiste nos dias que correm é triste, uma vez que no começo do ano, nas zonas em alusão, o número de alunos tem sido de 55 a 60, mas até ao meio do ano chegam apenas 35 a 40.

A outra dificuldade apontada pelo nosso interlocutor é a falta de bibliotecas nas escolas secundárias espalhadas pelo país, com particular destaque para as zonas rurais. E isso, para a nossa fonte, é um perigo eminente para a aprendizagem não só dos alunos, mas também dos professores.

Fazbem disse ao @Verdade que no distrito onde trabalha não há uma biblioteca onde o aluno pode desenvolver estudos individuais ou de grupo, não obstante a existência de cinco escolas secundárias. Esta preocupação foi apresentada há anos ao antigo governador da província de Nampula, Felismino Tocoli, aquando da sua visita de trabalho ao posto administrativo de Mutuáli, onde Fazbem começou a exercer a actividade de docente, mas até hoje nada foi feito.

Além de material didáctico, o professor em Moçambique não está motivado para trabalhar e contribuir para o desenvolvimento do país. Como exemplo disso, segundo Fazbem, o salário, sem querer dizer que é pouco, não corresponde ao trabalho feito pela classe. Ademais, o custo de vida no país é elevado, deixando os professores à beira do desespero.
“O professor vive de dívidas e quando chega o fim do mês distribui o dinheiro aos seus credores e, por via disso, é obrigado a gastar o próximo ordenado antecipadamente. É triste para uma pessoa que tem dependentes”, afirmou.

As dificuldades por que o professor Fazbem passa são várias, a partir da falta de material didáctico, o mau desempenho dos seus instruendos, que no entender dele é motivado pelo sistema actual de educação e o não acompanhamento dos pais e/ou encarregados de educação, e desaguam nas viagens que tem de percorrer em cada fim do mês para proceder ao levantamento do seu magro salário. Este último facto pode durar cerca de três dias ou mais, por causa do sistema que por vezes condiciona o processo enquanto as suas turmas ficam dias sem aulas.

Fazbem revelou que a Organização Nacional dos Professores (ONP) em Moçambique é um sindicato neutro, é um organismo fantoche que nada faz em prol do professor.

O @Verdade ouviu também a professora de nome Esmeralda Parula que, actualmente, lecciona na Escola Primária Completa de Murrapaniua 1, na cidade de Nampula. Para ela, ser professor em Moçambique é uma tarefa difícil por causa do tratamento a que estes profissionais de educação são sujeitos.

Esmeralda foi formada no Instituto de Formação de Professores de Quelimane, na província da Zambézia. Ser professora era o seu maior sonho desde a infância, mas hoje disse que está inconformada com a situação que vive no Ministério de Educação e Desenvolvimento Humano (MINEDH). Salário baixo contra preços onerosos de produtos de primeira necessidade, e a má qualidade de educação que o país atravessa são alguns dos aspectos apontados.

A professora lecciona a primeira classe e disse que tudo corre às mil maravilhas. Para ela, trabalhar com crianças, sobretudo ensinar a ler, contar e escrever, faz parte das maiores realizações da sua vida, pois acredita que está a contribuir para melhorar o país.

“Escolhi ser professora para trabalhar, ajudar a sociedade, ensinar as crianças as maravilhas das letras e números, para além de saberem se portar-se nas comunidades onde se encontram inseridas, e como interagir com os mais velhos e a realidade da vida. Mas sinto-me desanimada, uma vez que não há incentivos no sector da Educação”, afirmou.

Esmeralda lamenta o facto de o Estado partidarizar as escolas. Contudo, a nossa interlocutora disse que em todas onde passa tem sido obrigada a participar nas reuniões do partido no poder, em detrimento das aulas.

Quando questionada sobre o que a ONP faz em prol do professor, Esmeralda com risos ininterruptos respondeu ironicamente que não sabe da existência de tal organização, uma vez que desde que ingressou na Educação, desconhece quaisquer realizações da mesma em benefício dos seus membros (professores).

“Eu pessoalmente não conheço esta organização. Só sei que em cada ano tenho menos 120 meticais que é levado à ONP, mas sem quaisquer justificações. Não sei se estou a pagar uma quota ou uma outra coisa. Não tenho algum documento que me identifica como membro da ONP. Há problemas que os professores enfrentam, como a falta de pagamento de horas extraordinárias, turnos e meio, mas nunca vi e nem ouvi falar da intervenção da ONP em torno disso”, lamentou.

A professora é mãe de três filhos e vive com o seu marido. Neste dia 12 de Outubro, Esmeralda vai passar em casa na companhia da sua família.

DÍVIDA PÚBLICA ANGOLANA AUMENTA MAIS DE SETE VEZES NUMA SEMANA



Relatório semanal do BNA mostra que a dívida pública aumentou para cerca de USD 113 milhões.

A dívida pública colocada por Angola aumentou mais de sete vezes no espaço de uma semana, para cerca de USD 113 milhões, indicam dados do banco central compilados hoje pela Lusa.

Segundo o relatório semanal sobre a evolução dos mercados monetário e cambial do Banco Nacional de Angola (BNA), enquanto operador do Estado, o banco central colocou no mercado primário, entre 5 de Outubro e 10 de Outubro, Kz 11,1 mil milhões em Bilhetes do Tesouro (BT) e Kz 3,8 mil milhões em Obrigações do Tesouro (OT).

A mesma informação refere que as OT foram emitidas com maturidade de dois e quatro anos e a taxas de juro de 7 por cento e 7,5 por cento ao ano, enquanto as taxas de juro médias apuradas para os BT dispararam para 8,50 por cento e 9,66 por cento, respectivamente para as maturidades de 63 e 364 dias.

Ainda para a gestão corrente do Tesouro Nacional, no segmento de venda directa de títulos ao público, e no mesmo período, somam-se Kz 670,3 milhões em dívida pública também colocada pelo BNA.

No total, neste período, o banco central colocou no mercado primário Kz 15,5 mil milhões em dívida pública, montante que, comparado com os Kz 2,1 mil milhões na semana anterior, dá uma multiplicação de mais de sete vezes.

O governo prevê um endividamento público para 2015 a rondar os USD 20 mil milhões, a captar também junto de investidores privados.

Este endividamento é necessário para garantir o financiamento do Orçamento Geral do Estado, compensando a quebra nas receitas petrolíferas (de cerca de 50 por cento), e distribui-se em partes iguais pelo mercado externo e interno.

Lusa, em Rede Angola

FOME DE MILHÕES ALIMENTA A RIQUEZA DE UNS POUCOS



Países lusófonos no índice

A luta contra a fome no mundo registou “progressos significativos” nos últimos 15 anos, com uma redução global de 27% e o Brasil a constituir-se como o que mais diminuiu a subnutrição entre os 128 países analisados num estudo.

No Índex Global sobre Fome (IGF) 2015, elaborado pelo Instituto Internacional de Investigação sobre Políticas Alimentares (IFPRI, na sigla inglesa), só surgem avaliados cinco dos nove membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa – Angola, Brasil, Guiné-Bissau, Moçambique e Timor-Leste.

Com Cabo Verde, Guiné-Equatorial, Portugal e São Tomé e Príncipe ausentes da lista, o Brasil desceu cerca de 66% os casos de fome entre 2000 e 2015 e já se encontra entre os países com um resultado inferior a cinco pontos, passando a integrar o conjunto de Estados perto de erradicar a fome, entre os 0 e os 7,9 pontos.

Segundo os critérios para a definição do IGF, pontuações entre os 8 e os 13,2 representam níveis baixos ou moderados de fome, entre os 13,3 e os 19,9 pontos constituem valores médios e entre os 20 e os 34,9 são considerados “sérios”. Acima dos 35 pontos são considerados alarmantes, estando nessa situação Timor-Leste, que obteve 40,7 pontos.

Angola, a par do Ruanda e Etiópia, registou uma das maiores descidas na redução da fome, com diminuições entre os 25 e os 28 pontos, mas mantém-se com um nível “sério”, obtendo, segundo os critérios da IFPRI, 32,6 pontos. A Guiné-Bissau (30,3 pontos), Moçambique (32,5) estão igualmente na mesma lista de Angola.

Por regiões, a África subsaariana (média de 32,2 pontos) e o sul da Ásia (média de 29,4) mantêm-se como as principais zonas geográficas mais afectadas pela fome, com valores que estão dentro do parâmetro que o Instituto considera “sérios”.

Em contraste, o sudeste asiático, Médio Oriente e África do Norte, América Latina e Caraíbas, Europa de Leste e Estados independentes da Comunidade Britânica (Commonwealth) registaram valores entre os oito e os 13,2 pontos.

Segundo o ranking do IFPRI, 17 países, entre eles o Brasil, obtiveram resultados “notáveis” na redução da fome, baixando em 50% ou mais as respectivas percentagens.

Os dados do relatório dão também conta de que 68 países registaram “progressos consideráveis”, com uma descida entre 25% e 49,9%, e 28 outros reduziram o Índex Global sobre Fome em menos de 25%.

No entanto, apesar de todos os progressos, há ainda 52 países que continuar com níveis de fome que variam entre o “sério” e “alarmante”.

No período de 15 anos, entre 2000 e 2015, a lista dos 10 países com maior redução dos níveis de fome conta com três países da América Latina (Brasil, Peru e Venezuela), um da Ásia (Mongólia), quatro antigas repúblicas soviéticas (Azerbaijão, República da Quirguízia, Lituânia e Ucrânia) e dois ex-Estados jugoslavos (Bósnia-Herzegovina e Croácia).

O IGF de 20156 não inclui os resultados de alguns dos países menos desenvolvidos, como Burundi, Comores, Eritreia, Sudão ou Sudão do Sul, entre outros, devido à inexistência de dados, o mesmo se passando com a RDCongo que, sendo o pior país do mundo analisado em 2011, não disponibilizou quaisquer informações. A Somália, em crise desde 1991, nunca foi analisada.

Folha 8

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Guiné-Bissau. PR VOLTA RECUSAR PROPOSTA DE ELENCO GOVERNAMENTAL



O Presidente guineense, José Mário Vaz voltou hoje, 12 de Outubro, a recusar a proposta do elenco governamental a ser liderado por Carlos Correia.

Falando aos jornalistas após um encontro no Palácio presidencial esta quarta-feira com o Chefe de Estado, Carlos Correia anunciou que este ainda reclama o afastamento da lista de alguns nomes que, segundo ele, teriam processos em andamento na justiça.

O Democrata apurou que na lista dos ministeriáveis contestados por José Mário Vaz constam os nomes do Geraldo Martins (ministro cessante da Economia e Finanças), Botché Candé (o ex-titular do Interior, figura de confiança de Simões Pereira) e Daniel Gomes (ministro cessante dos Recursos Naturais), igualmente muito próximo do líder do partido libertador.

Na proposta inicial submetida semana passada pelo Primeiro-ministro Correia ao Presidente Vaz, para além  dos nomes acima mencionados constava igualmente o de Domingos Simões Pereira para o Ministério da Presidência do Conselho de Ministros, segunda figura do governo, de acordo com a orgânica aprovada no Bureau Político do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC).

Entretanto da lista foi retirado o nome de Domingos Simões Pereira durante a mediação do Olesengun Obasanjo este fim-de-semana em Bissau.

A fonte de O Democrata adianta que o PAIGC depois da sua cedência sobre o afastamento do líder do partido da equipa governamental assume agora a “posição de intransigência” no que se refere aos restantes nomes.

De referir que o medianeiro da crise política, Olusegun Obasanjo deixou o país sábado a noite sem ter prestado quaisquer declarações sobre os resultados da mediação.

 O Democrata

Guiné-Bissau. PRS DENUNCIA “AMEAÇA DE MORTE” CONTRA FLORENTINO MENDES PEREIRA



O Partido de Renovação Social (PRS) denunciou no fim da tarde deste domingo, uma “ameaça de morte” contra o seu Secretário-Geral, Florentino Mendes Pereira.

A alegada “ameaça” foi tornada pública pelos renovadores através de uma conferência de imprensa presenciada pelo presidente do partido, Alberto Nambeia, do próprio secretário-geral do partido, bem como de altos dirigentes da segunda maior força política guineense. Na ocasião, Secretário para informação do PRS, Batista Correia explicou que o suspeito teria telefonado o secretário-geral do partido por volta das zero horas (00h TMG), de sábado para domingo 11 de outubro, e teria dito “vamos degolar-te nesta noite”.

O suspeito, na conversa que terá tido via telemóvel com o secretário-geral, alega que, “Florentino Mendes Pereira é a pessoa que dificulta a negociação com o PAIGC, pelo que irão matá-lo”, contou Batista. Acrescentou, no entanto, que o suspeito neste momento se encontra sob custódia da Polícia Judiciária.

Entretanto, O Democrata apurou neste particular que o suspeito foi detido pelo Serviço de Informação de Estado (SIE) que posteriormente o levou para a Polícia Judiciária.

“O suspeito foi apreendido pelo serviço secreto e foram eles [SIE] acompanhado de alguns dirigentes do PRS que trouxeram o rapaz a Polícia Judiciária”, contou a’O Democrata, uma fonte daquela corporação policial que, entretanto, avançou ainda, que o suspeito se encontra detido numa das celas da PJ, em Bissau.

Assana Sambú - O Democrata

MOSCOVO E WASHINGTON ENTENDEM REFUNDAR AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS



Thierry Meyssan*

Enquanto os média atlantistas estão doentes, atingidos por uma súbita subida de febre anti-Russos, Thierry Meyssan interpreta a acção militar de Moscovo na Síria como o primeiro passo de uma revisão completa das relações internacionais. Segundo ele, o que se joga na Síria não é saber se a Rússia salvará a República Árabe Síria dos jiadistas, mas se o seu exército poderá, parcialmente, substituir o dos Estados Unidos na região afim de aí garantir a segurança. Apoiando-se num documento interno do Conselho de Segurança, ele afirma que Vladimir Putin e Barack Obama agem de forma concertada face aos falcões liberais e aos neo-conservadores norte-americanos.

A Rússia agita-se lentamente nas Nações Unidas. Os seus dirigentes estão convencidos que os grupos terroristas islâmicos foram incentivados pela CIA desde os anos cinquenta, mas que, hoje, eles ameaçam não só a estabilidade da região como também os interesses dos próprios Estados Unidos. Como o havia explicado Vladimir Putin o ano passado, no Clube de Valdaï, é, portanto, preferível trabalhar em conjunto afim de resolver o actual problema.

No entanto, os líderes russos estão igualmente convencidos que Washington só escuta os seus parceiros quando estes são fortes. A Duma debateu, pois, sobre uma intervenção militar contra os grupos terroristas na Síria e deu o seu acordo. Trata-se da segunda intervenção externa da Federação da Rússia desde a sua criação, em 1991 –-a primeira sendo a guerra da Ossétia do Sul, em 2008---. De imediato, o exército russo fez levantar os seus bombardeiros de Lataquia e destruiu instalações da al-Qaida e da Ahrar al-Sham.

A escolha destes alvos visava ao mesmo tempo : 

forçar as outras potências a clarificar a sua política face a estes grupos terroristas ;
 enviar uma mensagem à Turquia, cujos oficiais enquadram actualmente a Ahrar Al-Sham ;
- por fim, mostrar que nenhum grupo terrorista será poupado.

Esta intervenção manifesta a vontade russa de jogar um papel no Médio-Oriente, não contra Estados-Unidos, mas, sim, com eles. Longe de desafiar o Presidente Obama, a Rússia entende, pelo contrário, fornecer-lhe a assistência militar que lhe faz falta, agora que o Pentágono se tornou campo fechado de enfrentamentos internos.

Quem apoia os grupos terroristas ?

Tornou-se comum admitir que os jiadistas na Síria são armados e financiados por potências estrangeiras. No entanto, nenhum Estado assume, publicamente, esse apoio. As reações à operação de polícia russa anti-terrorista na Síria puseram em evidência as contradições de numerosos intervenientes.

Assim, o ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Laurent Fabius, declarou que «Uma coligação [em torno da Rússia] cujas bases. em si mesmas, interditariam toda a união dos Sírios contra os terroristas, alimentaria, na realidade, a propaganda do Daesh e reforçaria o seu poder de atração». Dizendo isto, ele admitiu que o objetivo da França e seus aliados na Síria ---Turquia e Arábia Saudita--- não era de lutar contra o Daesh, mas, antes, contra a visão russa das relações internacionais.

O presidente da Comissão do Senado para as Forças Armadas, John McCain, afirmou que a Ahrar Al-Sham incluía elementos que haviam sido treinados e armados pelos Estados Unidos. Por conseguinte, segundo ele, o ataque russo contra os terroristas é um ataque contra os Estados Unidos. Pela mesma lógica, ele preconizou o fornecimento de mísseis terra-ar aos jiadistas, afim de que eles derrubassem os aviões russos.

Uma mensagem à Turquia

Sabendo que o grupo Ahrar al-Sham, anteriormente patrocinado pelo Koweit, está actualmente sendo financiado, em larga medida, e enquadrado por oficiais do exército turco, estes bombardeamentos enviaram uma advertência ao Presidente Recep Tayyip Erdoğan.

Foi este, primeiro, quem substituiu o príncipe saudita Bandar bin Sultan como coordenador do terrorismo islâmico internacional. Depois, fez da Turquia o refúgio da Irmandade Muçulmana, substituindo o Catar. Em dezembro de 2014, a Turquia assinou um estratégico acordo de gás com a Rússia, que, finalmente, abandonou por pressão norte-americana. Simultaneamente, a Turquia e a Ucrânia criaram uma «Brigada Islâmica Internacional» para combater a «ocupação russa da Crimeia». As relações entre Ancara e Moscovo ficaram, pois, súbitamente crispadas [1].

Aquando de uma visita a Moscovo do Presidente Erdoğan, a 23 de setembro, por ocasião da inauguração da maior mesquita da Europa, o seu homólogo russo tinha conseguido convencê-lo a suavizar a sua retórica contra a República Árabe Síria, mas não a fazê-lo abandonar a sua política de agressão.

De volta ao seu país, Erdogan havia-se limitado a afirmar que a saída do presidente Assad já não era um pré-requisito para a solução da crise síria. Achando este avanço insuficiente a Rússia tinha, então, dado credenciais de confiança ao PKK na luta anti-Daesh, deixando entender que ela poderia apoiar o partido curdo da Turquia contra o seu governo.

Nenhum grupo terrorista será poupado

Ao escolher atingir a al-Qaida e a Ahrar Al-Sham a Rússia mudou o debate, da unanimidade de fachada contra o Daesh para a cacofonia face à al-Qaida. Se toda a gente admite, agora, que a organização fundada por Osama bin Laden é originalmente uma criação dos Estados Unidos, todos acreditam, ou fingem acreditar, que ela se voltou contra o seu criador e lhe infligiu perdas terríveis no 11-de-setembro-2001.

Ora, a al-Qaida foi o aliado da Otan, na Líbia, para derrubar a Jamahiriya e assassinar Muammar el-Kadhadi. Esta realidade foi tão chocante para o general norte-americano Carter Ham, comandante do AfriCom, que ele pediu para ser dispensado de suas funções a favor da Aliança Atlântica.

Na Síria, a França e a Turquia forneceram munições à al-Qaida, por intermédio do Exército Sírio Livre, como o evidencia um documento da ESL revelado, a 14 de julho de 2014, ao Conselho de Segurança das Nações Unidas [2].

E, actualmente, o general David Petraeus, o antigo diretor da CIA, e o seu amigo John McCain apelam ao apoio à al-Qaida contra a República Árabe Síria.

O grupo Ahrar Al-Sham, em si, foi formado precisamente antes do início dos eventos na Síria, em Março de 2011, pelo Irmãos Muçulmanos, dos quais alguns eram quadros da al-Qaida. Aliás, a sua existência demonstra que, ao contrário das declarações do Presidente Hollande, na tribuna da ONU, o terrorismo na Síria existia antes do início da guerra, e não é, pois, a consequência mas, sim, a causa como o afirma o presidente Assad.

Em última análise, quaisquer que sejam as mentiras da Otan, e as contradições que eles engendram nos países de uns e de outros, os russos não vão poupar certos grupos em função dos seus patrocinadores secretos, mas irão, sim, bombardear todos os alvos ligados aos grupos terroristas listados pelas Nações Unidas (al-Qaida, al-Nusra, Daesh).

Quem se opõe activamente à intervenção russa ?

Desde o início da colocação do exército russo — e ainda não foi discutida a vinda de tropas de infantaria da OTSC—, uma vasta campanha de desinformação está lançada a nível mundial para atacar a Rússia 

- de enquadrar o Exército árabe sírio ;
de bombardear, não grupos terroristas mas populações civis «hostis ao regime»;
- de preparar uma vasta ofensiva com os Guardas da Revolução iraniana.

A guerra de propaganda, que foi a base, e a característica, da guerra de quarta geração coordenada pela Otan, a partir de fevereiro de 2011 a março de 2012, tinha progressivamente diminuído. Enquanto, durante um ano, se ouvia todos os dias uma história imaginária ilustrando os supostos crimes do «regime», a propaganda de guerra estava limitada, agora, a alguns pequenos grupos; dos quais o OSDH, um gabinete londrino dos Irmãos Muçulmanos, na qual bebem os média atlantistas. Com reflexo pavloviano, os média atlantistas reproduzem, sem reflexão, as mentiras mais desavergonhadas.

Primeiro, utilizaram um vídeo do Exército Árabe Sírio no qual se ouvem vozes, em russo, para fazer crer que os Sírios eram enquadrados por oficiais russos. Na realidade, a voz corresponde a um diálogo por “walkie-talkie” entre jiadistas. Yuri Artamonov desmontou esta falsa interpretação ao estudar a banda(trilha-br) sonora [3].

Depois, seguiu-se um dilúvio de imagens e de vídeos sobre as vítimas civis de bombardeamentos russos. Imagens e vídeos difundidos durante o debate na Duma, quer dizer, antes mesmo dos bombardeamentos.

Por fim, apresentam imagens da presença de combatentes iranianos na Síria, como a preparação de uma grande contra-ofensiva do «regime» e dos seus aliados contra os «rebeldes». De facto, após a queda de Palmira, Forças iranianas foram autorizadas pelos Estados Unidos a envolverem-se na Síria, mas o seu número permanece abaixo de 5. 000, o que é muito pouco para realizar uma contra-ofensiva num território imenso. Quanto aos rebeldes armados, nós já tínhamos assinalado que eles estão todos ligados seja à al-Qaida, seja ao Daesh.

Resta provar quem organiza esta campanha de intoxicação e por quê. Se não é possível encontrar a solução pensando apenas na Síria, a resposta é clara quando se substitui este teatro de guerra no contexto da refundação das relações internacionais.

A proposta russa no Conselho de Segurança

A Rússia propôs que o Conselho de Segurança estudasse, durante todo o mês de outubro, a maneira de lutar contra o terrorismo, não sómente na Síria mas, também, no conjunto da África do Norte e do Próximo-Oriente [4].

Está claro que Moscovo e Washington concordaram aplicar, agora, o acordo que haviam concluído em 2012 —e que Clinton, Petraeus, Allen, Feltman, Hollande e Fabius têm sabotado—: partilhar responsabilidades no mundo árabe. No entanto, a Rússia não deseja enfiar-se em terrenos de areia movediça e, primeiro, apela à limpeza do terreno.

Recordemos a base deste acordo: os Estados Unidos poderão retirar uma parte das suas tropas estacionadas na região assim que a Rússia se tornar garante da segurança de Israel [5].

A Rússia coloca como condição para esta nova partilha do mundo, a passagem de um sistema imperialista, como o de Ialta, para um sistema baseado no direito internacional, em geral, e na Carta das Nações Unidas em particular. Ela condena, portanto, de antemão «a ingerência nos assuntos internos de Estados soberanos, o recurso à força sem a autorização do Conselho de Segurança e a entrega de armas a actores não estatais, extremistas».

Que ninguém se engane, esta solução supõe a aplicação das resoluções do Conselho de Segurança, aí incluídas as relativas a Israel, a implementação da Iniciativa de Paz Árabe e do Plano de acção global conjunto concernente ao programa nuclear iraniano, a criação de mecanismos de contrôlo do cumprimento pelos Estados do conjunto destes textos, e, finalmente, da luta global contra a ideologia da Irmandade Muçulmana.

A reter : 

- Apesar do pesado contencioso que os opõe,(implementação do escudo anti-míssil, derrube de regime na Ucrânia, tentativa de julgar Vladimir Putin perante um Tribunal Internacional), o Kremlin considera que pode ajudar a administração Obama a constatar a ineficácia da sua política e a retornar ao respeito pelo direito internacional.
- Só com esta condição é que a Rússia está pronta a partilhar a responsabilidade pela segurança da África do Norte e do Médio-Oriente com os Estados Unidos, aí incluindo a segurança de Israel.
- Os bombardeamentos russos na Síria não são dirigidos contra os aliados dos Estados Unidos, mas constituem, sim, uma ajuda militar ao Presidente Obama que, desde há um ano, não é obedecido pela Coligação anti-Daesh.
- A Rússia espera levar os Estados Unidos a uma conferência de paz regional visando aplicar as resoluções do Conselho de Segurança —incluindo aqui a retirada de Israel para as fronteiras de 1967—, a Iniciativa de paz árabe e o Plano de acção global comum relativo ao programa nuclear iraniano.
- Para vencer, definitivamente, o terrorismo islâmico é preciso combater a sua causa principal : a ideologia materialista dos Irmãos Muçulmanos.


Notas
[1] “Em direção ao fim do sistema Erdoğan”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 17 de Junho de 2015. « L’Ukraine et la Turquie créent une Brigade internationale islamique contre la Russie », par Thierry Meyssan, Réseau Voltaire, 12 août 2015.
[2] « Résolution 2165 et débats (aide humanitaire en Syrie) » («Resolução 2165 e discussões—ajuda humanitária na Síria»- ndT), Réseau Voltaire, 14 juillet 2014.
[3] “Are there Russian troops in Syria?” («Existem tropas Russas na Síria»- ndT), Yuri Artamonov, September 5, 2015.
[4] A ler sem falta : « Proposition russe d’un débat au Conseil de sécurité sur le terrorisme » («Proposta russa de um debate no Conselho de Segurança sobre o terrorismo»- ndT), Réseau Voltaire, 1er octobre 2015.
[5] “Obama e Putin vão repartir o Médio Oriente?”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Odnako (Rússia), Rede Voltaire, 22 de Fevereiro de 2013.



*Intelectual francês, presidente-fundador da Rede Voltaire e da conferência Axis for Peace. As suas análises sobre política externa publicam-se na imprensa árabe, latino-americana e russa. Última obra em francês: L’Effroyable imposture: Tome 2, Manipulations et désinformations (ed. JP Bertrand, 2007). Última obra publicada em Castelhano (espanhol): La gran impostura II. Manipulación y desinformación en los medios de comunicación(Monte Ávila Editores, 2008).

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